Patrocínio "empenhado", saída de Love, ingressos salgados... Série mostra a reconstrução do Flamengo

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— Quatro meses sem receber e tem gente abanando notas de R$ 1. Se abanar na minha frente eu pego (risos).

A frase acima é de uma entrevista de Vampeta, também dono da famosa declaração "eles fingem que me pagam e eu finjo que jogo".

De um clube atolado em dívidas e que brigava para escapar do rebaixamento para o mais rico do Brasil e multicampeão nos últimos anos. Nesta quarta-feira, estreia a série "A Reinvenção do Flamengo ", coprodução do sportv com a Beyond Films, que conta o processo de reconstrução do Rubro-Negro desde o início (veja o trailer no vídeo acima) .

— Acho que todo rubro-negro passou por essa situação (sentir vergonha do clube) — afirmou o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello.

Serão quatro episódios diários, começando nesta quarta-feira logo após o jogo Bangu x Flamengo , às 19h (de Brasília), e terminando na noite de sábado. A série também dá grande destaque ao racha político que aconteceu na famosa "Chapa Azul", apoiada pelo ídolo Zico e que ganhou a eleição do clube no fim de 2012.

Contratada naquela época, a consultoria internacional da Ernst & Young revelou que a dívida do Flamengo estava em R$ 750,7 milhões. Quase quatro vezes mais do que a receita do clube na época, que era de R$ 198 milhões.

Jogadores do Flamengo posam com as camisas da Adidas em 2013 — Foto: Marcelo de Jesus

Entre as curiosidades do início da reconstrução está o "empenho" do contrato com a Adidas, que passava a ser a nova fornecedora de material esportivo do clube, para pagar parte da dívida e tirar as Certidões Negativas de Débito. O patrocínio foi negociado ainda na gestão da presidente Patrícia Amorim, mas a empresa alemã esperou a eleição para assinar. De cara, previa cerca de R$ 6 milhões de luvas.

— Fizemos uma reunião na Procuradoria da Fazenda Nacional, eu cheguei para o Procurador Geral e falei: "O senhor pode ficar tranquilo porque a partir de agora está lidando com pessoas sérias. Semana que vem vai entrar um dinheiro no Flamengo , nosso contrato da Adidas, e esse dinheiro não vai nem esquentar no nosso caixa, vai vir todo para cá".

Outro episódio mostrado na série é o famoso "Império do Amor", que se desfez no meio de 2010, com as saídas de Adriano e Vagner Love - mas o Artilheiro do Amor voltou ao clube em 2012. Ao todo, foram 81 jogos e 47 gols (média superior de um gol a cada duas partidas).

Vagner Love em ação pelo Flamengo — Foto: Reprodução

Love passou a ser a referência daquela equipe após a saída de Ronaldinho Gaúcho no meio de 2012. O atacante havia sido comprado junto ao CSKA (Rússia) por 10 milhões de euros (R$ 22,8 milhões na cotação da época). No fim daquele ano, o Rubro-Negro ainda devia cerca de R$ 16 milhões ao clube russo, que propôs o perdão da dívida para ter o jogador de volta.

— Foi muito difícil, tivemos tomadas de decisões importantes. Tivemos que abrir mão de jogadores importantes. Muitas vezes a gente foi incompreendido naquele primeiro momento pelo torcedor — lembrou Paulo Pelaipe, ex-diretor executivo de futebol naquele ano.

Além disso, também foram dispensados 20 judocas e oito ginastas, entre eles os "medalhões" irmãos Diego e Daniele Hypólito.

Outra medida impopular foi o aumento no preço dos ingressos, principalmente nos grandes jogos. Na final da Copa do Brasil de 2013, por exemplo, o valor foi entre R$ 250 e R$ 800, o que gerou uma renda de R$ 9,7 milhões, a maior do Brasil na época.

— Aquela final no Maracanã nós praticamos um preço bem salgado, pediram até a minha prisão na época por causa disso, mas era necessário. Foi o que permitiu o Flamengo pagar o 13º salário — disse Bandeira.

Torcida do Flamengo no Maracanã — Foto: Alexandre Durão

Premiações e bilheterias na reta final da competição renderam mais de R$ 20 milhões, e o título daquela Copa do Brasil em cima do Athletico-PR pavimentou o caminho a ser seguido, ainda em meio a dificuldades.

— Em 2013 a gente não tinha esse campo de visão da onde poderia chegar, ainda que nós fôssemos ousados e otimistas. Mas era muito assim: vendia-se o almoço para se pagar o jantar — contou Luiz Eduardo Baptista, o Bap, ex-vice de marketing e atual presidente do clube.

Mas aquele grupo que iniciou a reconstrução do clube começou a se dividir em 2015, no fim do primeiro mandato do Bandeira, que tinha sido o último a chegar à "Chapa Azul" por indicação de Wallim Vasconcellos porque os demais não poderiam concorrer à eleição presidencial por não terem o tempo de vida associativa necessário pelo Estatuto.

— Eu falei: "Wallim, ele (Bandeira) vai aceitar ser uma rainha da Inglaterra da gente? Vai aceitar estar com a gente no processo e entender que somos 6 ou 7 pessoas que vamos comandar o clube e ele vai ser um desses votos, mas que o voto dele não é prevalente sobre os demais?" — lembrou Bap.

O grupo que inicialmente era contra a reeleição se desfez. Wallim Vasconcellos concorreu à presidência em 2015, mas perdeu para Bandeira, que foi reeleito. Em 2018, o candidato apoiado pela situação foi Ricardo Lomba, mas a oposição encabeçada por Rodolfo Landim e os antigos membros da "Chapa Azul" venceu nas urnas. Após o primeiro mandato, nova ruptura: Bap passou a presidir o Conselho e Administração e construiu alianças que o levaram a ganhar o último pleito, em dezembro.

— O racha sempre vai ser uma coisa ruim, já que ali existia um grupo de pessoas que pensavam do mesmo jeito, tinham os mesmos objetivos e acreditavam que aquilo era possível. Mas olhando hoje para trás, eu acho que acabou sendo importante, porque você tem uma gestão que substitui o Bandeira, agora tem uma gestão Bap que a gente ainda não tem muito referencial... Mas acho que essa alternância no poder é saudável, inclusive para a democracia. E todos eles são caras muito envolvidos no Flamengo , cada um tem um estilo diferente de trabalhar — contou o jornalista Marcelo Pizzi, produtor da série.

Além de ex-presidentes, a série também entrevista ídolos como Zico, Júnior, Bruno Henrique e Gerson; e jornalistas como Eric Faria, Paulo Vinícius Coelho, Carlos Eduardo Mansur e Rodrigo Capelo. A produção ainda aborda o incêndio no Ninho do Urubu em 2019, considerado como a maior tragédia em 129 anos do Flamengo , e como o clube lidou com o caso, que segue sem um desfecho até hoje.

Assista: tudo sobre o Flamengo no ge, na Globo e no sportv

Fonte: Globo Esporte