Organizada do Flamengo recebe homenagem por ter sido pioneira no combate ao discurso LGBTfóbico nos estádios

Uma das maiores torcidas organizadas do Flamengo, a Nação 12, foi homenageada na última terça-feira pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por ter abolido cantos LGBTfóbicos de seu repertório nos estádios. Já faz cinco anos que a agremiação não entoa músicas com termos discriminatórios, sendo considerada a primeira do sudeste a tomar esta medida.

A Moção de Congratulações e Aplausos da Alerj foi promovida pelos deputados André Ceciliano (PT), Carlos Minc (PSB) e a deputada Zeidan (PT). Outras 24 torcidas organizadas do América-RJ, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco também foram homenageadas por ações suas ações de contribuição social à sociedade. O evento também marcou a posse do novo presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), Luiz Cláudio, conhecido Claudinho.

Na homenagem à Nação 12, os parlamentares destacaram:

"Não se trata de querer um futebol "chato". Há entendimento de que futebol tem que ter clubismo, rivalidade, cobrança por vibração dos jogadores, que entrem firme nas divididas e que a torcida siga promovendo provocações às torcidas adversárias, desde que não haja preconceito de nenhuma natureza" .

Torcida Nação 12, no Maracanã, aboliu cantos LGBTfóbicos desde 2017 — Foto: Divulgação / Lucas Silvestre
1 de 4 Torcida Nação 12, no Maracanã, aboliu cantos LGBTfóbicos desde 2017 — Foto: Divulgação / Lucas Silvestre

Torcida Nação 12, no Maracanã, aboliu cantos LGBTfóbicos desde 2017 — Foto: Divulgação / Lucas Silvestre

A decisão de abolir os cânticos ocorreu no dia 28 de junho de 2017, dia em que se comemora o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Na ocasião, a Nação 12 publicou um manifesto em suas redes sociais informando que seus membros não mais cantariam a música "Vou descontrolado" que continha um trecho homofóbico direcionado a torcedores do Fluminense.

"Informamos que 'penduramos' a música que tem o verso com teor homofóbico ao qual nos referimos a um de nossos rivais e pretendemos voltar a cantá-la assim que encontrarmos uma solução para esse trecho" , escreveu a organizada na sua página no Facebook, à época.

"Entendemos que, para zoarmos e diminuirmos nossos rivais, temos n motivos. Como no caso do clube das Laranjeiras, em que podemos citar a ida à Série C, seus quatro rebaixamentos, sua dívida de Série B, terem um presidente do CRF na sua ata de fundação, dentre outros motivos, sem precisar apelar" , continuaram. (veja a íntegra da manifestação abaixo).

Homenagem da Alerj à Nação 12, torcida do Flamengo, por proibição a músicas com teor ofensivo a LGBTs — Foto: Arquivo Pessoal
2 de 4 Homenagem da Alerj à Nação 12, torcida do Flamengo, por proibição a músicas com teor ofensivo a LGBTs — Foto: Arquivo Pessoal

Homenagem da Alerj à Nação 12, torcida do Flamengo, por proibição a músicas com teor ofensivo a LGBTs — Foto: Arquivo Pessoal

A Nação 12 foi fundada em 2009 e entre as canções criadas pelo grupo está uma das mais cantadas pela torcida, a música "Em dezembro de 81". Oito anos depois da fundação, seus membros decidiram abolir os cantos ofensivos. Antes dela, outra torcida já havia abolido menções homofóbicas de suas músicas, a Banda Alma Celeste, do Paysandu. E posteriormente, outras organizadas surgiram já com esta preocupação.

Vale lembrar que a primeira torcida do país sensível à causa LGBTQIA+ é a Coligay, fundada em 1977 por torcedores do Grêmio e que encerrou suas atividades nos estádios em meados da década de 80.

Integrante da Nação 12 no Maracanã, Amanda Vieira Vitória Marques, conhecida como Amandinha — Foto: Divulgação
3 de 4 Integrante da Nação 12 no Maracanã, Amanda Vieira Vitória Marques, conhecida como Amandinha — Foto: Divulgação

Integrante da Nação 12 no Maracanã, Amanda Vieira Vitória Marques, conhecida como Amandinha — Foto: Divulgação

Leia abaixo o comunicado da Nação 12 em 2017:

"Como é sabido por todos, o futebol historicamente é um esporte protagonizado por homens, isso implica diretamente na complexidade que tem a configuração das arquibancadas outrora populares.

Também é amplamente reconhecido por nós que o futebol reflete as contradições e momentos por onde a sociedade caminha e se constrói. Nos marcos do que foi a questão LGBT e a homossexualidade para nossa sociedade como um todo e os organismos internacionais, o futebol e as arquibancadas refletiam esta "cultura". Apenas em 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças. 1990 foi ontem.

Cabe ao futebol e às torcidas, repaginarem suas práticas e entenderem os momentos em que a sociedade avança para o respeito à diversidade, da liberdade de cada um e da não exclusão dessa parcela da sociedade em ambientes que ela está presente, mas é invisibilizada, impedida de demonstrar sua essência e identidade.

Muitos hoje - em nossa ótica equivocados - avaliam a pauta anti-futebol moderno como algo saudosista que acha simplesmente ser interessante retornar às estruturas e coisas que reproduzimos num passado/presente. Caracterizando pelas nossas mãos: o "futebol moderno" é um fenômeno que transformou uma paixão em um simples negócio que descaracteriza histórias e culturas. Sendo assim, não nos é coerente achar que ser anti-futebol moderno é uma questão de reivindicar o passado e suas diversas barbaridades, mas sim reivindicar as bases populares em que se ergueu o futebol.

Dessa forma, informamos que "penduramos" a música que tem o verso com teor homofóbico ao qual nos referimos a um de nossos rivais e pretendemos voltar a cantá-la assim que encontrarmos uma solução para esse trecho. Entendemos que, para zoarmos e diminuirmos nossos rivais, temos n motivos. Como no caso do clube das Laranjeiras, em que podemos citar a ida à Série C, seus quatro rebaixamentos, sua dívida de Série B, terem um presidente do CRF na sua ata de fundação, dentre outros motivos, sem precisar apelar.

Embora no texto a torcida tenha dito que poderia voltar a cantar a música, encontrando uma solução para o trecho homofóbico, ela não voltou a ser cantada, por temor de que mesmo com novo texto, algum integrante continuasse a cantar a versão antiga.

Organizadas recebem homenagem na Alerj — Foto: Divulgação / Alerj
4 de 4 Organizadas recebem homenagem na Alerj — Foto: Divulgação / Alerj

Organizadas recebem homenagem na Alerj — Foto: Divulgação / Alerj

Fonte: Globo Esporte