O ano após a tragédia: Cauan e Francisco Dyogo se recuperam, mas Jhonata ainda tenta retornar

No dia do incêndio do Ninho do Urubu, 26 meninos dormiam no CT do Flamengo. Dez morreram e 16 garotos seguem o sonho de se tornar jogadores profissionais de futebol. Destes 16, três ficaram feridos e foram hospitalizados: Jhonata Ventura, Cauan e Francisco Dyogo. Apenas Jhonata, que teve as queimaduras mais graves, ainda não conseguiu retornar aos gramados.

Francisco Dyogo se destacou em 2019 e foi campeão da Aldeia Cup sub-15 — Foto: Reprodução Instagram

Francisco Dyogo se destacou em 2019 e foi campeão da Aldeia Cup sub-15 — Foto: Reprodução Instagram

Jhonata, que completou recentemente 16 anos, faz diariamente atividades na academia e corre no gramado, mas ainda não pôde matar a saudade da bola. Embora sua recuperação seja considerada boa, ele ainda precisa de cuidados especiais com a pele. O problema que mais o incomoda atualmente é uma dilatação no esôfago, que causa dores na hora da alimentação.

Jonadab Carmo de Souza, representante jurídico do zagueiro, acredita que em 60 dias ele poderá fazer trabalho com bola com os companheiros.

- Está há oito meses em tratamento intenso, com uma progressão ótima. Acreditamos que em mais uns dois meses ele possa treinar com bola. O problema mais sério é no esôfago, mas também evolui bem. De 15 em 15 dias ele vai ao hospital para dilatar o esôfago. Estava prejudicando a alimentação, aí ele perdeu peso. O Flamengo atendeu nosso pedido e começou a custear. A questão da pele está quase 100%. Precisa da total recuperação da pele do braço para ele poder ter contato físico com os outros atletas - disse Jonadab.

O diretor da base do Flamengo, Eduardo Freeland, é mais cauteloso, embora acredite que Jhonata conseguirá seguir a carreira de jogador e se profissionalizar.

- É mais uma questão do departamento médico. Não temos previsão de retorno dele. O caso dele é singular. Estabelecemos metas diárias. Mas vemos que ele está feliz. Acreditamos que ele vai voltar, e ele também acredita muito. O caso é grave, não podemos afirmar isso agora - disse Freeland.

Eduardo Freeland, diretor da base do Flamengo — Foto: GloboEsporte.com

Eduardo Freeland, diretor da base do Flamengo — Foto: GloboEsporte.com

Dos três feridos do incêndio, Jhonata é o único que não está alojado no Ninho do Urubu. A percepção é de que a questão emocional seria muito pesada para ele. Então, o Flamengo alugou um apartamento no Recreio dos Bandeirantes e trouxe sua família do Espírito Santo para morar no Rio de Janeiro.

O advogado, agora, espera que Jhonata consiga em breve assinar seu primeiro contrato profissional com o Flamengo.

- Temos a expectativa, agora que ele completou 16 anos, de assinar o contrato profissional. Acreditamos que esse contrato vai ser assinado no mais tardar em 60 dias - disse Jonadab.

Cauan e Francisco Dyogo se recuperam rápido

Os dois jogadores que tiveram ferimentos mais leves em pouco tempo tiveram alta hospitalar e conseguiram um retorno rápido aos campos. O atacante Cauan começou bem, como titular, mas depois oscilou e no segundo semestre foi para o banco em algumas partidas. O goleiro Francisco Dyogo teve um desempenho melhor, de muito destaque. Foi titular ao longo do ano e conseguiu ser convocado para a seleção brasileira.

Ambos participaram da conquista da Aldeia Cup, o título da equipe sub-15 na temporada.

- São dois atletas que já mostravam muito potencial. Claro que, quando envolve algo traumático, é natural que inúmeras questões aconteçam. Mas percebemos que eles conseguiram inverter essa situação. Foi muito marcante a vontade de treinar, de voltar a jogar. Deixavam isso claro o tempo todo. Tivemos um olhar com mais critério, mais compreensivo para cada atitude. Não foi um ano retilíneo, eles tiveram altos e baixos. Estivemos perto para dar o suporte. Terminaram o ano em bom nível, e o Dyogo teve uma convocação para Seleção - disse Eduardo Freeland.

Francisco, pai do goleiro, disse que o atleta ocupa a cabeça com o futebol e tem conseguido lidar bem com a dor da perda dos amigos. Ele espera que agora, com 16 anos, Dyogo consiga assinar o contrato profissional.

- Psicologicamente o Dyogo está aparentemente bem. Segundo ele, não precisa fazer tratamento psicológico. No momento, ele está ocupando a mente no futebol, treinando, jogando. Não sei futuramente. Tenho fé que vai ser o ano dele, que vai conseguir realizar o sonho dele e dos amigos. O Flamengo é o clube que ele ama, que escolheu para jogar. Espero que este ano possa se profissionalizar.

Cauan Emanuel em ação pelo Flamengo — Foto: Divulgação

Cauan Emanuel em ação pelo Flamengo — Foto: Divulgação

John Emanuel Barros Nunes, pai de Cauan, disse que seu filho também reagiu bem ao tratamento psicológico feito pelo Flamengo. Para ele, que elogiou o suporte do clube, a vontade do atacante de voltar a jogar foi muito importante para ele superar a tristeza.

- Ele está tranquilo, conseguiu superar o baque. Teve reações normais. No começo, recebeu tratamento oferecido pelo clube. Não tenho o que falar do Flamengo, só coisa boa. Ele se considera 100%. Voltou muito animado ao Ninho, queria treinar, jogar, superar aquilo dentro de campo. No primeiro jogo, ofereceu aos amigos. Jogou pelos que se foram. Foi muito bem na partida - disse John Emanuel.

Cinco atletas que estava no dia do incêndio não permanecem em 2020

Dos 16 meninos que sobreviveram ao incêndio no dia 8 de fevereiro de 2019 no Ninho, cinco não tiveram seus contratos de formação renovado s para 2020. Eduardo Freeland afirmou que houve um acompanhamento dos atletas e que a decisão foi apenas técnica.

- Cinco foram, mas 11 ficaram. Em todos os clubes, é natural na virada de ano existirem dispensas. Substituições são comuns. Acompanhamos a performance, fazemos diagnósticos e planos de ação. Sobre os cinco, entendemos que não alcançaram o nível para permanecer. Os outros 11, sim - afirmou Freeland. (Outro sobrevivente, Kennedy Lucas, já havia deixado o clube três meses depois após o incêndio e acertado com o Corinthians. Então, apenas dez seguem no Flamengo)

Em pronunciamento na Fla TV no último sábado, o presidente Rodolfo Landim, o vice geral e jurídico, Rodrigo Dunshee, e o CEO Reinaldo Belotti também afirmaram que a decisão da dispensa foi técnica. Veja a íntegra do pronunciamento dos dirigentes do Flamengo no vídeo abaixo.

De acordo com o promotor Pedro Rubim, do Ministério Público do Rio de Janeiro, no entanto, a dispensa desses cinco meninos foi uma surpresa, pois contraria um acordo que o Flamengo havia feito de manter todos pelo menos por dois anos.

- Nas conversas que tivemos em fevereiro, disseram que seria adequado respeitar um período de dois anos. De fato fomos surpreendidos com essa informação. Em princípio, estariam protegidos numa ação coletiva. É necessário avaliar a situação concreta. Temos a informação de que alguns jovens tiveram oportunidades de continuar em outros clubes. Precisamos avaliar se é o caso de adotar alguma medida concreta.

Fonte: Globo Esporte
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