Maior uruguaio do Flamengo? Arrascaeta tem fila curta para superar e torcida de antecessores

O Uruguai é de doce lembrança para os torcedores do Flamengo. Afinal de contas, foi lá na capital de Montevidéu, em 1981, que o time de Zico e companhia venceu o jogo de desempate em campo neutro diante do Cobreloa, do Chile, por 2 a 0, e conquistou a sua única Libertadores até hoje. Mas a conexão entre o clube com o país vizinho nunca foi algo marcante no quesito "jogadores": em mais de 100 anos, apenas seis uruguaios passaram pela Gávea. Nenhum virou ídolo.

Apresentado oficialmente na última segunda-feira , Arrascaeta desembarcou no Rio de Janeiro com a oportunidade única de mudar essa história. Contratação mais cara do futebol brasileiro em números absolutos , ao custo de € 15 milhões (R$ 63,7 milhões), o meia ainda é jovem, tem só 24 anos, vive o auge da carreira e assinou contrato por cinco temporadas. Para alcançar o posto de maior uruguaio do Flamengo, conta com uma fila curta e números "acessíveis" para superar.

Quem mais vezes vestiu a camisa entre os compatriotas foi o ex-lateral Ramirez, com 94 jogos e dois títulos: o bicampeonato carioca de 1978-1979. Porém, a conquista mais importante de um uruguaio no Flamengo foi a Copa do Brasil em 2006 do meia Peralta, que também é o maior artilheiro do país no clube com quatro gols. A fila ainda tem os atacantes Bucheli e Mendoza, e os zagueiros Manicera e Darío Pereyra, que foi o mais próximo da badalação atual de Arrascaeta. Em 1988, deixou o São Paulo como multicampeão, mas pouco atuou na Gavea.

Arrascaeta chega com status de maior contratação da história do Flamengo — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Arrascaeta chega com status de maior contratação da história do Flamengo — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Todos os uruguaios do Flamengo:

  • Bucheli (1945) - 6 jogos (aproveitamento: 38,8%)
  • Mendoza (1966-1967) - 2 jogos (aproveitamento: 50%)
  • Manicera (1968–1969) - 70 jogos (aproveitamento: 59%)
  • Ramirez (1977-1979) - 94 jogos (aproveitamento: 76,2%)
  • Darío Pereyra (1988) - 12 jogos (aproveitamento: 50%)
  • Peralta (2006) - 20 jogos (aproveitamento: 43,3%)

Campeões apostam em Arrascaeta

O último uruguaio a passar pelo Flamengo foi Horácio Peralta, em 2006. Em campo, não correspondeu à expectativa gerada pelas imagens de seu DVD. A má forma física pesou. Jogador muito técnico, teve problemas de lesões, jogou apenas 20 partidas e marcou quatro gols. Um deles na Copa do Brasil, título que marcou sua passagem pelo Rio de Janeiro, embora tenho sido coadjuvante na final contra o Vasco.

Peralta foi o último uruguaio do Flamengo, em 206 — Foto: Editoria de Arte

Peralta foi o último uruguaio do Flamengo, em 206 — Foto: Editoria de Arte

Aposentado dos gramados, Peralta mora hoje em Montevidéu e vai concluir em julho o curso para treinador. Aos 36 anos, planeja seguir a carreira fora do campo, mas ainda dentro do futebol. Torcedor do Nacional no Uruguai e do Flamengo no Brasil, ele também é amigo pessoal de Marcos Braz – diretor de futebol em sua passagem e atualmente vice-presidente da pasta –, e se diz na torcida pelo sucesso de seu compatriota:

– Como uruguaio, fico feliz de ver um conterrâneo no Flamengo. Tem também minha amizade com o Marcos Braz, diretor do Flamengo na época em que joguei. Fiquei feliz com a volta dele, trabalha muito bem. O Arrascaeta conheço da seleção uruguaia e pelo Cruzeiro. Acho uma ótima contratação, ele é bom para c*, um craque. Como torcedor do Flamengo e uruguaio, espero que ele vá bem. No Uruguai repercutiu muito. Todos sabem da importância do Flamengo, um clube internacional. O Flamengo é diferente.

Por sua vez, o uruguaio que mais jogou pelo clube é Sérgio Ramirez D'Ávila. Mais conhecido como Ramirez, ele fez parte da geração de ouro de Zico, Júnior e companhia no fim dos anos 70, mas deixou o clube antes dos principais títulos no início da década seguinte. Mas sempre foi lembrado por sua raça, é convidado até hoje por eventos de núcleos de rubro-negros no Sul do Brasil e no ano passado foi até homenageado pelo Flamengo pelas 94 partidas vestindo rubro-negro.

Ramirez ao lado de Zico: uruguaio jogou junto com maior ídolo do clube — Foto: Arquivo Pessoal

Ramirez ao lado de Zico: uruguaio jogou junto com maior ídolo do clube — Foto: Arquivo Pessoal

Após pendurar as chuteiras, Ramirez virou treinador e está há mais de 30 anos na profissão. Já comandou clubes como Athletico-PR, Coritiba, Paraná, Avaí e Vitória, por exemplo, mas não teve a chance de realizar o sonho de dirigir o Flamengo. Atualmente, trabalha nas categorias de base do Guarani de Palhoça, time formador de Santa Catarina, e ainda acompanha o Rubro-Negro. De férias, assistiu à apresentação de Arrascaeta e não economizou elogios:

– Achei fantástico. Pelo elenco que o Flamengo está montando, acho que cabia um cérebro como ele. O Flamengo tem no meio jogadores qualificados como o Diego, mas ele além de ser mais novo se caracterizou também por fazer gols. Antes era de dar assistências, agora está entrando mais na área, fazendo gols importantes. Sou treinador e gosto de ter jogadores assim no meio. As equipes jogam cada vez mais espelhadas, iguais taticamente, e esse tipo de jogador no um contra um faz o volante sofrer. O Arrascaeta tem essa gana de drible, da criatividade. Nunca deixei de torcer pelo Flamengo, agora, com um uruguaio então, a torcida será dupla.

Apesar da grande expectativa depositada em Arrascaeta, Peralta e Ramirez também alertam para a pressão de se jogar no Flamengo e dão conselhos ao novo camisa 14 rubro-negro. O ex-meia ressaltou que para jogar com a camisa rubro-negra precisa ter personalidade, enquanto o antigo lateral recomendou a tradicional raça uruguaia como aliada para conquistar a torcida.

Ramirez continua no Brasil, virou torcedor do Flamengo e tem até quadros em casa — Foto: Arquivo Pessoal

Ramirez continua no Brasil, virou torcedor do Flamengo e tem até quadros em casa — Foto: Arquivo Pessoal

– Torço para que ele se adapte rapidamente, sei que conhece bem o futebol brasileiro. Nós uruguaios estamos acostumados a ganhar sempre, pressão não é problema para nós. Mas o Flamengo é diferente. Torcedor do Flamengo é Flamengo. Nem ligam para a Seleção. A pressão de ganhar é muito grande. Para o jogador que gosta de pressão, jogar no Flamengo é muito bom. Seja onde forte, a torcida do Flamengo é maioria. Isso foi algo que me impressionou. Que ele desfrute dessa chance. Joguei em 20 clubes na carreira, e fora do Uruguai nunca encontrei nada como o Flamengo – recordou o ex-meia.

– Ele tem tudo pra se tornar um xodó da torcida pela qualidade. Eu tinha força física, vontade de vestir essa camisa, que caiu como uma luva em mim. A torcida do Flamengo gosta daquela raça que eu tinha, levantava o Maracanã com 120 mil pessoas à cada dividida (risos). Se tivesse oportunidade de falar com ele, diria para não perder sua qualidade, sua maneira clássica de jogar, mas sem deixar a velha garra uruguaia de fora. Se perder a bola e não correr atrás para recuperar, já vai ter "mimimi". Mas acredito que ele vai ser ídolo. Não tanto quanto Zico, mas tem tudo para chegar próximo do nosso Galinho.

Uruguaios "quase" entram no ranking

Suarez subiria o sarrafo de Arrascaeta no Flamengo — Foto: Alexander Hassenstein/Getty Images

Suarez subiria o sarrafo de Arrascaeta no Flamengo — Foto: Alexander Hassenstein/Getty Images

A lista que Arrascaeta tentará superar poderia ser um pouquinho maior (e mais árdua de superar), com mais dois jogadores: o volante Hugo Soria, contratado em 2007 para as categorias de base, mas que voltou para o Uruguai sem ter atuado pelo profissional rubro-negro; e o atacante Luís Suárez, ele mesmo, astro do Barcelona, da Espanha, e da seleção celeste.

Por pouco, a estrela uruguaia não se juntou a Peralta na Gávea em 2006. Suárez foi oferecido ao clube na ocasião, e o então auxiliar técnico Andrade foi a Montividéu observar o jovem atacante. Mas não gostou do que viu, reprovou a contratação e ressaltou que Fabiano Oliveira – promessa rubro-negra que nunca vingou – era melhor. Ele subiria o sarrafo de Arrascaeta no Flamengo.

O "Boletim da Janela" lançou o desafio ao setorista Marcelo Baltar, que cobre o dia a dia do Rubro-Negro: qual Flamengo ideal entre as versões de 2018 e 2019? Confira o resultado!

Fonte: Globo Esporte