Ídolo de saída, defesa questionada e DM cheio: a crise do Racing antes de pegar o Flamengo

O treinador é contestado pela torcida e parece ter prazo de validade. O time sofreu quatro derrotas seguidas, com 10 gols sofridos e só um marcado. Jogadores importantes estão no departamento médico. O diretor de futebol, ídolo histórico do clube, anunciou que vai deixar o cargo por não estar em sintonia com o presidente.

Se o turbilhão pelo qual o Flamengo passou há algumas semanas preocupou os torcedores, a situação do Racing, rival rubro-negro nas oitavas de final da Libertadores, é ainda mais crítica. A crise na Academia transbordou do campo, atingiu a política de um clube em processo eleitoral e transformou o ambiente às vésperas do duelo mais importante da temporada.

Diego Milito, à esquerda, e Víctor Blanco, presidente, à direita, fazem homenagem a Zaracho, vendido ao Atlético-MG — Foto: Divulgação/Racing
1 de 4 Diego Milito, à esquerda, e Víctor Blanco, presidente, à direita, fazem homenagem a Zaracho, vendido ao Atlético-MG — Foto: Divulgação/Racing

Diego Milito, à esquerda, e Víctor Blanco, presidente, à direita, fazem homenagem a Zaracho, vendido ao Atlético-MG — Foto: Divulgação/Racing

A recuperação do Racing nos últimos anos

Para entender toda a situação, é preciso, primeiro, voltar alguns anos. O Racing é considerado um dos cinco grandes clubes da Argentina. Apesar disso, viveu momentos turbulentos: em 1999, chegou a declarar falência.

As coisas começaram a mudar em 2013, quando Víctor Blanco assumiu a presidência. No ano seguinte, ele trouxe Diego Milito, ídolo do clube, para encerrar a carreira. O time foi campeão argentino em 2014, encerrando jejum de 13 anos.

Torcida do Racing comemora o título argentino de 2019 — Foto: Divulgação/Racing
2 de 4 Torcida do Racing comemora o título argentino de 2019 — Foto: Divulgação/Racing

Torcida do Racing comemora o título argentino de 2019 — Foto: Divulgação/Racing

Milito se aposentou em 2016 e, no ano seguinte, assumiu o cargo de diretor de futebol. Teve papel fundamental na reestruturação do Racing. Em 2019, uma temporada épica - assim como a do Flamengo -, com os títulos do Campeonato Argentino e do Troféu de Campeões, uma espécie de Supercopa argentina.

Beccacece dá entrevista coletiva depois da derrota do Racing — Foto: Reprodução do site oficial do Racing
3 de 4 Beccacece dá entrevista coletiva depois da derrota do Racing — Foto: Reprodução do site oficial do Racing

Beccacece dá entrevista coletiva depois da derrota do Racing — Foto: Reprodução do site oficial do Racing

O time campeão de 2019 era comandado por Eduardo Coudet, que deixou o clube no fim do ano para assumir o Internacional. Milito foi o responsável por escolher Sebastián Beccacece como substituto. E, aí, começam as dificuldades.

Ex-auxiliar de Sampaoli, Beccacece iniciou seu trabalho com bons números, embora o time ainda sofresse alguns questionamentos, especialmente na parte ofensiva. Mas bastou o Campeonato Argentino começar para que o Racing caísse bruscamente de rendimento.

As derrotas do Racing no Campeonato Argentino

Data Adversário Placar
01/11/2020 Atlético Tucumán 1 x 4
08/11/2020 Unión de Santa Fé 0 x 2
14/11/2020 Arsenal de Sarandí 0 x 2
19/11/2020 Atlético Tucumán 0 x 2

A saída de Milito

Em quatro jogos, o Racing perdeu todos. Beccacece passou a ser questionado. A imprensa argentina acredita que o treinador, respaldado apenas por Milito, só permanecerá no comando enquanto o Racing estiver vivo na Libertadores. A situação chegou a um ponto em que o diretor anunciou nas redes sociais que deixaria o clube no fim da temporada.

- Tentei convencer o presidente em romper com antigas estruturas que estão instaladas no clube há muito tempo e deixar para trás velhas políticas dos anos 1990, com as quais sofri. Eu quero outro clube: o do crescimento em estrutura, de montar equipes competitivas que lutem por coisas importantes e que o investimento não seja considerado um gasto - anunciou Milito.

Diego Milito anuncia que deixará a diretoria do Racing — Foto: Reprodução
4 de 4 Diego Milito anuncia que deixará a diretoria do Racing — Foto: Reprodução

Diego Milito anuncia que deixará a diretoria do Racing — Foto: Reprodução

A decisão caiu como uma bomba no Racing. Milito pleiteava um investimento maior no futebol para tocar um projeto considerado ambicioso na Argentina . Sem conseguir, a relação com Blanco , de perfil notadamente austero, se desgastou ao ponto da ruptura.

- Blanco e Milito elevaram o Racing à glória, a participações todos os anos em torneios internacionais e ao crescimento do clube em estrutura. Conseguiram que o Racing fosse notícia por fatos positivos, e não por turbulências, como era antes. Por isso, o torcedor do Racing está magoado por esta separação e pela saída de Milito, um ídolo - explicou Nico Montalá, repórter do jornal argentino "Olé", que cobre o Racing.

Há ainda outro componente na situação. O Racing terá eleições para presidente em dezembro, e a política no clube ficou agitada. A tendência, porém, é que Blanco seja reeleito, até por seu histórico no comando. Outras três chapas disputam o pleito.

- Não tenho nada pessoal contra Víctor, a quem respeito e entendo que dá tudo pela instituição. Ele simplesmente escolhe um modelo diferente, do qual eu não compartilho. Mas ele tem a máxima autoridade de escolher as políticas e alinhamentos aonde quer levar o clube - completou Milito.

DM cheio, defesa em má fase e ataque sem produzir

Em campo, o Racing enumera problemas. A defesa vem sendo criticado pelas más atuações: a média no Campeonato Argentino é de 2,5 gols sofridos por partida.

O ataque, que já vinha sendo questionado antes, piorou e marcou apenas uma vez. Nem mesmo o retorno do veterano Lisandro López foi o suficiente para melhorar a produção de um time que até cria bastante, mas não finaliza bem.

Para completar, o técnico Sebastián Beccacece perdeu nomes importantes por lesão. O principal é o do volante chileno Marcelo Diáz, com um problema no joelho. Juntam-se a ele no departamento médico outros cinco jogadores.

De acordo com a imprensa argentina, a tendência é de que o Racing entre em campo contra o Flamengo com o sistema defensivo reforçado: um 5-3-2 que pode virar 3-4-3 na fase ofensiva. É a tentativa de Beccacece de retomar o bom desempenho do time.

Neste contexto, o Racing voltará suas atenções para a Libertadores. Nesta terça-feira, o Flamengo enfrenta a equipe argentina às 21h30 (de Brasília), no estádio Presidente Perón, pela ida das oitavas de final do torneio. A volta acontece na próxima semana, no Maracanã.

Fonte: Globo Esporte
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