Itens de times campeões viram 'febre' entre torcedores, e mercado cresce com domínio brasileiro na Libertadores

Manhã de sexta-feira. Quase uma semana depois do título brasileiro, duas do da Libertadores e dois dias após a eliminação na Copa Intercontinental. Nada disso esfriou o movimento na loja oficial do Botafogo, na sede de General Severiano. Uma fila foi formada do lado de fora. Lá dentro, torcedores procuravam camisas e souvenirs que lembrassem a temporada vitoriosa. Mas um item em especial era o mais procurado.

— O patch de campeão da Libertadores e a camisa branca, usada na final — conta o gerente da loja Igor Vargas, que completa: — Só não temos nada relacionado à Libertadores agora. Esgotou.

O interesse dos alvinegros repete movimento já registrado no ano passado pelos torcedores do Fluminense, campeão da Libertadores-24; e do Flamengo em 2022 e, principalmente, em 2019; anos em que o rubro-negro também faturou a competição continental. Uma procura de quem vive a euforia pós-título e quer produtos que os ajudem a eternizar as conquistas.

O mercado percebeu a oportunidade e passou a oferecer produtos voltados a torcedores campeões. São camisas comemorativas, réplicas de troféus nos mais variados tamanhos, medalhas iguais (ou quase) às dos jogadores, copos temáticos, chaveiros, entre outros itens.

Nenhum deles parece ser tão desejado quanto os patches. Os emblemas, selados nas camisas sob ferro quente, servem como um selo que identifica o time campeão. Começaram a ser usados nos campeonatos de seleções e de clubes. Hoje, também são oferecidos aos torcedores. E viraram uma febre.

De acordo com a Kit Club, especializada na produção de patches e parceira oficial da CBF e da Conmebol, já foram mais de 20 mil vendidos referentes à Libertadores e ao Brasileiro deste ano. A empresa produz o selo de todas as competições nacionais e internacionais. Mas os do torneio continental são, com sobras, os mais procurados. Até hoje, já foram comercializados 75 mil da versão 2023, 81 mil de 2022 e 95 mil de 2019.

Mais caras (podem chegar a R$ 4 mil), as réplicas de troféus naturalmente saem em menor quantidade. Mas também enchem os olhos dos torcedores.

— Estima-se que os produtos comemorativos representem algo entre 10% e 15% das vendas de licenciados após grandes conquistas. Títulos como a Libertadores ou o Mundial de Clubes geram picos de vendas muito expressivos. Em momentos vitoriosos recentes, Flamengo e Palmeiras conseguiram arrecadações na casa dos milhões de reais apenas com produtos comemorativos — destaca Bruno Brum, diretor de marketing da agência End to End.

Jarbas Meneghini percebeu isso muito antes das marcas. Há 30 anos ele produz, em sua casa no bairro de Campo Grande, cópias idênticas dos troféus originais. Tudo começou com o da Copa do Mundo, em 1994. Desde então, procurou levar suas criações para os estádios, presenteou técnicos e jogadores com elas, chamou a atenção da imprensa e virou referência.

Sua principal clientela eram campeonatos de pelada e bares. Até que, durante a Copa de 2014 e a Rio 2016, notou o aumento do interesse por suas réplicas da taça e das medalhas olímpicas. Em 2019, com a conquista da Libertadores pelo Flamengo, as vendas aumentaram consideravelmente. E explodiram com os títulos de Fluminense e Botafogo em 2023 e 2024.

Mais conhecido como Jarbas das taças, ele as vende tanto próximo ao Maracanã e ao Nilton Santos em dia de final quanto por telefone e rede social. Além de torcedores, os jogadores são seus clientes. Foi ele quem fez a taça da Libertadores que viralizou no ano passado num passeio de jet ski com Alexsander, então do Fluminense. A da edição atual, com o nome do Botafogo, já tem Luiz Henrique, Junior Santos e Gregore na lista de espera.

— Costumo dizer que não vendo o troféu. Mas sim a emoção de ter um — diz.

De fato é o coração que leva o torcedor a comprar. O tricolor Emmanuel Gonsalves guarda em casa uma réplica da taça da Libertadores, a camisa usada na conquista da Recopa com patches dos dois títulos, uma medalha oficial e ainda um cachecol onde se lê “Campeão da América”.

— Houve um esforço muito grande da minha parte. Fui a todos os jogos em casa e viajei em alguns. Daqui a uns 15, 20 anos vou querer recordar tudo isso que vivi. Então esses produtos para mim representam memória — reflete.

Head de marketing da ALL FC, empresa que tem como "carro-chefe" os produtos licenciados de campeão, Daniel Guimarães destacou justamente a demanda da torcida tricolor após a conquista continental no ano passado, o que, na visão dele, deixou claro a ascensão desse mercado, principalmente com o domínio brasileiro nas competições sul-americanas.

A procura por itens dos títulos do Botafogo também vem fazendo jus a uma temporada histórica do clube em 2024. Prova disso é que o primeiro lote com 100 patches de campeão da Libertadores esgotou em menos de 24 horas na loja, com o início das vendas dois dias depois da final. Uma das alvinegras que "correram contra o tempo" foi Gabriela Villela, que fez questão de eternizar a conquista inédita ao lado do escudo na camisa. O próximo desejo dela é comprar taças em miniatura, que podem decorar chaveiros ou abridores.

— Como botafoguense supersticiosa só pensei em comprar os itens depois que o Botafogo foi campeão. Eles representam os meus 27 anos de espera e, agora, vou guardar para sempre como lembrança de um dos momentos mais felizes da minha vida — celebra Gabriela.

O interesse em manter viva a memória dos títulos sempre existiu. Por anos, quando o mercado não oferecia tantos produtos, a demanda era atendida pelos pôsteres e pelas faixas. Ontem, do lado externo da loja do Botafogo, em General Severiano, elas eram oferecidas por vendedores que aproveitavam o entra e sai. Segundo eles, as vendas começam a esfriar. Mas todos se dizem satisfeitos com o resultado das últimas duas semanas. Já torcem para que 2025 seja outro ano farto em títulos para o futebol carioca (colaborou Breno Angrisani).

Fonte: Extra