O que gera discussão na liga, além da divisão dos direitos de TV

Apesar dos movimentos que ensaiam uma aproximação, a discussão entre os clubes brasileiros a respeito da liga vai além da divisão do dinheiro dos direitos de transmissão. Esse é, sim, o assunto dominante nas reuniões. Mas há questões nos bastidores que também contribuem para a atual falta de acordo entre os dois grupos de dirigentes existentes no momento.

De um lado estão dez signatários, que formalizaram e aderiram ao modelo da Libra (Liga de Clubes do Brasil). Do outro, ao menos 25 clubes das Séries A e B que preferem estender o debate sobre as bases estatutárias e comerciais do bloco.

Como ponto de partida, além da questão financeira, a discussão nem tão velada assim passa pelo equilíbrio de poder. Quem, de fato, vai gerir a liga, caso haja adesão dos clubes ainda reticentes?

Os quatro grandes de São Paulo, três Rio, além de Red Bull Bragantino, Cruzeiro e Ponte Preta apontaram, por exemplo, dois diretores interinos para conduzir os assuntos do grupo - André Sica, advogado de clubes, e Bruno Wegmann, ex-executivo do Maracanã. Há um contrato em vigor com a Codajas Sports Kapital, personificada nas reuniões pelo advogado Flávio Zveiter, que inicialmente traria investidores para a liga, mas, no momento, tem conduzido encontros e apresentações coletivas e pessoais aos clubes.

O grupo que ainda não se uniu à liga contratou as empresas Live Mode e Alvarez & Marsal para auxiliar na parte técnica das discussões dos termos da potencial liga. Dirigentes desse bloco ainda reticentes não cravam que esse desenho será definitivo - de qualquer um dos lados - e defendem uma futura concorrência para definir como será a gestão do bloco, caso ele se forme a ponto de unir os 40 clubes das Séries A e B e organize o Brasileirão, de fato.

Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, ao lado de Sérgio Coelho, presidente do Atlético-MG, em reunião sobre a liga - Marina Garcia/Fluminense FC - Marina Garcia/Fluminense FC
Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, ao lado de Sérgio Coelho, presidente do Atlético-MG, em reunião sobre a liga
Imagem: Marina Garcia/Fluminense FC

"Todas elas podem trabalhar juntas no futuro. Nós definimos que essas empresas vão nos assessorar na negociação, mas que não haverá documento firmado para futuro, seja de venda de direitos, seja de venda para o investidor da liga. Porque a gente entende, pelo menos no lado de cá, que outras empresas podem participar disso. A gente pode abrir o processo de concorrência quando a liga estiver formada. Mas isso não inviabiliza que as empresas possam trabalhar juntas", disse Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, cujo ponto de vista foi reforçado por Alessandro Barcelos, presidente do Internacional:

"A gente defende que o processo na formação da liga seja zerado em relação a quem vai vender direitos, a quem vai gerir. Seja um debate feito a partir da formação da liga".

Outro ponto de descompasso tem a ver com a realização da reunião de ontem (16) no Rio. A proposta dos 25 clubes de delegar uma comissão para negociar os termos com os clubes que já aderiram não é vista com tanta simpatia pelos demais. Na Libra, há quem defenda que o debate tem que ser posterior à adesão - que as pautas já sejam discutidas dentro do ambiente da liga. A argumentação é que, aqueles que estão dentro, já estão discutindo mudanças na fórmula.

O embate, portanto, é sobre timing. Para os clubes que estão fora, isso atualmente é impensável, sobretudo pelo dispositivo do estatuto da liga que prevê unanimidade para alteração ou aprovação de mudanças de pontos cruciais, como a divisão do dinheiro.

"Não existe posição inegociável no momento. A necessidade de buscar essa negociação nos faz abrir essa mesa, com critérios, números, dados, para ter avanços significativos nisso. O que estamos falando aqui é uma liga. Liga precisa de todos os clubes envolvidos. Não pode existir lado de cá e lado de lá. Existe um lado só. Esse lado precisa avançar. ", comentou o presidente colorado

Esse cenário puxa uma terceira questão, que tem a ver com a imagem de cada clube. Entre os dirigentes que não aderiram à Libra, a ideia é de esgotar ao máximo o debate agora como uma prevenção para que, em caso de discordância futura e desistência de participação no bloco, o clube que eventualmente der esse passo para trás não seja tachado como responsável pela "implosão" da liga.

Na parte final da reunião de ontem, no Rio, os dirigentes dos 25 clubes colocaram como "próximos passos" reforçar a união e o comprometimento em torno das pautas debatidas e agendar um encontro com quem já aderiu à liga. Até semana passada, a CBF seria o palco escolhido, mas a agenda foi desmarcada.

Imagem: Igor Siqueira

Fonte: Uol