Para evitar transtornos na Ilha, moradores dão sugestões aos órgãos públicos e ao Flamengo

Quarta-feira à noite, jogo de Libertadores, adversário argentino e uma massa de rubro-negros. Cenário de terror para muitos insulanos, que moram perto do Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, que vai receber a estreia do Flamengo contra o San Lorenzo na competição, no dia 8 de março. E outros tantos jogos do time nos próximos três anos.

Desde a confirmação da nova casa rubro-negra, moradores já tentaram abaixo-assinado, sem sucesso. Agora, formaram uma comissão e buscam soluções junto aos órgãos públicos e ao próprio clube, que é responsável apenas pelo ocorrido dentro do estádio. As sugestões são para evitar os transtornos comuns em dias de jogo do Botafogo, ano passado, e partidas dos grandes do Rio em épocas anteriores. Tudo para não passarem por ameaças de flanelinhas na porta de casa, spray de pimenta na sala do apartamento ou ambulâncias em emergência presas no trânsito.

— Ano passado, uma moradora precisou ser atendida por um ambulância do Samu, que não conseguia sair pelo portão principal porque a rua estava tomada e o trânsito parado — conta Walter Caires Júnior, administrador do Condomínio Santos Dumont.

Os órgãos públicos, responsáveis pelo ordenamento e segurança, estão cientes dos problemas. A CET-Rio afirmou que está trabalhando para diminuir o impacto no trânsito local e divulgará o planejamento em breve. O Grupamento Especial de Policiamento de Estádios (Gepe) espera as reformas do estádio ficarem prontas para realizar a vistoria antes de liberar o laudo de segurança.

— O local é bem parecido com outros estádios que ficam próximos a áreas residenciais, como o Engenhão. O maior problema é a entrada das torcidas por causa do trânsito — explica o major Silvio Luiz, comandante do Gepe.

INSEGURANÇA É ALGO RECORRENTE

Uma das vozes contra a realização dos jogos do Flamengo no Luso-Brasileiro, o síndico do Condomínio Santos Dumont, Tito Gomes, liderou o abaixo-assinado. Ele destaca que, no local, cujas ruas internas não podem ser totalmente fechadas, vivem mais de cinco mil moradores, que já passaram por invasões, baderna, tiros e prejuízos. Agora, espera, ao menos, ser ouvido, pois quando o Botafogo alugou o estádio ano passado, não houve nenhum contato do clube ou dos órgãos competentes.

— Não é adequado ter jogo aqui. São muitas reclamações dos moradores e queremos nos resguardar caso alguma coisa aconteça — disse Tito, recordando as péssimas lembranças: — Em 2005, quando o Flamengo enfrentou o Santos, pelo Brasileiro, um torcedor tentou sacar a arma de um PM e acabou sendo morto. Alguns torcedores invadiram as ruas do condomínio e quebraram grades, carro e bancos de praça. Ano passado, no Botafogo e Grêmio, a PM usou spray de pimenta para dispersar confusão e a fumaça alcançou vários apartamentos.

Fora a insegurança, ele aponta o caos gerado pelo excesso de carros: trânsito intenso, pois as ruas são estreitas — há apenas uma única entrada e saída da Ilha — e o excesso de flanelinhas, que ameaçam os moradores.

JOGOS 'AO VIVO' DA JANELA DE CASA

Apesar da desordem urbana evidente, há quem goste do ambiente mais movimentado proporcionado pelas partidas dos grandes clubes do Rio. Seja por questões econômicas ou só por diversão. O ambulante Danilo Gomes, de 34 anos, torce pelo Botafogo, mas comemora a vinda do Flamengo. Ele espera vender bem mais a velha dupla caldo de cana com pastel em frente à entrada social do clube.

— Sou botafoguense, mas com o Flamengo sei que vou ter mais dinheiro — brinca o ambulante de Realengo.

Moradores de condomínios bem próximos ao estádio, a dona de casa Rosa Carvalho, de 66 anos, e o professor Claudio Farinha, de 50, destoam da opinião dos vizinhos.

—- Sou Botafogo, e, ano passado, colocava minha bandeira na janela todos os jogos aqui. Nunca tive problemas. Agora, não vou torcer mais, mas gosto da animação — conta Rosa, que só reclamou de um evento de motocross no clube nos anos 90: — O barulho e a poeira eram insuportáveis. Reclamamos e o Ministério Público proibiu.

—- É como se estivesse vendo o jogo ao vivo. Escuto o gol primeiro do que na rádio. Gosto do movimento e isso não tira minha privacidade. Admito que a entrada e a saída da Ilha do Governador ficam muito prejudicadas por causa do trânsito — diz Claudio Farinha.

Fonte: O Globo