A reação assustada ao desempenho dos clubes brasileiros na rodada de estreia da Copa Libertadores se tornou um evento anual. Rafa Oliveira, comentarista de elite, explicou no ex-Twitter (atual X) como o coquetel que mistura os defeitos do calendário do futebol brasileiro, o nível dos times do país e o regulamento do torneio prepara uma primeira rodada em que não vencer é o resultado esperado. Resumindo: favoritos, times do pote 1 do sorteio estreiam obrigatoriamente fora de casa e poupam jogadores por causa das decisões dos campeonatos estaduais. O Rafa buscou os resultados das edições anteriores (você pode fazer o mesmo) e o que apareceu é o que se chama por aí de trend . É melhor se acostumar.

Isto significa que se deve considerar normal um desempenho de uma vitória – Atlético-MG , na Venezuela – em sete encontros? Lembrando que análise não é justificativa, depende. Em especial, da disposição de cada um para compreender a opção por priorizar, ainda que seja por apenas uma rodada, o que vale pouco diante do que vale muito. Apontar o conflito Estadual x Libertadores é convidativo, principalmente para quem não precisa lidar com as repercussões, mas termina por ser uma leitura exageradamente alarmista, pois se trata da final do estadual versus a primeira rodada da Copa Libertadores. Uma taça versus um resultado que, os números mostram, se dilui na fase de grupos.

Há quem faça uma distinção baseada no adversário da decisão. Se é um rival histórico, como nos casos presentes do Palmeiras e do Atlético Mineiro, a estratégia se explica. Se não é, Palmeiras no ano passado e Grêmio agora, não faz sentido. Ora, perder uma final para um oponente clássico pode doer, e dói, mas é uma ocorrência frequente e aceitável do ponto de vista histórico. Perder para quem não é do seu tamanho é muito mais difícil de explicar. Abel Ferreira não quis correr esse risco em 2023, Renato Portaluppi não quer correr em 2024. E mesmo que a coisa pareça resolvida pelo Flamengo já no primeiro jogo contra o Nova Iguaçu, Tite – você pode não apreciar os métodos, mas tem a obrigação de conhecê-los – também não.

O problema que se deve discutir, por mais cansativo e, aparentemente, inútil que seja, é a programação de competições do futebol no Brasil, onde os cartórios estaduais falam mais alto do que a Conmebol e a Fifa. Uma das inúmeras evidências da duração exagerada dos estaduais é a primeira rodada dos torneios sul-americanos estar entre os dois jogos das finais, como se fosse um inconveniente, obrigando técnicos a fazer o que não querem. A data-Fifa de março, conhecida pelo mundo do futebol desde o século passado, deveria ser o prazo para o encerramento dos estaduais, mas se trata de um país em que o campeonato nacional começa depois das copas continentais, de modo que é inviável estabelecer uma conversa racional.

Enquanto isso, talvez seja recomendável modular o nível de tensão e esperar a qualidade dos times brasileiros se apresentar naturalmente na fase de grupos e na sequência da Libertadores. O Rafa lembrou o que aconteceu desde 2021, em que a imagem ruim deixada na rodada de estreia não impediu a chegada de três representantes do país nas semifinais, produzindo três troféus.