Gabigol não usará mais a camisa 10 do Flamengo em torneios que a numeração ainda pode ser alterada para a edição 2024 e foi multado em R$ 180 mil , 10% do seu salário , após ter uma foto vazada vestindo uma camisa do Corinthians . Essas foram as consequências práticas direta da crise que movimentou a noite da última quinta e a manhã de sexta-feira (19) no clube rubro-negro.

Nos bastidores do dia a dia do Ninho do Urubu, no entanto, as consequências não pararam por aí. O ESPN.com.br conversou com pessoas presentes ao pagode na casa de Gabriel, atletas e membros do estafe do Flamengo para contar os bastidores da mais nova polêmica envolvendo o, agora, ex-camisa 10.

Braz define punição

Com a decisão em mente já na noite de quinta, o vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz, liderou o processo que culminou nas punições a Gabigol e ordenou cautela às lideranças do departamento para que o clube se resguardasse jurídica e publicamente.

Em contato direto com o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que acompanhou as cenas da “novela” de longe e deu carta branca para que Braz executasse as penas.

Mesmo já informado por pessoas presentes à confraternização na casa do atacante que a imagem que circulava nas redes sociais era verídica, Braz não quis ter pressa. O dirigente queria ouvir a versão de Gabigol pessoalmente, uma vez que o mesmo, através de seu estafe, negava o que todos do clube já tratavam como fato, não especulação.

Diretoria e integrantes do dia a dia do Ninho do Urubu esperavam que Gabriel pudesse se retratar sobre o ocorrido e amenizar a crise interna. Pelo contrário. Ainda que não rebatesse a veracidade da imagem vazada internamente, o atacante não esboçou nenhum pedido de desculpas desde que entrou no centro de treinamento, no início da tarde de sexta. O comportamento aumentou o incômodo de Marcos Braz.

Em conversas com pessoas que ia cruzando pelo CT, toda a fala de Gabigol era no sentido de tentar explicar que não houve provocação ou desejo de vazamento. Ele reforçava que a tarde de pagode comandada pelos artistas Jorginho Faria e Thiago Gross em sua mansão era para “pouco mais de dez pessoas” e que não via problema em usar uma camisa que ganhou de presente em um ambiente reservado.

Sem que ninguém aliviasse sua atitude, Gabriel foi tendo noção que a crise era muito maior do que ele e estafe insistiam em tratar com algo sem problemas.

Após rápida passagem na fisioterapia, Gabriel seguiu para uma conversa particular, em sala fechada, com Marcos Braz. O atacante mais uma vez não confrontou a versão da foto que circulava nas redes. Sucinto, o vice de futebol tentou demonstrar praticidade e apenas comunicou a multa e a determinação que ele não mais vestiria a “10”.

Braz sabia que tirar a camisa emblemática de Gabriel iria ferir sua vaidade. O atacante não disfarçou o golpe duro. Muito abalado, foi orientado a ir para casa e se reapresentar para o treino deste sábado. Ele não esboçou reação e, cabisbaixo, deixou o Ninho do Urubu.

Jogadores reprovam atitude, mas mostram indiferença

Enquanto Braz e Gabigol deixavam a sala de reunião, o elenco do Flamengo treinava normalmente em um dos campos do Ninho do Urubu. Ainda que o assunto tenha dominado as rodas de conversas de forma até óbvia, não houve qualquer comoção dos jogadores pela punição do companheiro.

O cenário de “indiferença”, termo citado por pessoas ouvidas pela reportagem, contrasta com o enorme abatimento dentro do elenco em crises recentes, como os casos da agressão de um preparador físico da comissão técnica de Jorge Sampaoli a Pedro em 2023 e a briga entre Varela e Gerson em um treino pouco tempo depois.

A indiferença do grupo após mais uma polêmica de Gabigol dialoga com o isolamento de um atleta com cada vez menos apoio interno no grupo. Desde a saída de nomes próximos como Filipe Luis, Rodrigo Caio, Matheusinho, Diego Ribas e Diego Alves, o atacante não demonstra nenhuma relação mais próxima dentro do atual elenco.

Sinal disso foi a baixa quantidade de comentários dos atletas quando informados sobre a foto vazada, ainda na noite de quinta-feira. Nomes como Gerson, Bruno Henrique e Arrascaeta, que jantavam juntos em um restaurante, lamentaram a mais nova atitude polêmica de Gabigol, mas seguiram normalmente o dia de folga.

A preocupação dominava apenas a cúpula do futebol e a comissão técnica, que dias atrás receberam Gabigol de volta no CT após punição por tentativa de fraudar um exame antidoping com abraços, aplausos e tom festivo. O sentimento era de total decepção e incredulidade.

Flamengo vê ciclo se encerrando

A crise da foto com a camisa corintiana tirou de pauta um assunto que insistia em se arrastar ao longo do tempo e nunca esteve perto de um desfecho positivo: a renovação de contrato do atacante. Gabigol não perdeu apenas a camisa 10 e parte do salário, mas também o que restava de apoio dentro do clube e até em parte da arquibancada pela sua permanência.

Com a imagem do jogador absolutamente desgastada, a ordem dentro do Flamengo é não mover qualquer esforço pela pauta de ampliação do vínculo que se encerra no final de 2024. A opinião dentro do Rubro-Negro é praticamente unânime: sem clima, o ciclo de um dos maiores ídolos da história recente do clube está se encerrando.

Um post nas redes sociais na noite da última sexta-feira encerrou qualquer paciência que ainda pudesse existir dentro da diretoria. Novamente sem reconhecer o que o clube classificou e puniu como um erro, o atleta prometeu acatar as decisões superiores e “dar a vida pelo Mengão até o fim da nossa história”. Ao que tudo indica, no entanto, ele não terá muito tempo para isso.

De qualquer forma, Gabigol está à disposição para o próximo compromisso do Flamengo, nesta quarta-feira (22), contra o Amazonas , jogo de volta da terceira rodada da Copa do Brasil . A princípio, ele viaja para Manaus para o que será sua primeira camisa sem o número 10 nas costas.

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