Escrevo esta coluna impactado pela movimentação dos torcedores do Flamengo para o Intercontinental de Clubes Sub-20. Não pude ir ao Maracanã, mas estive perto do estádio pouco antes da decisão contra o Olympiacos. Famílias de vermelho e preto, bares cheios, flanelinhas se atirando na frente dos carros — era dia de jogo grande. Claro que parte desse fenômeno se deve ao tamanho e à paixão da torcida rubro-negra, que se estende não só a outras faixas etárias mas também a outras modalidades (basquete masculino e vôlei feminino fizeram o Maracanãzinho lotar nesta temporada). Mas fiquei pensando se aquelas 31 mil pessoas não queriam desfrutar também da possibilidade de ver um confronto entre brasileiros e europeus com as condições de igualdade minimamente preservadas pelo limite de idade.
O bom time do Olympiakos tinha muitos jogadores gregos em campo. Não era, como costuma acontecer na categoria principal, um elenco formado à custa do poderio financeiro. E o Flamengo, embora continue sofrendo com as leis do mercado internacional e se veja forçado a vender suas revelações cada vez mais cedo, ainda consegue reunir talento suficiente para montar uma equipe competitiva. O título inédito para o futebol brasileiro veio de virada, depois de boas mexidas do técnico Filipe Luís — o que certamente vai aumentar a pressão por uma promoção, mas esse é outro assunto.
Aqui, quero tratar de algo que apareceu nas entrevistas de Matheus Gonçalves a meus colegas Fábio Juppa e Bruno Côrtes, depois da partida. Aos prantos, o jogador, que ainda busca seu espaço entre os profissionais, fez um desabafo, contrapondo as críticas que recebe aos sacrifícios que precisou fazer, desde muito cedo, para seguir a carreira — entre eles, o de não conseguir se despedir do avô, que perdeu em meio a uma sequência pesada de treinos e jogos. Não é a primeira vez que a gente ouve algo assim; mas é sempre uma oportunidade para refletir.
O futebol, como outros esportes, está rejuvenescendo. A seleção brasileira convocada por Dorival Júnior na sexta-feira tem Endrick, que acabou de completar 18 anos e já disputou uma Copa América; e Estêvão, que poderá estrear nas Eliminatórias aos 17. Lamine Yamal entrou em campo pela Espanha, na Euro, com 16 — e foi considerado por muitos não apenas o melhor jogador jovem (prêmio que recebeu da UEFA), mas o melhor de todo o torneio, entre adolescentes e adultos. O talento não tem idade para aparecer. Mas saber o que fazer com a bola nos pés não é um passaporte para o amadurecimento.
O tênis reviu suas regras depois que duas meninas de 14 anos assumiram os primeiros lugares do ranking mundial. Uma delas teve uma carreira longa e estável, sendo reconhecida como uma das maiores jogadoras de todos os tempos: Venus Williams. A outra sofreu com problemas psicológicos e — abalada ainda pela fatalidade de ter sofrido um atentado em quadra — não correspondeu ao que se esperava dela: Monica Seles. Hoje, o limite de idade é de 16 anos, mas nem todos os esportes seguiram o exemplo. Nos Jogos Olímpicos, o COI deixa a decisão a cargo de cada federação internacional.
Foi bonito ver o choro de outro rubro-negro, Wallace Yan, agradecendo a confiança do treinador depois da conquista de ontem. Mas precisamos pensar sobre as lágrimas — nem sempre de conquista — que o esporte impõe a gente tão jovem.