O Flamengo entrou em campo para enfrentar o Chelsea sob uma pressão inesperada: até então, nenhum time sul-americano tinha perdido para um europeu na Copa do Mundo; e o Botafogo, na véspera, subira ainda mais o sarrafo, com a primeira vitória de cá para lá do Atlântico desde o Corinthians x Chelsea de 2013. Na Filadélfia de Rocky Balboa, já não cabia mais o papel de azarão que sustenta toda a luta nas cordas esperando o contragolpe arrebatador. E não era mesmo o que Filipe Luís queria: o treinador garantiu que o estilo de jogo seria o mesmo que vem tentando implementar há oito meses – embora tenha levado a campo uma escalação sem centroavante e uma formação com três volantes.
Desde o início, a promessa foi cumprida. Se, em meio ao ponto facultativo, algum rubro-negro desconectado da internet só conseguiu ligar a televisão no intervalo, bem no momento em que eram apresentadas as estatísticas do jogo, viu lá uma posse de bola de 63% para seu time. Não é o que se espera contra um bilionário europeu. O já citado Botafogo conseguiu sua impactante vitória com 35% e quatro finalizações – todas na direção do gol, uma na rede. Foi o que o Chelsea conseguiu, pouco antes dos 15 minutos do primeiro tempo, quando o Flamengo já tinha criado algumas chances. E lá estava o número que muda tudo no futebol: 1 a 0.
O calor era forte (não só para os ingleses; Danilo e Jorginho puxaram o ar como se estivessem jogando na altitude), o gramado prendia a bola – as condições de uma competição internacional nos Estados Unidos, como aprendemos na Copa América e corremos o risco de ver de novo no ano que vem, não se importam muito em seguir o exigente padrão Fifa. E o Chelsea não entrou em campo com o decantado fair play da Premier League: bateu, provocou, tentou intimidar, acumulou cartões amarelos. No segundo tempo, a dúvida era sobre quem conseguiria manter o padrão.
Pois o Flamengo fez mais do que isso. Com Bruno Henrique no lugar de Arrascaeta, numa decisão arrojada do treinador, alinhou quatro atacantes, criou e perdeu oportunidades, virou o jogo (com o substituto fazendo um gol e dando a assistência para o outro). Logo depois, veio a expulsão de um adversário. Era a hora de mudar a metáfora: ser Muhammad Ali contra George Foreman. Bailar como uma borboleta, ferroar como uma abelha. E o nocaute veio com uma mudança que o torcedor estranhou ainda mais: Wallace Yan? Sim. No melhor jogo de sua curta carreira, Filipe Luís prometeu e entregou. A escrita sul-americana estava mantida – com três gols, como em novembro de 81, e botando os ingleses na roda para esperar o apito final.