Qual o tamanho do fantasma? Veja como foram os jogos do Flamengo acima dos 2.500 metros de altitude

Altitude. Esta palavra de oito letras foi o assunto da semana no Flamengo e talvez tenha sido a que os flamenguistas mais ouviram desde o sorteio da fase de grupos da Libertadores. Bogotá (2.640m) e La Paz (3.640m), dois dos locais sempre temidos pelos brasileiros, entraram mais uma vez no roteiro rubro-negro em abril, quando enfrentará o colombiano Millonarios (dia 2) e o boliviano Bolívar (dia 24).

Renato Augusto recebe auxílio de cilindro de oxigênio durante partida em 2007 — Foto: Agência O Globo

Mas qual é o tamanho do fantasma da altitude? Para responder esta pergunta, o ge levantou o retrospecto do Flamengo atuando a partir de 2.500 metros acima do nível do mar. E os números, de fato, justificam a preocupação rubro-negra . Em 14 jogos oficiais no "alto do morro" na América do Sul, o time perdeu metade. Ganhou quatro e empatou três, o que dá um aproveitamento de apenas 35,7% .

Veja como foi cada jogo:

Jorge Wilstermann x Flamengo em 1981 — Foto: Reprodução / O Globo

A primeira vez na altitude não deu para assustar. No dia 13 de outubro de 1981, nos 2.560 metros de Cochabamba, na Bolívia, o Flamengo venceu o Jorge Wilstermann por 2 a 1 no estádio Félix Capriles, pela segunda fase da Libertadores. Aquele timaço de Zico e companhia não repetiu as atuações de gala tão comuns daquela época no nível do mar. "Sem exibir um futebol de alta qualidade", citou a crônica do jornal O Globo do dia seguinte, "mas o suficiente para impôr sua maior categoria durante toda a partida". O Rubro-Negro usou a estratégia de ficar com a bola e ganhou com gols de bola parada: Baroninho abriu o placar cobrando falta, e Adílio fez o segundo de cabeça após escanteio.

Bolívar x Flamengo em 1983 — Foto: Reprodução / O Globo

Já a segunda vez na altitude não foi nada boa. No dia 8 de abril de 1983, o Flamengo subiu até os 3.640 metros de La Paz, na Bolívia, pela fase de grupos da Libertadores, e perdeu por 3 a 1. O jogo ficou marcado por mudanças na escalação do técnico Carlinhos, que barrou Marinho e Robertinho e escalou o apoiador Vitor "totalmente sem condições", citou o jornal O Globo do dia seguinte, "pois esse jogador foi quem mais sentiu os efeitos da altitude e passou mal durante todo o dia em La Paz". Os bolivianos fizeram dois gols de escanteio e outro em chute de fora da área. "Todos os jogadores sentiam nitidamente os efeitos da altitude", completou o jornal. Edson descontou no fim para os rubro-negros.

No dia 14 de fevereiro de 2007, o Flamengo subiu o mais alto do morro que já precisou: foi até os 4.090 metros de Potosí, na Bolívia, para enfrentar o Real Potosí pela fase de grupos da Libertadores. E ainda com chuva e um frio de 3°C. Tomou 2 a 0 ainda no primeiro tempo, mas reagiu na base da bola parada, com dois gols de cabeça de Roni e Obina, que estava impedido e o bandeira não viu. Os bolivianos pressionaram e tiveram várias chances, mas o jogo, marcado até hoje pela cenas dos jogadores usando cilindros de oxigênio à beira do campo no segundo tempo. terminou em um empate heroico rubro-negro.

Cienciano x Flamengo na Libertadores de 2008 — Foto: Reprodução / O Globo

No dia 9 de abril de 2008, o Flamengo voltava a subir o morro, mas desta vez no Peru. O time foi até os 3.360 metros de Cusco para enfrentar o Cienciano no estádio Garcilaso de la Vega, pela fase de grupos da Libertadores. Com uma temperatura de 9°C, o time suportou bem o primeiro tempo, e na volta do intervalo abriu o placar com Renato Augusto. Quando os peruanos começaram a pressionar, Bazalar foi expulso. E mesmo na altitude a desvantagem numérica pesa. O Rubro-Negro se aproveitou e matou o jogo com Toró e Juan cobrando falta no fim. "Apesar da falta de oxigênio, o Flamengo respirou aliviado", citou o jornal O Globo do dia seguinte.

No dia 25 de janeiro de 2012, o Flamengo teve que reviver o drama dos 4.090 metros de Potosí, na Bolívia, para uma revanche do Real Potosí, desta vez pela pré-Libertadores. O time liderado por Ronaldinho Gaúcho até começou melhor e abriu o placar com Luiz Antonio, após jogadaça de Léo Moura. Mas os bolivianos logo empataram e depois viraram no segundo tempo, com dois gols de cabeça. A derrota obrigou o Rubro-Negro a vencer o jogo da volta para se classificar.

Bolívar x Flamengo na Libertadores de 2014 — Foto: Reprodução / O Globo

No dia 19 de março de 2014, o Flamengo voltou aos 3.640 metros de La Paz, na Bolívia, para novo duelo com o Bolívar no estádio Hernando Siles, pela fase de grupos da Libertadores. Só que o final foi igual da outra vez: derrota. Com só três minutos de jogo, Samir escorregou na frente do atacante Ferreira e fez pênalti que foi convertido por Arce. Foi um balde de água fria na estratégia de dosar as energias, forçando o Rubro-Negro a se arriscar mais, e o goleiro Felipe precisou salvar em alguns contra-ataques. "Faltou ar e faltou sorte", disse a crônica do jornal O Globo no dia seguinte.

O primeiro e único jogo oficial do Flamengo nos 2.640 metros de Bogotá, cidade onde irá enfrentar o Millonarios, foi no dia 25 de abril de 2018. Na época, o time empatou sem gols com o Santa Fé no El Campín, pela fase de grupos da Libertadores. Foi um jogo de pouca inspiração e de erros graves da arbitragem, que não marcou um pênalti claro para os colombianos e apitou o fim do primeiro tempo no momento que iria sair um gol rubro-negro.

Depois de Potosí, o local mais alto que o Flamengo jogou foi nos 3.700 metros de Oruro, na Bolívia. Foi no dia 5 de março de 2019, quando o time dirigido por Abel Braga venceu o San José por 1 a 0 no estádio Jesús Bermúdez, gol de Gabigol, na estreia rubro-negra na fase de grupos da Libertadores. Mas tomou sufoco o jogo inteiro dos bolivianos e contou com uma exibição de gala de Diego Alves. Alguns jogadores precisaram usar cilindros de oxigênio no vestiário.

No mesmo ano, só que em 24 de abril, o Flamengo voltou a jogar na altitude e enfrentou a LDU nos 2.850 metros de Quito, no Equador. O jogo também era pela fase de grupos da Libertadores, e o Rubro-Negro precisava só de um empate no estádio Casablanca para garantir a classificação antecipada. O time ainda saiu na frente com Bruno Henrique logo nos primeiros minutos, mas os equatorianos empataram nos acréscimos e viraram no segundo tempo.

O único jogo do técnico e ídolo do Flamengo Jorge Jesus na altitude foi no dia 19 de fevereiro de 2020, e até aquele timaço dirigido pelo português sofreu nos 2.850 metros de Quito. Na partida de ida da Recopa Sul-Americana, o Rubro-Negro viu o Independiente del Valle sair na frente do placar no estádio Atahualpa. Bruno Henrique e Pedro viraram o jogo, mas os equatorianos arrancaram o empate nos minutos finais e ainda quase venceram. O 2 a 2 obrigou o Fla a ganhar o duelo da volta no Rio.

No mesmo ano, no dia 17 de setembro, o Flamengo voltou aos 2.850 metros de Quito para a revanche do Independiente del Valle, desta vez pela fase de grupos da Libertadores e no estádio Casablanca. Já sob o comando de Domènec Torrent, o Rubro-Negro teve péssima atuação e foi goleado por 5 a 0 na maior derrota da história do clube na competição. "O ar rarefeito não ajudou, mas o plano de jogo para lidar com o tema jamais funcionou", citou a crônica do jornal O Globo no dia seguinte.

LDU x Flamengo na Libertadores de 2021 — Foto: Reprodução / O Globo

A última alegria do Flamengo na altitude foi há três anos: no dia 4 de maio de 2021, o time dirigido por Rogério Ceni teve a sua revanche contra a LDU e venceu por 3 a 2 no estádio Casablanca, em partida da fase de gripos da Libertadores. Porém, mesmo assim foi sofrido: após um primeiro tempo de almanaque, onde abriu 2 a 0 com Gabigol e Bruno Henrique, o Rubro-Negro sofreu um apagão na etapa final e tomou dois gols de bola aérea. Mas Gabigol converteu o pênalti sofrido por Arrascaeta no fim e garantiu a vitória suada nos 2.850 metros de Quito.

No dia 21 de fevereiro do ano passado, o Flamengo voltou aos 2.850 metros de Quito para um reencontro com o Independiente del Valle, novamente pela Recopa Sul-Americana. Jogando no estádio Banco Guayaquil, o time dirigido desta vez por Vítor Pereira não foi goleado, mas tomou sufoco: os equatorianos finalizaram três vezes mais e venceram com gol de Carabajal no segundo tempo, resultado que obrigava o Rubro-Negro a ganhar por dois gols de diferença a partida de volta no Rio.

Ainda no ano passado, lá foi o Flamengo de novo para Quito. No dia 5 de abril, o Rubro-Negro estreou na fase de grupos da Libertadores contra o modesto Aucas, que disputava pela primeira vez o torneio, no estádio Chillogallo. Por causa do Fla-Flu da final do Carioca na mesma semana, Vítor Pereira poupou jogadores nos 2.850 metros de altitude e até viu seu time sair na frente com Matheus França, mas tomou a virada na pressão dos equatorianos no segundo tempo.

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Fonte: Globo Esporte