Matheus França jura amor pelo Flamengo e cita diferença entre Inglaterra e Brasil: "Grama perfeita"

Convidado do GE Flamengo #426, o meia-atacante Matheus França não se furtou de reafirmar a paixão pelo clube que o formou ao declarar-se "flamenguista doente". Mas, além de conversar bastante sobre o Rubro-Negro, o atleta de 20 anos contou como está sendo a adaptação à Premier League. Um dos fatores que têm ajudado o jovem a desenvolver seu futebol é a qualidade dos gramados.

Com maturidade de jogador experiente, o atleta do Crystal Palace idealizou que os clubes brasileiros, seja num formato de liga ou por estímulo da CBF, fizessem um forte investimento coletivo nos campos. Para ele, isso seria fundamental para o crescimento do futebol local.

- A grama é perfeita (na Inglaterra) em todos os estádios, deve ser em todos os centros de treinamentos. A grama no meu CT é incrível. Acho que esse investimento que eles fazem no gramado melhora muito o futebol. Fica mais fácil, o futebol flui mais, a bola corre mais, e eu acho isso muito legal.

- Aqui no Brasil, ia melhorar muito o nível do campeonato se a gente investisse um pouco mais não de modo individual, mas de modo geral, da liga e do Campeonato Brasileiro, para que os campos brasileiros se tornassem mais parecidos com os campos de lá.

Matheus França em ação pelo Crystal Palace — Foto: Divulgação

Com direto à musiquinha personalizada e já nas graças da torcida do Crystal Palace, França não se encantou apenas com a grama inglesa. Estar diante dos jogadores do Manchester City, de Pep Guardiola e mudar a história de um jogo em que o adversário vencia por 2 a 0 mexeram bastante com o garoto. Ele entrou no fim, ainda com o Palace em desvantagem, e levou sua equipe para a frente.

- O jogo com o Manchester City foi muito importante para mim porque eu fiquei muito impactado de ver os caras de perto. Eu estava muito focado nesse jogo, queria muito entrar e fazer a diferença. Fiquei muito feliz de ter ajudado o time a conseguir o empate. Entrei quando o time estava perdendo, fiz jogadas legais e fiz uma fumacinha (risos). Foi meu cartão de visitas, e eles entenderam como o Matheus França agiria e seria na Europa. Que não seria como qualquer um, mas sim uma pessoa que vai jogar e vai para cima. Foi aí que consegui o meu espaço.

- Cara, foi legal porque quando fui aquecer, eu tive que passar em frente ao Guardiola e ao banco dos caras. Olhei para o lado e falei: "cara, Pep Guardiola aqui do meu lado, um dos melhores treinadores do mundo". Eu pensava: "cara, tenho que jogar bem, tenho que mostrar". Foi incrível a sensação, o ambiente e tudo ali. Joguei bem, e foi um empate incrível fora de casa contra o City. Por mais que De Bruyne e Haaland não estivessem jogando, só o fato de enfrentar jogadores de nível top foi um sonho realizado.

França usou grande parte dos 80 minutos de podcast para falar do amor pelo Flamengo . Garantiu que as quatro horas à frente com o fuso horário de Londres não o impedem de acompanhar o clube do coração.

- Não perco um jogo do Flamengo , sempre estou tentando assistir. Quando não assisto, assim que eu acordo já boto no telefone e vou para o treino assistindo. Depois eu assisto ao jogo tudo.

A identificação com o clube não tem origem nos oito anos como atleta do Flamengo , mas sim de berço. Matheus França sempre acompanhou o time de coração, seu ídolo é Ronaldinho Gaúcho. A vitória por 5 a 4 sobre o Santos em que o craque marcou três gols, em 2011, é uma de suas maiores lembranças.

- Meu ídolo no futebol desde criança sempre foi o Ronaldinho Gaúcho. Quando eu comecei a entender mais do futebol, ele estava jogando no Flamengo e teve aquele jogo histórico entre Flamengo e Santos. Ele foi incrível. Dali para frente ele se tornou meu ídolo para sempre. Lembro desse jogo como se fosse hoje. Estava assistindo em casa, fanático.

- Me encantava a magia, ele era o bruxo. Os dribles, as assistências, os gols, as jogadas plásticas que ninguém consegue fazer até hoje. O nível que atingiu no Barcelona, no PSG e até no próprio Milan. Todo dia assistia a vídeos dele, por ele ser meu ídolo. Essa fase dele no Flamengo foi muito boa e eu o acho muito craque.

Apesar de não desgrudar os olhos do time profissional, França, como um autêntico Garoto do Ninho, revela que tem como um de seus grandes xodós os jogos das divisões de base do Flamengo .

- Acompanho os moleques da base, tem muitos que jogaram comigo que estão lá. Esses dias fui ao CT, fiquei na base com o pessoal e assisti ao treino. Tenho muito carinho. Por mais que eu seja flamenguista doente e torça muito pelo profissional, eu torço ainda mais pelos moleques da base. Sempre que tem jogo do sub-15 e sub-17, assisto na Fla TV, vejo no telefone. Procuro saber quais são os meninos que estão surgindo. Quando tenho oportunidade de falar com eles, eu estou sempre ali para poder dar um conselho e falar com todos eles.

Matheus França foi campeão da Libertadores e da Copa do Brasil com o clube do coração — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

França analisa vitória do Flamengo sobre o Bahia

- Que partida especial, grande vitória para consagrar a liderança do Brasileirão. Jogo muito difícil, a gente não pode deixar de ressaltar o bom trabalho que a equipe do Bahia está fazendo no Brasileirão. Equipe bom, com meio-campo bom. Foi um jogo duro, de disputa pelo topo da tabela, e o Flamengo , como sempre, indo muito bem na reta final. Gerson fazendo o gol, o gol do David foi incrível. Essa mentalidade do elenco rubro-negro está muito boa e não deixou de se abater com as dificuldades da partida e conseguiu a vitória.

França diz que comemoração de David Luiz foi carinhosa com a torcida: "Muito lindo"

- Fico muito feliz de ver o David marcando, ainda mais com essa vitória incrível. A entrevista dele é o que ele disse: a pureza do gol, da honestidade e uma comemoração de extravasar sobre momentos difíceis, críticas e de não estar jogando. Ele tem feito a parte dele, sempre fez, ajudando todos os moleques da base e todo o elenco com a experiência que ele tem.

- Essa comemoração dele foi muito carinhosa com a torcida, demonstrando um calor humana e essa honestidade e essa pureza. Acho muito lindo, foi incrível para mim. Esse gol representa o que ele está fazendo e acredito que ele vai continuar dando muito mais alegria para o Flamengo . Gritou pra caraca (risos), saiu correndo que nem um maluco.

David Luiz como tutor e certeza de segurança em campo

- Com toda a experiência que o David teve tanto no Brasil quanto na Europa, ele pode ajudar qualquer pessoa que chegar nele. E o que ele vem fazendo no Flamengo é ajudar as pessoas que estão no dia a dia. Seja ajudando num problema ou com alguma técnica. São métodos que podem ser trabalhados. Acho que ele ajuda por já ter passado por tudo isso e por poder dar uma direção para pessoas que talvez estejam um pouco perdidas. Não sabem para onde ir, para que lado ir ou fazer naquele momento. Ele pode ajudar essas pessoas a tomarem certas medidas para ter um futuro melhor. É fundamental.

- Ele acolhe muito. Quando ele joga, passa uma segurança e um conforto a mais para que está jogando porque é um jogador incrível. Sabe muito e sabe lidar com qualquer adversidade, é um líder dentro de campo e está sempre se comunicando. Só de ele estar em campo já deixa o jogo mais leve.

"Coringa é brabo demais"

- Muito feliz pelo Gerson. Vem ajudando todo mundo, e essa volta dele foi muito importante para o Flamengo , com toda a história e a bagagem dele. E as coisas que ele fez pelo clube de querer voltar pelo Flamengo , de estar se dedicando e sendo esse coringa muitas vezes fazendo muitas funções que não só a dele. Acho que isso é primordial para a fase que o Flamengo vem vivendo. Em todo o jogo ele comanda o meio-campo. Esquece, o Coringa é brabo demais.

Ensinamentos de Diego Ribas no Flamengo

- Diego Ribas me impactou muito, ídolo. Sempre me ajudando e muito competitivo, independentemente da idade. Foi exemplo de esforço e inspiração para mim. Diego Ribas ajuda não só com questão de liderança, mas também ajudou muito o Matheus França na questão individual. Teve um dia que cheguei no treino meio desanimado, só o fato de ele chegar ao meu lado e perguntar se minha família estava bem já me ajudou muito. Só de se importar comigo já me fez muito bem.

- Começou a me puxar nos treinos. Eu estava pensando em um monte de coisas, eu tinha 18 anos, e a cabeça fica a milhão. Você não sabe se vai jogar, se vai ser vendido. Ele chegou em mim e disse: "Não posso eu com 35 anos ter mais disposição que você com 17, 18 anos". Me deu um start. Fazíamos competição, quem perdia numa disputa entre nós pagava flexão. Foi muito legal isso.

Se um dia voltar a jogar no Brasil, tem uma preferência?

- Claro, é o Flamengo , não tem jeito (risos).

Adaptação a Londres

- A maior dificuldade, sem dúvidas, foi a língua e a comunicação. Sempre fiz aulas de inglês, mas quando chega lá é muito diferente. A adaptação à língua e à cultura foi muito difícil, mas agora já estou adaptado. Minha família, meus pais e minha esposa foram muito importante para isso. Me deram muito carinho para que eu pudesse desempenhar da melhor forma em campo.

Matheus França fala da música que ganhou no Crystal Palace

"Quando o ritmo de samba começar a tocar,
Dance comigo,
me faz balançar!
Matheus França correndo pela ponta
Marcando gols
Faz o Palace cantar! 🎶!"

- Eles associam muito samba com brasileiros. Ele gostam bastante do samba. Quando cheguei lá, na minha apresentação teve uma parada de samba. Foi maneiro pra caraca. Em todo jogo quando eles começam o "nanana", já sei que é minha música e dá uma empolgação a mais. Acho muito legal e importante quando a torcida cria músicas novas. Gostei muito e me senti abraçado pelo carinho da torcida.

O que levou do Brasil para o futebol inglês e o que aprendeu até o momento?

- Levei o jeito brasileiro, nossa ousadia de jogar e ir para cima. Tenho aprendido muito lá, com a intensidade e mudança de ritmo, que são completamente diferentes lá. Seja de passe ou de marcação, é tudo muito diferente. Tive que me adaptar, estou melhorando nas valências nas quais preciso evoluir. Foi muito bom levar o jeito brasileiro. Meu time não tem nenhum brasileiro, e os brasileiros têm que tomar parte do mundo pelo futebol. Nosso futebol é raiz, alegre, com muita ousadia e alegria. Quero continuar fazendo e impondo lá.

Sonhos na Europa

- Um dos meus grandes sonhos e da minha família era jogar lá (na Inglaterra). Já pude dar assistência, pude ser o craque da partida e almejo meter meu primeiro gol na Premier League. Esses são pequenos sonhos que vou realizar e tem os grandes sonho também, que mais para frente eu vou pensando. Vamos passo a passo.

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Fonte: Globo Esporte