Ídolos do Fla condenam decisão sobre 87 e criticam time atual: "Queremos suor"

Ídolos da história rubro-negra, Rondinelli, Andrade e Leandro fizeram parte de uma geração do Flamengo que marcou época e acumulou títulos na década de 1980. Nesta quinta-feira, mais de 30 anos depois de conquistarem o Brasil e o mundo, os ex-jogadores marcaram presença em um evento em Cabo Frio, Região dos Lagos do Rio, e pararam o shopping da cidade.

Entre fotos e pedidos de autógrafos das centenas de fãs que marcaram presença no local para prestigiar os ídolos do passado, os jogadores conversaram com o GloboEsporte.com sobre o momento do clube e sobre a interminável discussão sobre o título do Brasileiro de 1987 .

"Se eu tivesse morrido no Maracanã, em qualquer jogo em disputa, defendendo as cores do Flamengo, eu morreria feliz da vida", Rondinelli

Falta de "raça" desagrada

O encontro com os torcedores aconteceu poucas horas antes da eliminação do Flamengo para o Fluminense com o empate em 1 a 1 na semifinal da Taça Rio . Mesmo antes da queda do clube para o Tricolor no segundo turno do Carioca, o atual elenco não escapou das críticas dos veteranos, que cobraram mais dedicação dos jogadores.

Conhecido como "Deus da Raça", principalmente pela entrega nos gramados, Rondinelli carimbou o nome na história ao marcar o gol que garantiu o título do Fla no estadual de 1978 e cobrou a nova geração.

- O que nós queremos ver é exatamente a entrega. É o suor. A verdadeira raiz, a verdadeira essência do Flamengo é a entrega. É você deixar sua vida. Tudo aquilo que fizemos, nós colhemos. Porque tudo o que aprendemos na base, foi a identificação de luta, de raça, determinação, de deixar suor. É o que a gente não vê hoje. Tenho para mim que é uma geração de acomodados e quero terminar assim: a história da "geração Zico" já está concretizada. Nós queremos que eles façam uma nova história para engrandecer mais essa nação.

Rondinelli ainda usou a própria carreira para falar como é possível alcançar a idolatria no clube sem muitas habilidades, somente com empenho e dedicação.

- O Rondinelli representou uma geração de entrega, de raça. E é isso que os torcedores exigem de qualquer Flamengo. Eu tenho sã consciência: o Rondinelli nunca foi um jogador técnico. O Rondinelli foi um jogador de defesa, para evitar gols dos adversários. Com muita determinação e muita entrega. Vou terminar com a seguinte frase: se eu tivesse morrido no Maracanã, em qualquer jogo em disputa, defendendo as cores do Flamengo, eu morreria feliz da vida. E foi dessa maneira que eu aprendi a ter identificação com o Clube de Regatas do Flamengo - Rondinelli.

Último técnico a conquistar o Campeonato Brasileiro à frente do Flamengo, em 2009, Andrade seguiu a linha do "Deus da Raça" para explicar que a torcida rubro-negra valoriza mais a entrega em campo do que a técnica propriamente dita.

- Eu tenho acompanhado desde o início. Acho que a filosofia desses jogadores, acho que eles não conseguiram entender o que é o Flamengo ainda. Às vezes, você pode até estar mal no dia, mas se você demonstrar determinação, demonstrar vontade, a torcida vai empurrar, vai ajudar. Então precisam entender o que é realmente o Flamengo.

Maior nome da lateral direita do Flamengo, Leandro revelou que acaba sofrendo demais com os jogos e que, por isto, prefere não assistir todas as partidas da equipe.

- Sinceramente, tenho acompanhado pouco. Eu posso dizer que sou um torcedor muito crítico, muito exigente. Às vezes eu não consigo ver o jogo todo. Quando vejo muitas besteiras, eu fico nervoso. E se for para eu ficar nervoso, eu prefiro não ver. Mas eu sei que o Flamengo tem um elenco muito bom, um elenco qualificado - afirmou Leandro, completando:

- Acho que precisamos um pouquinho mais de empenho, de vontade de mostrar realmente porque você veste a camisa, a garra do flamenguista. Porque jogadores bons, nós temos, temos um dos melhores elencos do Brasil. Mas isso não comprova que possamos ganhar e sermos campeões de alguma coisa, porque futebol está muito nivelado.

Decisão do STF sobre 87

No último dia 18 de abril, o Supremo Tribunal Federal indeferiu, por 3 votos a 1, o recurso impetrado pelo Flamengo contestando a decisão da Justiça que apontou o Sport como único campeão brasileiro de 1987.

Integrantes do time Rubro-Negro daquele ano, Andrade e Leandro falaram sobre o novo capítulo da polêmica envolvendo o título que se arrasta há anos - Rondinelli não estava mais na equipe naquela temporada. Os discursos foram bem parecidos.

- Não tem muito o que falar. Eles são campeões nos tribunais e nós campeões no campo. E futebol é jogado dentro de campo. Não é no tribunal. O mundo todo nos viu jogar. E no tribunal apenas alguns advogados - Andrade.

- Eu digo o que o Zico sempre falou. Ninguém vai tirar o título da gente. Nós ganhamos o título dos melhores, dentro do campo. Suamos, lutamos, nos machucamos, nos doamos. A decisão é deles. Mas sabemos que jogamos, ganhamos e que somos os campeões - Leandro.

Carinho atemporal dos fãs

Mesmo três décadas após terem brilhado com a camisa rubro-negra e terem conquistado a idolatria, Rondinelli, Andrade e Leandro continuam prestigiados pela torcida. Muito assediados por centenas de torcedores em Cabo Frio, os ídolos do Fla comentaram o carinho dos fãs e o respeito por tudo o que fizeram nos gramados.

- Os anos se passaram, encerramos a carreira, mas, pelo jeito, o carinho do torcedor continua o mesmo. São sempre gentis e generosos. Eu acho que tudo isso é o agradecimento por tudo que nós fizemos. E ficamos felizes. Depois de tanto tempo sem jogar, vemos ainda o reconhecimento do torcedor. Acho que a história não se apaga - Andrade.

- A realidade é realmente a marca. Eu acho que a "geração Zico", essa sigla foi incomensurável em relação a tudo que nos proporcionou e nós fizemos a troca. Nós vestimos o manto sagrado e fizemos por onde na entrega, no profissionalismo, na dedicação. Eu fico realmente meio que emocionado, fico embargado de falar dessa geração - Rondinelli.

- Você vê que Flamengo é uma loucura, é realmente diferente. Você vê tanta gente gritando, cantando as músicas do Flamengo. O tempo pode passar a vontade, que o Flamengo está sempre em nossos corações. E toda vez que participamos de uma homenagem, nos emocionamos cada vez mais. É muito gratificante, mexe com o nosso ego e comprova mais ainda que tudo valeu a pena. Nossa dedicação, nosso empenho pelo Flamengo e tudo que fizemos - Leandro.

Fonte: Globo Esporte