Landim detalha planos do Flamengo para novo estádio e Maracanã e explica discussão sobre SAF e Liga no clube

Em fim de mandato, o presidente do Flamengo Rodolfo Landim trabalha para se transformar no novo CEO do clube, caso o candidato da situação, Rodrigo Dunshee, vença as eleições em 9 de dezembro.

Em entrevista ao GLOBO, o atual mandatário deixou claro que vai centralizar assuntos estratégicos do clube e se afastar um pouco do futebol, que ficará sob a batuta do novo presidente.

Entre os temas que estão diretamente ligados ao "sim" de Landim para se tornar CEO, estão o estádio próprio, o Maracanã, e as discussões sobre SAF e Liga no clube.

Em que pé estão as burocracias para o início das obras do estádio?

O plano urbanístico do Rio de Janeiro precisa mudar e os coeficientes de construção dos novos terrenos acordados para onde seria transferido o potencial construtivo daquele terreno precisam ser aprovados pela Câmara dos Vereadores. Primeiro ponto é esse projeto de lei ser encaminhado para lá. Este potencial tirou do valor do terreno uns R$ 500 milhões no mínimo. Um terreno como aquele, naquele local, valeria isto. Com o potencial construtivo dele, o que que a Prefeitura fez? Como que vale o potencial construtivo? Ela transferiu o potencial, então ela nos deu R$ 500 milhões. Então eu só fiquei com o terreno. Porque o terreno só dá para construir um metro quadrado por cada metro quadrado que tem. Por isso que o terreno não vale tanto. O que vale é o potencial construtivo. Então o terreno ficou barato.

A segunda coisa, ela tem que aprovar que ali naquele local, para o estádio, um projeto especial que não vai precisar de potencial construtivo. Uma coisa está ligada a outra. Ela não ia remanejar e dar isso tudo se o Flamengo tivesse que comprar. Então ela tem que remanejar potencial construtivo para o terreno e tem que zerar a necessidade de compra de potencial construtivo para o estádio do Flamengo. E a terceira coisa que ela se comprometeu conosco e que vai ser feito num segundo momento: aprovar o potencial construtivo da Gávea. Que é basicamente o que ela fez com o Vasco. Aqui, na Gávea, o potencial construtivo tem um valor maior. Mais o que o prefeito quer nos dar é um cheque equivalente ao que ele deu para o Vasco. Que este dinheiro será um dinheiro carimbado para fazer o estádio. Então, nesse projeto a gente tira 500 milhões de gastos no terreno e ganha 500 milhões de um potencial construtivo da Gávea. Num balanço, a prefeitura entra na viabilização do projeto com R$ 1 bilhão.

Já se pode cravar a capacidade do estádio?

Ainda tem algumas coisas para amarrar com os bombeiros em relação ao projeto. Dependendo do que a gente negociar, você vai poder aumentar ou diminuir o número de pessoas do estádio Mas os números são entre 75 e 79 mil lugares no total.

O que muda com a concessão do Maracanã agora de 20 anos?

Agora tem que fazer um monte de coisa. Vamos fazer algumas modificações na separação das torcidas. Vamos tentar negociar melhor com a polícia para poder fazer a separação para a gente não perder tanto ingresso que a gente perde. Agora que é definitivo, eu vou chegar para os caras e dizer, vem cá, o que que você quer? O que que eu preciso fazer para te dar conforto para você poder aceitar, aprovar a minha operação? Bom, a gente vai ter que conversar com eles, uma vez eles estabelecendo isso como que a gente vai ter um prazo de execução disso. Se ficar pronto no ano que vem já começa a valer, com certeza. O mais rápido possível. Porque isso é perda de receita para a gente.

O estádio foi o que motivou você a aceitar o cargo de CEO caso seu grupo se eleja?

Cara, é um dos motivos. É muita coisa acontecendo. Mas é um dos. Cara, assim, o Rodrigo (Dunshee) veio ter uma conversa franca comigo aqui. Eu acho que a gente precisa fazer umas mudanças estatutárias no clube. Precisa ser modernizado em algumas coisas. O clube era um clube social que nem os outros aqui. Foi crescendo, crescendo, crescendo. Hoje tem uma receita de R$ 1.3 bilhão. Então, eu estava me propondo a ir para o Conselho Deliberativo porque as mudanças estatutárias são conduzidas por uma das comissões, a de estatuto. Queria contribuir com o pouco conhecimento de governança corporativa que eu tive na minha vida profissional. Só que aí o Rodrigo chega para mim e fala assim: "Cara, tu tem uma outra experiência aqui. De tocar a companhia e de estruturar projetos novos. Com todo o respeito à sua escolha, a sua decisão, é perder a tua experiência para tocar o dia a dia do clube e implementar coisas maiores para o clube. É um desperdício, cara". Aí eu falo: "Mas o cara que vai ser o presidente é você. Ele falou: "Não, vamos continuar com o mesmo grupo aqui. Sai dessa sala, vai para aquela sala ali, a gente fica junto aqui, tocando o clube junto. Continuando a fazer, a dar sequência no trabalho que a gente está fazendo". Onde é que eu posso ser mais útil para o Flamengo? A discussão passou a ser essa. Em uma continuidade do grupo gerindo o clube, onde é que eu posso, de certa forma, agregar mais, ajudar mais. Foi por isso que eu falei para ele. Então tá bom. Podemos fazer isso.

O Dunshee disse agora numa entrevista recente que não vale a pena profissionalizar tanto o departamento de futebol, concorda?

Eu vi aquilo. Eu sabia que isso ia gerar polêmica. Talvez o que ele queira dizer, se você for ver o que ele fala, é concentrar tanto poder na mão de uma pessoa só. E aí ele fala do Rodrigo Caetano. Ele quer profissionalizar, ele quer botar um cara para poder tocar. O que ele chama de profissionalizar é centralizar a profissionalização só na mão de uma pessoa. E aí eu acho que ele tem razão.

Você falou que não seria CEO de SAF nenhuma, depois a discussão eleitoral matou a chance da SAF. Você, como CEO, vai tentar trazer isso de volta?

A discussão da SAF se deu porque é difícil separar uma coisa da outra. A gente queria o estádio, como é que a gente vai financiar o estádio? Como é que a gente vai botar o dinheiro para dentro? E uma alternativa que surgiu para poder botar mais dinheiro, que eu já expliquei para você que já apareceu um R$ 1 bilhão que não existia antes aqui. Era na eventualidade da necessidade de ter dinheiro, fazer uma SAF, mas nunca uma SAF no modelo que a gente tem no Brasil, que é uma SAF de controle e tal. Era uma SAF minoritária. Mas deixa de existir essa necessidade no momento em que você consegue ter um plano financeiro para a construção do estádio, em que você independe de injeção de capital de terceiro.

Nunca fui eu que provoquei isso. Essa discussão foi provocada pelo presidente do Conselho Deliberativo e pelo presidente do Conselho da Administração, que em conjunto, convocaram aqui duas reuniões para poder falar de SAF, mas assim, vendendo o SAF como sendo uma coisa boa. Agora, a gente recebeu a proposta clara de fazer uma SAF, o Flamengo recebeu a proposta estruturada de um grande apoiador da campanha do BAP, que está ali em cima da mesa, quer ver?

- Sim

(Landim busca o documento e começa a passar as páginas na mesa). Aqui. Clube de Regatas do Flamengo, BTG Pactual e Win The Game. Quem são os caras? Conhece alguém? (Aponta para o ex-vice de finanças do clube, Claudio Pracownik, apoiador de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, candidato da oposição)

Quando foi isso?

Quando os caras começaram a sair (da gestão) começou a confusão. Porque eu engavetei, né? E aqui tem o percentual, o quanto cada um ia ganhar, está tudo aqui.

E a Liga, ainda tem jeito?

Minha finada avó, ela falava que às vezes as coisas se resolvem na vida por amor ou pela dor. E eu acho que não foi no amor, mas eu espero que na dor pelo menos a gente resolva. Porque a gente precisa criar a liga. Eu acho que o grupo que a gente fez tem mais valor, traz mais valor para a mesa. E acho que o outro grupo vai ter dificuldades. Não só pelo fato de que eu acho que tem menos dinheiro na mesa, como também pelo fato de que eles acabaram, talvez por uma necessidade imediata e tudo isso, comprometendo uma parcela da receita futura deles complicada. O ideal, acho que se todos nós tivéssemos negociado em conjunto como liga, eu não tenho dúvida que eles sairiam com um produto melhor. Acho que todo mundo sairia com algo melhor. Acho que a gente teria condição de negociar isso fatiando melhor o nosso produto, gerando mais valor. Acho que o fato de ser separado acabou atrapalhando.

Fonte: O Globo