Mesmo após conquistar a Copa do Brasil e cair nas graças da torcida, Filipe Luís passou por um período de indefinição no Flamengo, assim como outros profissionais do clube devido ao cenário eleitoral.
Com a eleição de Bap para a presidência e a chegada de José Boto como diretor técnico, a principal dúvida passou a ser: quem comandaria o time em 2025? Durante o debate presidencial promovido pela ESPN, o novo mandatário rubro-negro garantiu a permanência de Filipe Luís.
No entanto, Bap deu liberdade para Boto definir o treinador. Em entrevista exclusiva ao repórter Pedro Henrique Torre, da ESPN, o dirigente português detalhou o processo de escolha e revelou como sua visão inicial sobre a decisão foi sendo ajustada ao longo das conversas.
"Ainda bem que me dá oportunidade de falar sobre isso. Quando falei antes, fui mal interpretado. Volto a dizer: quando comecei a falar com o Bap, uma das questões que coloquei é que não faz o menor sentido ser o diretor e trabalhar com um treinador que não confio. Para mim, é meio caminho andado para o insucesso. Pus como condição ter uma voz bem ativa na escolha do treinador. Posso dizer que nessa altura nem o Filipe era treinador do time principal do Flamengo. Depois, como é óbvio, eu segui o Flamengo de forma atenta, estudando o elenco e o que o treinador daria. Para a realidade do Brasil, percebi que ele era muito diferenciado".
"Ouvia com muita atenção as coletivas que ele fazia, o que indica muito sobre o conhecimento técnico e tático. E quando chegou o momento de tomar a decisão, achei por bem ficar com ele, por feeling e um estudo que tinha. O Filipe tem todas as características de um treinador de alto nível. A primeira delas é ter a noção que tudo que foi como jogador de futebol tem pouco para a profissão que tem agora. Quando tem isso bem claro, é meio caminho andado para se tornar melhor técnico, porque te obriga a estudar, a ser inquieto. E ele é exatamente assim, alguém com sede de conhecimento enorme".
"Por isso, na minha opinião, ele vai ser o treinador que vai mudar a cara do brasileiro na Europa. Isso não quer dizer que não existam outros treinadores brasileiros com muito conhecimento. Ele vai virar essa imagem que na Europa se tem do treinador brasileiro. Já disse a ele um pouco como brincadeira, mas é algo que acredito mesmo. Ele vai acabar com a hegemonia dos treinadores portugueses no Brasil", completou.
Boto ainda compartilhou detalhes do primeiro contato com Filipe Luís, destacando a transparência sobre sua metodologia de trabalho e a receptividade do técnico em relação ao projeto traçado para o clube.
"A primeira vez que falei com o Filipe foi por telefone. Eu gosto de opinar. Alguns treinadores não levam isso bem, mas ele disse 'não quero que me digam sim em tudo'. Temos uma discussão saudável desde o elenco até questões táticas do jogo. Discutimos e isso faz ambos crescerem. Foi sempre a relação que eu tive com os treinadores do Shakhtar, Paulo Fonseca, Luis Castro, e Roberto de Zerbi. Com todos eles, tive essa abertura de opinar, de chamar atenção para isso ou aquilo e também ouvir explicação. Temos uma relação excelente a nível profissional".
Por fim, o diretor técnico ressaltou que o conhecimento e a identificação de Filipe Luís com o Flamengo foram determinantes para sua escolha, alinhando-se perfeitamente à proposta da diretoria para a temporada.
"O que posso dizer é que o Flamengo tem um DNA. Basta olhar quem foram os jogadores, os ídolos do Flamengo, como o clube passou a ser conhecido na Europa, um jogo ofensivo, dominante, com uma equipe que propor e nunca especula. É criar a partir disso um modelo do Flamengo, que encarna o que o Filipe quer para sua equipe. Tendo isso definido, é tudo mais fácil".
"Eu tive a experiência no Shakhtar, onde mudávamos o treinador, mas não o modelo de jogo e o perfil do técnico. Existe uma maneira de jogar, e os treinadores são escolhidos por essa maneira de jogar. Aconteceu com Luis Castro, com De Zerbi, que tinham perfil semelhante. É essa a ideia que temos para o Flamengo. Felizmente o Filipe tem esse modelo de jogo e quem vier a seguida terá um modelo parecido. Mas os torcedores não precisam se preocupar com isso. Nós estamos preocupados em dar alegrias à torcida, em ver as pessoas felizes com os resultados", finalizou.