Mudança de Tite com a bola rolando fez o Flamengo crescer e vencer

Se o torcedor rubro-negro estava animado com a chegada do ex-treinador da seleção brasileira ao clube, certamente tem motivos para dobrar essa aposta após a estreia. O time saiu de um cenário de muitas dificuldades nos primeiros minutos para o controle total de ações a partir de ajustes feitos por Tite ao longo do 1º tempo, e superou o Cruzeiro com tranquilidade em Belo Horizonte.

É claro que o parâmetro de comparação ainda não foi o ideal. A Raposa venceu apenas um de seus últimos 13 jogos, vem em queda livre na classificação, tem elenco bem inferior ao do Flamengo e também passou por recente mudança no comando técnico. Mesmo assim, a demonstração de força foi fundamental.

Escalações

Zé Ricardo não teve o lateral-direito William e colocou Palácios em seu lugar. Filipe Machado e Lucas Oliveira também foram desfalques. O treinador promoveu uma verdadeira revolução na equipe. Ian Luccas entrou no meio. Matheus Pereira, Bruno Rodrigues e o lateral Kaiki formaram o ataque.

Já Tite, em sua estreia no Flamengo, manteve a base da equipe que vinha sendo escalada pelo interino Mário Jorge. Gérson voltou a tempo da Seleção e compôs o meio com Thiago Maia e Pulgar. Pedro foi a escolha para o centro do ataque. Gabigol e Arrascaeta ficaram no banco de reservas.

Como Cruzeiro e Flamengo iniciaram o jogo válido pela 27ª rodada do Brasileirão 2023 — Foto: Rodrigo Coutinho

O jogo

O Flamengo mostrou aquilo que teve de pior nos últimos meses durante os primeiros 25 minutos no Mineirão. Dificuldade de igualar a intensidade adversária, pressão na bola irregular em fase defensiva, lentidão na circulação e poucos movimentos para gerar linhas de passe. O rendimento ruim, somado ao agressivo início do Cruzeiro, fizeram com que a Raposa estivesse mais perto de abrir o placar.

Ian Luccas quase fez isso em contragolpe rápido pela esquerda puxado por Marlon. O time da casa encaixava a marcação com eficácia, pegada, impedia o avanço rubro-negro e ainda tinha bons movimentos de ataque à profundidade com Bruno Rodrigues e Ian Luccas. Matheus Pereira e Lucas Silva tentavam articular.

Marlon era o alvo dos passes longos de Rafael Cabral para superar as primeiras linhas de uma pressão bem oscilante que os cariocas tentavam fazer. Everton Ribeiro tinha problemas para acompanhar. Gérson não rendia ao receber de costas por dentro, sempre acossado por Matheus Jussa. Bruno Henrique estava muito isolado, sempre preso e aberto no lado esquerdo.

Tite então inverteu o posicionamento de Everton Ribeiro e Gérson. Mais fixo por dentro, o camisa 7 não precisou retornar tantos metros para marcar pela direita, e circulou pelo setor com mais desenvoltura do que Gérson. Ajudou a conectar as peças. O rubro-negro ficou mais tempo com a bola no campo de ataque, pôde contar com avanços mais bem estruturados de Ayrton Lucas e Wesley, e cresceu.

Marlon, lateral do Cruzeiro, em disputa de bola com Everton Ribeiro, do Flamengo — Foto: Fernando Moreno/AGIF

Bloqueando as linhas de passe do Cruzeiro com mais eficácia, o Flamengo viu o advesário errar passes bobos em sua saída de bola. Pulgar foi fundamental nas interceptações. O time passou a ter mais conexão entre as peças e criou as jogadas dos dois gols marcados num intervalo de cinco minutos.

Mentalmente o Cruzeiro desabou ao perceber que o adversário crescia e começava a dominar as ações. Os erros de Castán e Neris na origem dos gols deixou isso bem nítido. Zé Ricardo sacou Kaiki no intervalo para a entrada de Wesley, mas o time não deu uma resposta positiva. Parecia não saber exatamente o que fazer para atacar, e era apenas aguerrido defensivamente.

No lado rubro-negro, dois detalhes táticos merecem menção. O comportamento dos laterais em uma saída de bola mais ''sustentada'', próximos aos zagueiros, algo que Tite já tinha utilizado nos tempos de Corinthians e nos primeiros anos de seleção brasileira. O outro ponto é a compactação maior entre os setores em fase defensiva. Foi um time mais seguro sem a bola por esses dois fatores.

Bruno Rodrigues, do Cruzeiro, tenta passar pela marcação do Flamengo — Foto: Gilson Lobo/AGIF

A tranquilidade do 2º tempo do Flamengo acabou quando Mateus Vital e Nikão entraram bem pelo Cruzeiro. Ian Luccas e Matheus Pereira saíram. O time retomou a agressividade inicial e empurrou o rubro-negro para trás. A resposta de Tite foi lançar mão de Arrascaeta, Gabigol e Everton Cebolinha nas vagas de Everton Ribeiro, Pedro e Bruno Henrique.

Com ''sangue novo'' para segurar a bola e contra-atacar, o Flamengo voltou a ter as ações do jogo sob controle e não sofreu da mesma forma até o apito final. A atuação passou longe do nível que o time pode alcançar, mas deixa a certeza de um início com muito mais organização do que vinha sendo a realidade.

Fonte: Globo Esporte