Eleito novo presidente do Flamengo há nove dias, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, deu sua primeira entrevista coletiva na noite desta quarta-feira na Gávea, minutos antes de tomar posse no cargo. Em suas primeiras palavras, antes mesmo da primeira pergunta, o mandatário anunciou o português José Boto como diretor técnico e a permanência de Filipe Luís como treinador para 2025.
- Nosso diretor técnico será o José Boto e nosso técnico será Filipe Luís. O Filipe teve um início sensacional, começou muito bem. Tenho contato com ele há algum tempo, conversamos. Conversei também com nosso diretor técnico sobre perfil. A gente queria avaliar a vontade do Filipe de estar com a gente. A vontade dele de se superar e de aprender faz com que essa escolha seja a correta.
Bap revelou que teve reuniões com outros treinadores e outros diretores antes de decidir manter Filipe Luís e contratar Boto.
- Conversamos com outros técnicos, esse era o processo. Conversamos com outros diretores técnicos. Foram várias conversas com várias pessoas. Alguns que jamais foram citados. Acho que o processo foi bem conduzido até agora, o Flamengo vai estar em ótimas mãos.
Bap será o presidente do Flamengo no próximo triênio (2025 a 2027). Apesar de ter ascendido como principal nome da oposição na última eleição, o empresário de 64 anos faz parte da política rubro-negra desde 2012. Ele foi vice-presidente de Marketing do clube na gestão de Eduardo Bandeira de Mello e vice de Relações Externas com Rodolfo Landim.
Veja outras respostas de Bap:
- Uma das coisas que precisam mudar no estatuto do Flamengo é que você faz a eleição dia 9 e a transição começa dia 18. Essa janela do futebol brasileiro é a mais importante, mas você perde nove dias. A corrida começou, mas você não tem a caneta para fechar com um atleta ou outro. Na prática, conversamos sobre avaliação do elenco, calendário do ano que vem, carência que temos, podem ser 85 partidas no ano...
- Se queremos ganhar tudo, vamos ter que redimensionar o número de atletas. Será um planejamento determinante para o elenco e o perfil dos atletas. O elenco é bom e precisa de reforços pontuais. Alguns jogadores podem ser negociados, podem ter lesões... esses nove dias contam, mas a transição começa amanhã. O trabalho conceitual com Boto e Filipe Luís já está sendo feito há algum tempo. Não estamos no 0, mas também não estamos no 10. Acho que a gente está entre 6 e 7. Vamos trabalhar muito duro a partir de amanhã para tirar essa diferença.
- A gente vai anunciar quem são os 14 vice-presidentes que terei comigo. O estatuto do Flamengo carimba a pasta do vice-presidente: de finanças, de futebol... Pretendo acabar com isso, o conselho diretor vai ser como conselho de empresa. Eles vão aconselhar, mas não vão decidir. Não precisamos ser SAF para nos organizarmos de maneira profissional. Quero deixar um legado, e espero que no primeiro trimestre do ano que vem tenhamos um regramento no estatuto sobre a função dos vice-presidentes.
- É verdade que a situação de caixa do Flamengo foi afetada nesse final de ano. Isso não significa dizer que o Flamengo não pode fazer novas aquisições. É nível de endividamento e temos que definir a porcentagem que isso vai tomar. Temos um estádio para construir e vamos precisar de recursos. Hoje o dólar bateu R$ 6,27. Temos um descasamento entre o que a gente vendeu e o que a gente comprou de quase 20 milhões de euros.
- O Flamengo tem que vender mais do que compra, tem que vender mais e melhor do que fez até agora. O fato de termos contratado jogadores de moeda forte nessa segunda janela e não termos vendido ninguém causou um descompasso. É desconfortável, teremos que fazer arranjos e muitas vezes temos que dar dois passos atrás para dar mais à frente depois. É preocupante, mas não é fatal.
- Eu acho que não vou ter tempo de falar tudo o que conversei com o Boto. Acho que conversei mais com ele nos últimos tempos do que com a minha esposa. É uma visão diferente quando você tem um profissional cuidando do negócio. Ele é muito experiente. O que mais me encanta nele é que ele sabe o que e como fazer. Muitas vezes você lida com uma pessoa que tem uma visão estratégica, mas não é tão boa do ponto de vista operacional. Eu gosto do Boto porque ele combina as duas coisas. Eu acredito que eu separo a razão e a emoção. Ele acredita em processo, metodologia e planejamento. Ele chega dia 28 de dezembro.
- Claro que sim (temos orçamento para 2025). Eu não vou te falar. É o valor adequado para o Flamengo fazer um grande ano em 2025.
- Primeiro é discutido o conceito, como queremos que a área seja, sem pensar em nomes. É como se estivéssemos refundando o Flamengo. E depois estamos olhando as peças, se a TV fica bem aqui, se o sofá é adequado, a geladeira... Estamos nessa fase, por razões óbvias o Boto conhece alguns profissionais com relatório. No processo de transição, não temos acesso a muitas informações, infelizmente.
- O Spindel eu que trouxe em 2012, para a área comercial de marketing, conheço bastante bem. Vamos combinar, o Bruno não é diretor de futebol desde o início. Ele é um diretor de contratações, de negociações. É um excepcional trader, cara que entende muito disso, um dos que mais entendem disso. Vem do mercado financeiro. Mas eu gostaria que, o Boto chegando, tivesse contato com as pessoas, estrutura, se funciona com a, b ou c.
- Como essa etapa não aconteceu ainda, tenho conversado mais de impressão. Algumas pessoas conheço muito, outras nada, outras mais ou menos. Ele vai chegar e avaliar o seu time. Tenho dito e repito: não vou me meter nas escolhas do diretor técnico. Claro que a caneta no fim das contas é minha, mas vou muito mais na linha de vetar do que tomar decisões por ele. Preciso esperar que ele chegue. Alguns casos são diferentes. O Boto viu varias vezes os últimos 25 jogos do Flamengo. De alguma maneira ele tem condição de avaliar o trabalho do Filipe, ainda que não tenha conversado. Como faz isso com Spindel? Não tem como (de longe). Vai acontecer naturalmente, espero que até fevereiro tenhamos visão mais ampla disso, porque temos noção do que queremos.
- A discussão do estádio ficou contaminada no processo eleitoral. Não existe um estudo de viabilidade financeiro-econômica até agora. Ninguém constrói do zero sem um estudo desse, e no Flamengo não é diferente. Esse é o projeto da vida do clube. Vamos fazer nosso estádio, mas não a custo de performance esportiva, como aconteceu com o São Paulo entre 1953 e 1970, nem a custo de um endividamento brutal, como aconteceu com o Corinthians. 12 anos depois, o Corinthians não consegue ter performance como tinha na época. Vamos construir no ritmo que não prejudique a performance esportiva do clube. A depreciação do orçamento do Flamengo é R$ 200 milhões por ano, a maior parte disso com compra de jogadores. Vamos continuar com o nível de performance e não vamos endividar o clube a ponto de ter que virar SAF no meio do caminho.
- Seria melhor que o Tostes falasse sobre isso. Ele é meu amigo de vida e companheiro de 15 anos de jornada rubro-negra. Eu me envolvi no clube em 2009 e o conheci uma semana depois. Relação de amizade de longa data. Ele está em um momento da vida dele, e eu já vivi esse momento, de querer mas não poder assumir desafios. Ele tinha outras razões de natureza econômica. Fizemos um ajuste. Eu teria 13 VPs, mas com a decisão dele de não ser CEO, eu estendi para 14. Ele vai ser um dos conselheiros.
- Há dois anos, eu trouxe essa ideia para o presidente, a camisa 10 tem que ser do Arrascaeta. Ele dizia: "Está cedo, o Diego vai ficar muito com a gente". Eu dizia: "Quando a gente der para o Arrascaeta, devemos comprar 1 milhão de camisas e colocar o número 10 e o nome De Arrascaeta". Dois anos depois, a gente deu a camisa 10 para o Arrascaeta e não tem tamanho G, não tem número 10, não tem nome do Arrascaeta, as lojas não estavam sabendo. O Flamengo deixou de ganhar de R$ 10 a R$ 12 milhões sem fazer isso. Fazer dessa forma é uma prova do amadorismo, é queimar dinheiro.
- O Jorge é uma personalidade queridíssima. Mas é uma característica minha que, quanto mais eu gosto de uma pessoa, menos eu levo em consideração a opinião, porque ela está contaminada pela emoção. Eu não tive uma conversa com o Jorge sobre o Boto, mas tivemos outras conversas sobre planejamento, sobre viver no Brasil, como está no mundo árabe. Mas hoje em dia a internet ajuda. Esse tipo de indicação personalista não é tão relevante.
- Se olhar os últimos cinco anos, o maior volume de dinheiro não veio de titulares, veio da base, de jogadores promissores. Apesar de o jogador titular ser muito importante para você, não tem tanto valor para quem vai comprar. O jogador no início da carreira tem um valor maior pela expectativa. Você acaba vendendo muito mais pela expectativa do que pela realidade.
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