Poucas cidades nos Estados Unidos respiram esportes com a intensidade da Filadélfia. Sede de algumas das torcidas mais apaixonadas — e, por vezes, mais exigentes — do país, a cidade tem no esporte um reflexo direto de sua identidade: trabalhadora, resistente e profundamente ligada às suas raízes comunitárias. Nas ruas, além do esporte, circula a história da revolução americana, através de visitas escolares a vários espaços públicos.
A cultura esportiva gira em torno de cinco grandes franquias profissionais: o Philadelphia Eagles (futebol americano, NFL), o Philadelphia Phillies (beisebol, MLB), o Philadelphia 76ers (basquete, NBA), o Philadelphia Flyers (hóquei, NHL) e, mais recentemente, o Philadelphia Union (futebol, MLS). Cada equipe representa mais do que apenas o jogo: elas são símbolos emocionais e sociais da cidade, conectando gerações e bairros inteiros.
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Casa dos Eagles, o Lincoln Financial Field recebe o Flamengo em sua estreia contra o Esperance, da Tunísia, 21h, e no segundo jogo, diante do Chelsea. Ao redor da imponente arena, estão o Citizens Bank Park, dos Phillies, e Wells Fargo Center, de basquete e hóquei. Um complexo de três estádios com imponência, especialmente o Lincoln, com capacidade para quase 70 mil pessoas e alma de Maracanã. O futebol, contudo, não tem espaço por ali. A placa do Mundial de Clubes com o rosto de Arrascaeta pendurada no poste aparece pouco perto da foto de um jogador de futebol americano.
Exceção no Mundial de Clubes
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A poucos quilômetros, três jovens de Honduras jogam bola num campo sintético e lamentam não poderem ir aos jogos do Mundial de Clubes por falta de dinheiro. Próximo dali, o movimento em uma quadra poliesportiva atrai mais fãs de basquete e futebol americano. O futebol é a exceção.
“Aqui quase não gostam de futebol, só futebol americano. Os latinos gostam mais”, diz Jesus Bonilla, 15.
Segundo Junior Zacarias,15, não há campos pela cidade.
“Não podemos jogar como antes, porque fecham essas quadras, só às vezes abrem. Antes jogavam mais aqui”, conta.
Perguntados sobre atletas e clubes brasileiros, só um nome atual veio à cabeça: Neymar. Além dele, Pelé, Ronaldo Nazário e Ronaldinho Gaúcho. Não conhecem Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Fluminense.
“Jogamos um torneio na escola. Todo ano organizam times”, conta Jonathans Sales, 13 anos, orgulhando-se e projetando apoio ao Brasil na Copa do Mundo.
A marca da torcida local
Nos estádios que esses meninos não costumam ir é que se pode ver melhor os torcedores da Filadélfia, conhecidos nacionalmente por sua franqueza e lealdade inabalável. Essa fama se consolidou com episódios icônicos — como quando vaiaram o Papai Noel durante um jogo dos Eagles em 1968, ou quando aplaudem jogadas de sacrifício no beisebol com a mesma intensidade de um home run.
A forte ligação entre os esportes e a cidade também se manifesta em eventos e celebrações públicas. Em 2018, quando os Eagles conquistaram o Super Bowl pela primeira vez, a cidade inteira parou. O desfile da vitória reuniu mais de 700 mil pessoas no centro, transformando a Broad Street em uma corrente humana de verde e branco.
Nos bares, escolas e até igrejas, os uniformes dos times são comuns. O debate esportivo é parte do cotidiano, com programas de rádio e TV locais fervilhando de opiniões — muitas vezes exaltadas — de torcedores que conhecem os detalhes do desempenho de cada jogador como se fossem analistas profissionais. Dias antes do Mundial de Clubes, só se via isso na televisão.
A cultura esportiva da Filadélfia também é sustentada pela tradição universitária, com instituições como a Temple University e a University of Pennsylvania promovendo o esporte colegial em alto nível. Paralelamente, a cidade vive um momento de renovação, com crescentes investimentos no futebol e em ligas juvenis que buscam formar os novos talentos locais. Não à toa há um crescimento de desempenho das seleções de base dos EUA.
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Lincoln Financial Field
A casa dos Eagles (NFL) é, talvez, o maior símbolo do torcedor “raiz” da Filadélfia. No Lincoln Financial Field, cada jogo é uma batalha — e não só dentro de campo. A atmosfera no estádio é conhecida por ser uma das mais hostis da liga para os adversários. O barulho é constante, os gritos são intensos, e qualquer jogador que não corresponda pode virar alvo da frustração da arquibancada. Isso não significa falta de amor, mas sim uma forma de demonstrar comprometimento. Para o torcedor dos Eagles, torcer é cobrar, apoiar e sofrer — tudo ao mesmo tempo.
Citizens Bank Park
O estádio dos Phillies (MLB) tem uma energia diferente, mas igualmente representativa. É ali que o beisebol se transforma em tradição familiar. Pais, filhos e avós compartilham a arquibancada, criando uma cultura esportiva que passa de geração em geração. Mas engana-se quem pensa que isso suaviza o tom da torcida: se o time não estiver rendendo, as vaias vêm com força. O que prevalece é o sentimento de pertencimento. O estádio não é apenas um lugar para ver o jogo — é onde se constrói a memória afetiva da cidade.
Wells Fargo Center
Sede dos 76ers (NBA) e dos Flyers (NHL), o Wells Fargo Center é o retrato da emoção crua. O torcedor aqui não economiza reações. Se um jogador acerta uma cesta decisiva ou um gol no hóquei, a explosão é imediata. Se erra, o clima pode mudar em segundos. É nesse ambiente que frases como “Trust the Process” nasceram — porque mesmo quando os resultados não vinham, a fé na reconstrução do time se transformava em um movimento de resistência emocional.
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