Desde a final da Copa das Confederações, pouco mais de dez anos atrás, um time dirigido por Luiz Felipe Scolari não conquistava um resultado tão significativo no Maracanã. Naquela noite, o placar que a seleção brasileira impôs à Espanha foi o mesmo 3 x 0 com que o Atlético Mineiro deu sequência à melhor campanha do segundo turno do Campeonato Brasileiro , com Hulk, em ambas as ocasiões, servindo o primeiro gol com um passe de pé esquerdo pelo alto.

As coincidências se encerram aí, porque enquanto o jogo de junho de 2013 valia troféu, o encontro dessa quarta-feira (29) era uma condição para seguir sonhando com uma conquista improvável num campeonato reaberto, em seu trecho final, pelo maior colapso da história do futebol no Brasil, evento que redefine a ideia de que o Botafogo é um clube singular quando o assunto é autoflagelação. O Atlético muito provavelmente não será o campeão, mas ofereceu a seu torcedor uma vitória duplamente saborosa, por garantir que o Flamengo , rival histórico, terá o mesmo destino.

O clássico no Maracanã viu o que se pode descrever como padrão-ouro do futebol de Scolari, um treinador cujos bons times normalmente vencem com uma combinação de defesa sólida e eficiência ofensiva, mas que, por vezes, ‘exageram’ na generosidade em gols. Nestes casos, o resultado mais largo é produto da execução impecável de uma das abordagens mais utilizadas no jogo: sair na frente para moldar a dinâmica da partida; explorar o espaço cedido por um oponente ansioso; fechar a atuação com um ponto de exclamação. Se cada etapa idealmente corresponde a um gol, a conclusão é que a exibição atleticana teve tudo o que seu técnico programou e nada do que ele pretendia evitar.

Teve também o comovente reencontro de Scolari e Tite, marcado por um longo e carinhoso abraço, palavras sinceras e sorrisos que prometem sepultar um afastamento que durou muito mais do que deveria. Ali, à frente do banco dos visitantes, dois homens do futebol, com cinco Copas do mundo nas costas, trataram-se como pessoas que simplesmente não precisam lidar com as intrigas e os envenenamentos, porque a única coisa que não volta na vida é o tempo. Um aplauso a Tite pela iniciativa de se dirigir a quem ele sempre enxergou com admiração, e a Scolari, pela maneira como recebeu o colega.

O Flamengo se apresentava - ou ameaçava se apresentar - como o time mais quente da reta decisiva, mas a noite evidenciou que essa posição pertence ao Atlético, que joga com mais clareza e recebe um rendimento mais regular de seus jogadores com potencial decisivo. Se é natural lamentar que o campeonato só tem mais duas rodadas, não se pode esquecer a longa sequência sem vitórias que marcou o início do trabalho da atual comissão técnica. Ao comentar a temporada sob a ótica do desempenho dos treinadores, Scolari concluiu uma noite completa, elogiando a trajetória de Pedro Caixinha no Red Bull Bragantino, mas prevendo que as honras descansarão, uma vez mais, nas mãos de Abel Ferreira.