Irmãos lidam com daltonismo, que não os impede de viver por Flamengo e Fluminense

Flamengo e Fluminense entram em campo neste sábado, às 18h30 (horário de Brasília), pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro. O clássico, de número 71 na história de confrontos entre os times na competição, será disputado no Maracanã e contará com a presença de dois irmãos, de lados opostos, mas com uma condição em comum.

As cores, ou o conjunto delas, normalmente compõem a identidade dos clubes e até mesmo o apelido em que são conhecidos, como no caso do rubro-negro e tricolor cariocas. Os irmãos Anderson e Vangeilson Silveira, no entanto, enxergavam nos uniformes dos clubes outras cores.

Moradores do bairro de Vila Operária, em Duque de Caxias, ambos possuem daltonismo, uma condição visual hereditária que afeta 8% dos homens e menos de 1% das mulheres geralmente envolve a incapacidade de distinguir tons de cores e, entre elas, o vermelho e verde, cores predominantes dos rivais cariocas.

- Eu via o Flamengo de laranja e preto. E aí depois, quando eu tive certa maturidade, começa a aprender o hino, as cores do clube, vermelho e preto, foi quando eu consegui identificar - disse Anderson, de 24 anos, ao ge , seguido de seu irmão, Vangeilson, de 25 anos.

Vangeilson e Anderson, irmãos daltônicos e torcedores de Fluminense e Flamengo — Foto: Thalisson Araujo/Globo

- Eu já olhava vermelho e cinza. Desde o comecinho. Porque a gente não sabia. A gente gosta de futebol desde novo, mas, pequeno, daltônico ainda por cima, não tem como entender as cores. Então no começo a gente via assim, vermelho e cinza e branco. E o branco não tinha como.

As cores dos times, que podem ser um motivo de identificação para muitos torcedores, não estiveram entre as razões da paixão por Flamengo e Fluminense . Para Vangeilson, a influência do pai e o título do Campeonato Carioca de 2005, com gol do zagueiro Antônio Carlos, foram essenciais para que ele se tornasse tricolor. Naquele mesmo ano, o Flamengo sofreu para não ser rebaixado. Anderson seguiu o time da avó, flamenguista, e contou que as campanhas contra o rebaixamento em 2005 e o título da Copa do Brasil de 2006, contra o Vasco, também pesaram na decisão.

Rivais em campo, ambos descobriram a condição que tinham em comum ainda jovens. No caso de Vangeilson, a descoberta ocorreu por volta dos 13 anos de idade, após um curso de mecânica de automóveis. Ele chegou a tirar nota máxima na prova teórica, mas, na prática, não conseguia reconhecer as cores dos fios. Já Anderson descobriu por volta dos 14 anos jogando damas. Entre uma jogada e outra, ele acabava trocando as peças, que eram azuis, com as do adversário, lilás.

Vangeilson e Anderson, irmãos daltônicos e torcedores de Fluminense e Flamengo — Foto: Thalisson Araujo/Globo

Mesmo com a dificuldade em distinguir as cores dos uniformes em campo, o daltonismo é driblado pelos irmãos: reconhecem primeiro os jogadores e, então, se atentam aos uniformes. Pela televisão, no entanto, contam que é mais difícil. Em uma partida entre Flamengo e Maringá, pela Copa do Brasil, por exemplo, para eles era quase impossível diferenciar os dois times.

- Quando eu liguei a televisão tava confundindo o vermelho e o preto por conta da imagem, o Maringá se eu não me engano estava de verde, então eu confundi, eu tive que olhar pro Gabigol, tive que olhar para o David Luiz e Filipe Luís para saber que o Flamengo estava atacando para determinado lado e o Maringá para o outro - contou Anderson.

Outro exemplo foi a braçadeira nas cores LGBTQIA+ exposta no Maracanã. Das seis cores, Anderson e Vangeilson só enxergavam o amarelo, e na manga da segunda camisa do Fluminense , com as listras branca, verde e grená, o verde passou batido.

Como chegam os dois times

Será o primeiro jogo do Flu no Maracanã após conquistar a Copa Conmebol Libertadores. A equipe de Fernando Diniz fez seu primeiro jogo como campeão da América no empate com o Internacional, no Beira-Rio. Já pelo lado rubro-negro, o Flamengo chega com ânimo renovado depois de vencer o Palmeiras por 3 a 0 e ver a possibilidade de titulo do Brasileirão mais vivo do que nunca.

Anderson disse estar animado com o momento do Flamengo e que a equipe de Tite pode ter ainda um motivo para comemorar em 2023.

- Ganhando hoje, começo a acreditar no título brasileiro. Mas, se Deus quiser, confirma a vaga na Libertadores. O Tite está dando o caminho das pedras e mostrando que é um treinador que dá liberdade aos jogadores. O simples funciona bastante.

O irmão mais velho, Vangeilson, pensa que o time de Fernando Diniz não deve aliviar o rival no clássico mesmo com o Flu ainda em lua de mel com a conquista da América.

- Para mim, o Fluminense vai botar o pé firme e vai jogar para ganhar o jogo. Até porque Botafogo e Flamengo estão disputando o título e a gente não quer rival nenhum comemorando no nosso ano. O ano é nosso e não deles.

Com Anderson e Vangeilson presentes, cada um em sua respectiva torcida, Flamengo e Fluminense se enfrentam neste sábado, no Maracanã, às 18h30, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Fonte: Globo Esporte