A altitude não é a única ameaça que o Flamengo terá contra o Bolívar nesta quinta-feira, pelo jogo de volta das oitavas de final da Conmebol Libertadores. O time comandado por Tite precisará tomar cuidado especialmente com as bolas aéreas dos donos da casa por motivos que se complementam.
Por mais que tenha sofrido apenas um gol no Campeonato Carioca e chamado a atenção pela eficiência defensiva no início da temporada, o Flamengo não manteve esse número nem perto durante as demais competições do ano. No Brasileirão, por exemplo, tem a oitava melhor defesa (com apenas dois times tendo menos jogos).
Desde a vitória por 2 a 1 em cima do Criciúma na 18ª rodada do Brasileiro, a equipe carioca desandou a sofrer gols de bolas aéreas. Contando com o gol marcado por Rodrigo (após falta levantada por Trauco, aquele), foram oito dos últimos nove. O único a não ser a partir de uma jogada pelo alto foi o terceiro do Botafogo na goleada do último domingo. E isso é um perigo porque...
O estádio Hernando Siles está entre os de maior altitude em todo o mundo. O ar rarefeito dos 3.600 metros acima do nível do mar torna a respiração mais difícil, mas também afeta a velocidade com que a bola rola (ou voa), quando se comparado com o que acontece no Brasil. Sabendo disso, o Bolívar tira proveito.
Não à toa, as jogadas aéreas são maioria nos gols marcados pela equipe boliviana em partidas contra brasileiros e também nos jogos em casa da Libertadores. Nesta edição da competição, por exemplo, cinco dos oito gols marcados pelo Bolívar no Hernando Siles (62,5%) foram a partir de lances pelo alto. Inclusive um contra o Flamengo na vitória por 2 a 1.
Mas essa não é uma estratégia do Bolívar de 2024. Historicamente, os bolivianos se valem do costume com a velocidade da bola causada pelo ar rarefeito para ter vantagem na capital. Dos nove gols marcados contra brasileiros desde 2020, seis foram em jogadas com escanteio, cruzamento ou lançamento. O equivalente a 66,67%. Na verdade, de 2020 para cá, os bolivianos nunca marcaram um gol sequer em solo brasileiro.
Além do que dizem os números, também é interessante ouvir o que falam quem jogou na Bolívia. Comentaristas do Grupo Globo que já estiveram no Hernando Siles, Alex Meschini e Grafite dão o caminho das pedras e explicam o que o Flamengo pode fazer para ter uma noite um pouco menos aflitiva em La Paz.
Alex:
- Um dos maiores problemas da altitude é a relação com a bola. A parte física você sente, mas a adaptação com a velocidade da bola é o que causa essa dificuldade, principalmente em bolas aéreas e chutes a gol. Por mais bem posicionado que você esteja, a velocidade da bola dificulta de chegar. Por isso quem já viveu experiências consegue se adaptar um pouco mais rápido. É algo que o Flamengo vai ter que tomar cuidado e vai ter problemas. Você faz até um aquecimento com bola diferente, com passes mais longos e um pouco maior para você tentar essa adaptação com a bola.
Grafite:
- O Flamengo tem que ter uma atenção muito especial na bola parada. Ela faz diferença na altitude, já que a bola é um pouco mais rápida e tem velocidade diferente. Os jogadores do Bolívar já estão acostumados com isso. Mas o Flamengo já jogou outras vezes na altitude, também. É ter atenção especial, marcação homem a homem, saber sempre onde está o adversário e não deixar ele subir sozinho para cabecear. E tentar fazer um bom ataque aéreo quando for para o setor ofensivo.
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Davi Barros, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, João Guerra, Leandro Silva, Roberto Maleson, Roberto Teixeira, Valmir Storti e Zé Victor Meirinho.