Jogadores do Flamengo interrompem coletiva e dão banho no técnico Rogério Ceni

Técnico do Flamengo bicampeão brasileiro na noite desta quinta-feira, Rogério Ceni não escapou do tradicional banho de água gelada. Comandados por Gerson e Diego Alves, os jogadores rubro-negros interromperam a coletiva de imprensa transmitida pela Fla TV e encharcaram o treinador quando começava a responder a uma pergunta a respeito do descanso que pretende dar aos jogadores rubro-negros por conta do time "no limite" neste fim de temporada.

- Tá gelado pra c*** isso aí, rapá! Que falta de respeito... - se queixou Rogério Ceni, com bom humor, depois do banho.

Rogério Ceni toma um banho na coletiva de imprensa após título do Flamengo — Foto: Reprodução
1 de 1 Rogério Ceni toma um banho na coletiva de imprensa após título do Flamengo — Foto: Reprodução

Rogério Ceni toma um banho na coletiva de imprensa após título do Flamengo — Foto: Reprodução

O técnico comentou a importância do título e de ter marcado seu nome na história do clube:

- Para mim é especial, porque passo todo dia no corredor do CT, e fico oito, dez horas trabalhando, todos os dias, chego cedo e volto no fim da tarde, e vejo a foto desses caras que ganharam tudo. E eu sempre disse que não iria embora do Flamengo sem colocar a minha foto também na parede. Então fico feliz de ter conseguido esse título e com certeza que uma nova pintura, um novo pôster vai estar lá na parede. E quando você coloca seu nome na parede de um clube do tamanho do Flamengo, você fica eternizado.

O Flamengo perdeu por 2 a 1 para o São Paulo na noite desta quinta-feira, os gols marcados por Luciano e Pablo, com Bruno Henrique descontando para o Fla. Mas a equipe conquistou o título brasileiro porque o Inter não conseguiu vencer o Corinthians e ficou apenas no empate sem gols. Dessa forma, o Flamengo terminou com 71 pontos, e o Inter, com 70.

Veja a íntegra da entrevista coletiva de Rogério Ceni:

Tìtulo no Morumbi


- Sem dúvida esse local é especial para mim, comecei como atleta aqui, joguei por 25 anos nesse clube, uma história que não vai se apagar nunca. Sou eternamente grato ao torcedor e ao clube que me projetou para o mundo do futebol. Essa segunda parte como treinador, começando no São Paulo e indo para o Fortaleza, tenho esse presente que é ganhar esse Brasileiro rubro-negro. Colocar uma estrela no peito das cores vermelha e preta do Flamengo. Então é especial pelo clube que comecei a minha vida aos 17 anos e hoje pelo clube que posso trabalhar com apenas quatro anos de carreira, e em quatro Brasileiros ter ganho dois, um com o Fortaleza, e outro hoje com o Flamengo.

Derrota no jogo decisivo

- Honestamente eu não gosto de perder. Não me conformo de ter perdido hoje. Novamente dominamos o jogo. O São Paulo fez um gol em um erro de arbitragem. Não conseguimos converter esse domínio em gols. Claro que é um campeonato de pontos corridos, o que vale é o todo. Acho que em um momento desacreditado do Flamengo quando chegamos aqui, conseguimos fazer 36 pontos em 18 jogos, ou seja, 66,6% de aproveitamento, e em um campeonato tão parelho, o torcedor flamenguista, o Rio de Janeiro, o Brasil como um todo, mas o Rio em especial, amanhece muito mais alegre, feliz, muito mais vermelho e preto.

Pausa

- Teremos um intervalo para esses jogadores. Teve pandemia e não teve futebol durante a pandemia.

Nesse momento a coletiva foi interrompida com um banho em Ceni, que brincou:

- Falta de respeito!

Em seguida, respondeu:

- Foi um dos brasileiros mais equilibrados, pela maneira como tudo aconteceu. Esses jogadores terão alguns dias de folga. A curto prazo podem sentir, alguns jogos, algumas derrotas, mas a médio e longo prazo esses dias que vão ficar parados tendem a reverter em coisas boas. Se a gente aglomerar essa temporada já para o primeiro jogo, a longo prazo a gente tende a perder. Hoje, Diego com muita dor na posterior, Rodrigo Caio jogou lesionado, não fez uma arrancada para frente no ataque por isso, Gabriel com dores no tornozelo. O time chegou hoje em uma situação de limite. Se a gente não parar com esses atletas alguns dias, não vamos conseguir fazer com que tenham um momento de baixa para ter a retomada em 14 ou 15 dias.

Dificuldades para encaixar o time

- A maior dificuldade foi entender o momento certo para colocar, porque você em um clube tem de conhecer as características, os atletas, os atletas de base, algumas coisas foram mudadas. Acho que fizemos um "all in" (expressão em inglês usada nos jogos de pôquer que significa apostar todas as fichas) para o jogo contra o Goiás resolvemos trazer o Arão para a zaga, fazer um meio de campo mais técnico. Fizemos o Filipe Luís jogando muito mais por dentro do que na linha de fundo, com o Isla que tem mais essa característica por fora. Então essas mudanças acho que foram importantes, e lógico que tem a qualidade individual dos atletas e o interesse em trabalhar.

- São caras consagrados, que ganharam muita coisa na Europa e aqui, mas têm prazer e vontade, querem informação. Então eu tenho de trabalhar muito todos os dias para fornecer todo o material que eles necessitam, mas são caras que te dão retorno e te entregam tudo dentro do campo. As mudanças não davam para ser feitas em um dia, a mudança do Arão para a zaga nem eu descobri no primeiro dia, fico feliz que nesses pouco mais de três meses a gente possa fechar com um título brasileiro.

"Pôster" na parede e comemoração

- Até agora estava tudo bem, mas agora com essa água gelada... Para mim é especial, porque passo todo dia no corredor do CT, e fico oito, dez horas trabalhando, todos os dias, chego cedo e volto no fim da tarde, e vejo a foto desses caras que ganharam tudo. E eu sempre disse que não iria embora do Flamengo sem colocar a minha foto também na parede. Então fico feliz de ter conseguido esse título e com certeza que uma nova pintura, um novo pôster vai estar lá na parede. E quando você coloca seu nome na parede de um clube do tamanho do Flamengo, você fica eternizado. Um clube que teve Zico, Adílio, Andrade, Júnior, Leandro, Nunes, tantos caras que há 40 anos ganharam títulos tão importantes, talvez esses caras sejam lembrados daqui a 40 anos, falem do Gabriel, do Diego, do Gérson, do Arrascaeta, sejam a mesma referência que foram Zico e tantos ídolos do passado do Flamengo.

Permanência

- Estou seguro que, apesar da derrota de hoje, isso me constrange, mas estou seguro de que estou feliz e quero desfrutar ao máximo esse momento. Eu juro, com quatro anos de carreira chegar ao Flamengo e ser campeão é algo fantástico. Não tenho proposta, absolutamente nada, focado no meu trabalho. E essa pergunta tem de ser feita na verdade para as pessoas que comandam o clube. Eu tento fazer o melhor pelo Flamengo, trabalho muito por isso.

Fatores determinantes

- O determinante foi o interesse deles, a vontade de vencer. Acho que é o meio de campo mais técnico com o qual já trabalhei, sem tanto poder de marcação. São caras que têm vontade de vencer todos os dias. É prazeroso trabalhar com gente assim. Quando tem gente que pode ser espelho para os mais jovens... Os mais jovens não desistiram nunca, compraram a ideia. A gente fecha o campeonato não com a vitória como a gente queria, mas com o título que é muito mais importante, o oitavo título do Flamengo.

Críticas da torcida

- Eu sou muito agradecido, entendo as críticas, o Flamengo vem de um ano extremamente vencedor que nunca havia existido na história do clube. Entendo as comparações, as críticas fazem parte do trabalho, mas eu espero que nos aproxime. É o que posso desejar. Que vocês entendam que apesar de ter jogado a vida inteira no São Paulo, eu sempre fui o melhor cara que eu pude ser todos os dias, e no lugar em que eu trabalhar, continuarei a ser o melhor cara que eu posso todos os dias. Então fiz o meu melhor desde que cheguei. Eu poderia ter aceitado assumir depois da Copa do Brasil. Mas quis vir para cá sem dormir para tentar fazer algo para colaborar. Poderia ter ficado muito cômodo, porque as pessoas colocam na conta, mas não é bem assim que funciona. Mas tenho o maior respeito pelo torcedor, os que criticam e os que incentivam.

Fonte: Globo Esporte