Luiz Gomes: 'Que Hugo Souza não vire um novo Adriano'

Foi uma ascensão meteórica. De quarto goleiro a quase titular do clube que tem o melhor elenco do futebol brasileiro. Bastou a atuação no jogo contra o Palmeiras, no Brasileirão da Covid no ano passado, para cair nas graças da torcida - e da mídia! Não fosse a renovação do contrato de Diego Alves e certamente teria começado a temporada como o camisa 1 do Rubro-Negro.

Hugo Souza, o Neneca, aos 22 anos e do alto de seus 1m99 de altura, tem um futuro promissor em uma posição na qual o Brasil tem se destacado por revelar grandes talentos nas últimas décadas. Já esteve nas seleções de base, chegou a ser convocado por Tite para o time principal no auge da empolgação com suas atuações. Como Dida, Júlio César, Alysson e tantos outros, de maior ou menor quilate, seu destino certamente será um grande clube europeu.

Mas, que ninguém se iluda! Para que tudo isso se concretize em um futuro que não parece tão distante, Hugo Souza precisa de ajuda. Ajuda para manter o norte e para, como tantos outros garotos que se vê por ai, não se deslumbrar com a fama, o dinheiro e tudo o que ele proporciona. É um mundo tentador e difícil, de fato, mas é preciso resistir.

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Pelé, certa vez, ao comentar uma das muitas trapalhadas em que o imperador Adriano se meteu ao longo da carreira, resumiu bem a questão. Disse o Rei que o atacante, ao se transferir para a Itália, ganhou em poucos anos de contrato o que ele, o maior de todos os tempos, levou a vida inteira para conseguir. Diante desse cenário, só mesmo com uma estrutura pessoal muito sólida, apoio da família e de um staff responsável, torna-se possível manter o foco na bola e não se perder nos luxos e benesses que ela proporciona.

O caso de Adriano não é único. Seria triste ver Hugo Souza seguir um caminho como esse.

Essa semana, a imprensa, a partir de uma reportagem do jornal carioca Extra, mostrou a festa clandestina - sim, festas em tempo de pandemia são clandestinas - numa casa alugada pelo goleiro na Zona Oeste do Rio . Com uns poucos companheiros de time, bebidas e muitas mulheres circulando à solta. Isso tudo após a conquista do título da Supercopa do Brasil contra o Palmeiras e a três dias do clássico contra o Vasco, principal rival rubro-negro, pelo Estadual.

Demorou pouco tempo para que atitudes de Hugo, como essa, chamassem a atenção dentro do clube. A ostentação do Jaguar de R$ 400 mil que ele dirige - e afirma ter sido presente do empresário - a instabilidade de um noivado que parecia fadado ao casamento - definitivamente desfeito após a festinha - e a frequência com que surge nas páginas e colunas que não são as de esportes nos jornais e nos portais de Internet, já preocupam dirigentes e até colegas do elenco. Não têm faltado conselhos.

Hugo tem todo direito de aproveitar a vida. De curtir os anos de uma juventude que passa rápido. E nós, nenhum direito de nos intrometermos na sua privacidade. Até que isso transgrida a lei - como no caso da balada clandestina - ou interfira no seu desempenho dentro do campo.

O goleiro ainda está em formação. É muito bom, sem dúvida, acima da média. Mas, em alguns momentos, quando hoje substitui Diego Alves, já não demonstra a mesma segurança, a autoconfiança dos primeiros jogos. Precisa de lapidação em vários fundamentos - a saída de bola, principalmente - onde continua a errar com frequência, desde a desastrada jogada que resultou no gol do São Paulo na Copa do Brasil do ano passado.

Para crescer e de fato brilhar como pode e merece, Hugo precisa mudar. Precisa de concentração, de dedicação e de apoio. E a hora de focar na bola é essa. Ou pode ser tarde demais.

Hugo Souza - Flamengo

Hugo Souza foi titular durante a campanha do Brasileirão 2020 (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Fonte: Lancenet