Dida no início de carreira no Flamengo — Foto: Arquivo / Museu dos Esportes
O alagoano Dida deixou o Flamengo em 1963. Na época, era o maior artilheiro da história do clube, com 264 gols.
O tempo passou e a ruptura era inevitável. Além do Flamengo, o atacante jogou no CSA, clube que o revelou, Portuguesa e Junior Barranquilla. Ele encerrou a carreira na Colômbia, aos 34 anos.
Isso mesmo. O primeiro adversário do Flamengo na Libertadores de 2020 também reverencia o talento de Dida. Quarta, às 21h30 (de Brasília), os times se encontram no Estádio Metropolitano, em Barranquilla.
Dida com a camisa do Junior Barranquilla — Foto: Dider Ariza Ospino/Arquivo pessoal
Em Maceió, Edson Santa Rosa, irmão mais novo de Dida, lembra a passagem do camisa 10 pelo Junior. O atacante fez 46 gols na Colômbia e virou ídolo por lá.
- Dida jogou duas temporadas pelo Junior Barranquilla, em 1966 e 1967. Em 1968, com 34 anos, ele não atuou mais e encerrou a carreira. Quando deixou o clube, retornando ao Brasil, surgiu a notícia de que ele teria um busto, em Barranquilla ou Bogotá, como homenagem, e que só Di Stéfano e Pelé teriam igual honraria. Nós da família não soubemos se foi feito mesmo este busto - lembrou o ex-bancário Edson, que tem 80 anos e guarda os arquivos e a história do irmão.
Ele puxou da memória um lance mágico de Dida em Barranquilla.
- Foi belíssima a passagem do Dida por aquela agremiação, com gols fantásticos, inclusive um de bicicleta, em 1966 ou 1967, não recordo bem o ano. Esse gol foi tão especial que até hoje os torcedores mais velhos de lá lembram. Depois de um escanteio, ele fez a jogada acrobática e marcou o quarto gol do Junior no duelo com o Unión Magdalena. Era um jogador extraordinário.
Mas a vida do alagoano não foi tranquila na Colômbia. Ele sofreu por causa de uma fobia. Edson disse que isso atrapalhou a carreira do irmão.
- Dida falava muito sobre esse negócio do avião. Ele e o Gerson, canhota, tinham muito medo. Pois bem: Barranquilla exigia muitas viagens aéreas pela Colômbia. Na época, as máquinas eram velhas e ainda tinha a Cordilheira dos Andes. Subia e descia o tempo todo. Muitas vezes, Dida entrou em campo ainda nervoso por causa da viagem. Esse foi um desafio a mais para ele.
Edson acompanhava os jogos do irmão com algum tempo de atraso. No cinema, esperava com ansiedade as edições do Canal 100. A comunicação era difícil nas décadas de 50 e 60. Às vezes, recebia notícia apenas por telegrama.
Camisa de Dida exposta no Museu dos Esportes, em Maceió — Foto: Jota Rufino/GloboEsporte.com
- Lembro de um jogo que assisti no cinema em Maceió. Ficou marcado. Dida fez três gols no Vasco, e o Flamengo venceu por 4 a 1. Num deles, ele arrancou pela ponta direita e saiu driblando. Desconcertou o Bellini e fez um golaço. Parecia uma jogada de Garrincha. Ele também marcou quatro gols na final do Carioca de 1955, contra o América. A camisa desse jogo estava comigo e fiz a doação ao Museu dos Esportes que leva o nome do meu irmão, em Maceió. Para os mais jovens, posso dizer que o Dida tinha o arranque de Kaká e Ronaldo Fenômeno, e o oportunismo do Romário. O problema do meu irmão era a timidez. Isso, de certa forma, prejudicou seu contato com a imprensa - contou Edson.
Lembranças...
O jogo desta quarta entre Flamengo e Junior Barranquilla vai ser diferente para a família Santa Rosa. Edson iniciou a contagem regressiva.
- Todos nós somos torcedores do Flamengo. Meus pais tiveram onze filhos, dez homens e uma mulher. Sou o único vivo, mas tem os filhos, netos, sobrinhos... Vai ser interessante assistir a um jogo internacional entre duas camisas tão importantes para a história do meu irmão. O futebol costuma aprontar boas surpresas.
Diretor do Museu dos Esportes de Alagoas, Lauthenay Perdigão (centro) e os irmãos Santa Rosa: Wilson, Luiz, Dida e Edson — Foto: Arquivo Museu dos Esportes
Ídolo de Zico
Dida é tão importante para o Flamengo que ele foi o ídolo e a inspiração de Zico. O Galinho ganhou corpo, criou sua lenda na Gávea e tempos depois ultrapassou Dida no posto de maior artilheiro do clube. Fez 508 gols, entre 1972 e 1989.
- Dida falava do Zico. Dizia: "Aquele garoto muito bom de bola". Curiosamente, o pai do Zico, o Antunes, era fã do Dida e passou isso para ele. O Zico falou sempre com muito carinho do meu irmão. A família fica muito feliz com isso. Engraçado é que o Dida era tímido, e o Zico também ficava acanhado de chegar perto de um ídolo da infância. O encontro não foi fácil (risos). Mas a história conta que o Dida passou a camisa 10 do Flamengo para ele. São os maiores artilheiros do clube - destacou Edson Santa Rosa.
Dida e Zico: os dois maiores artilheiros do Flamengo — Foto: Arquivo/Museu do Esporte
Camisa 10 da Gávea
No Flamengo, Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Dida, foi campeão carioca em 1954, 1955 e 1963. Conquistou ainda o Rio-São Paulo de 1961.
Jogou 357 partidas pelo time carioca e, depois de rusgas com o técnico Flávio Costa, foi para a Portuguesa em 1964. Da Lusa, o atacante se transferiu em 1966 para o Junior.
Quando defendia o Flamengo, o alagoano foi ainda campeão do mundo com a seleção brasileira. Começou a Copa de 1958 entre os titulares e perdeu o lugar no time apenas para Pelé.
Dida morreu no Rio de Janeiro em 17 de setembro de 2002, aos 68 anos.