Mosaico, taças no campo e choro: há um ano, contra o mesmo Cuiabá, Filipe Luís se despedia do Flamengo

Craque, o catarinense de Jaraguá do Sul que era avesso aos carrinhos e que se notabilizava pela inteligência, leitura de jogo e soluções típicas de um atleta forjado no futsal, viveu um domingo repleto de emoções. A primeira cena impactante do dia foi produzida ao se deparar com o mosaico 3D que subiu no setor Norte. A imagem retratava Filipe abraçado ao avô Ivo Stinghen juntamente às frases: "De pai para filho, de avô para neto".

Ivo é o rubro-negro responsável por ter feito Filipe Luís amar o vermelho e preto desde pequeno e não seguir o coração do pai, Seu Moisés, torcedor do Santos. Ao fitar a homenagem na arquibancada em que estavam seus semelhantes, desabou em lágrimas amparado pelos filhos Tiago, Sara e Lucas, também muito emocionados.

Mesmo com a desvantagem no placar (2 a 1 àquela altura), assim que a placa subiu para a saída de Filipe Luís, aos 35 minutos do segundo tempo, praticamente todos os atletas do Cuiabá foram ao centro do gramado se despedir do craque.

A substituição por Ayrton Lucas demorou três minutos para ser processada. Além dos adversários, Filipe foi abraçado por todos os companheiros que estavam em campo. Até Rossi deixou a meta e foi ao círculo central.

Abraçou o amigo Gerson, ainda foi cumprimentado por Raniele, do Cuiabá, antes de mandar um beijo para a galera, se ajoelhar e tascar outro beijo no gramado. Àquela altura, a arquibancada o ovacionava com os gritos de "Ah, é Filipinho e Filipe Luís".

Já no banco de reservas, seus companheiros se amontoaram para festejá-lo. Toda a comissão técnica o cumprimentou, mas ele ainda arrumou tempo para ir a área destinada ao Cuiabá e também falar com um por um.

O ingresso do jogo retratava as imagens de Filipe Luís e Rodrigo Caio, ídolos que se despediam juntos do Flamengo . Filipe pendurava as chuteiras, enquanto Rodrigo, hoje no Grêmio, fazia sua última partida pelo clube. A dupla, além dos mosaicos 3D exibidos na arquibancada, ainda teve direito a sessão de fotos diante das taças conquistadas ao lado da família.

Filipe encerrava ali uma carreira que fora iniciada no Figueirense e que contava com passagens pelos importantes Ajax, Real Madrid Castilla (B), Deportivo La Coruña, Chelsea e Atlético de Madrid. Deixava o seu Flamengo na condição de segundo maior lateral-esquerdo da história, superando até mesmo Athirson, a quem se refere sempre como seu ídolo. Saía de cena com 176 partidas de vermelho e preto, quatro gols e 10 títulos (duas Libertadores, dois Brasileiros, Copa do Brasil, duas Supercopas do Brasil, Recopa Sul-Americana e dois estaduais).

Apesar da tenra carreira, Filipe Luís reencontrará o Cuiabá já na condição de um treinador marcado na história do Flamengo . Com apenas 10 jogos à frente do time profissional, já é campeão da Copa do Brasil, título no qual teve participação decisiva, com um trabalho autoral e com variações táticas que não deram chances a Corinthians e Atlético-MG, adversários rubro-negros na semifinal e na decisão. Isso sem falar da Copa Rio Sub-17 e do Intercontinental Sub-20.

Já acostumado à nova função, Filipe Luís transformou uma arquibancada que estava completamente desconectada do time na reta final de Tite. Com mexidas inteligentes e entrevistas diretas e retas, trouxe para si de volta os seus semelhantes, e o que se viu foi uma torcida inquieta e confiante desde a estreia dele no comando da equipe em diante.

E pensar que em 3 de dezembro de 2023, quando entrou na sala de imprensa do Maracanã, para dar sua última entrevista como jogador de futebol profissional, Filipe fez a seguinte pergunta.

- Aqui é onde o treinador dá coletiva?

É, Filipe, e se você continuar com bons resultados e mantiver a inabalável relação com a torcida do Flamengo , essa sala será uma extensão da sua casa por muito tempo ainda.

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