Integrantes da comissão técnica do Flamengo, o fisioterapeuta Laniyan Neves e o massagista Sebastião Freire, ou Curumim, como é conhecido, são parceiros e personagens dos bastidores de um elenco que vem empilhando taças. Apesar de pertenceram a diferentes gerações, eles têm uma relação de mais de uma década, construída muito antes do trabalho no Rubro-Negro, e que constitui o álbum dos encontros e reencontros possíveis no mundo do futebol .
Hoje fisioterapeuta, a história de Laniyan no esporte começou de forma diferente, com a bola nos pés. Depois de dar os primeiros passos, ainda aos sete anos, em uma escolinha de futsal no Méier, bairro onde nasceu, teve passagem pelo Fluminense e, em 2005, chegou ao Vasco , onde fez a transição para o campo. No Cruz-Maltino, passou oito anos e conheceu Curumim, então massagista da categoria sub-20.
"Conheci o Curumim aos 14 anos, em 2005, quando comecei na categoria infantil do Vasco . Ele ainda tinha cabelo (risos). Na ocasião, ele era o massagista do sub-20 . Sempre foi esse cara simples, trabalhador incansável e de uma simpatia ímpar, tendo sempre alegria nas ações e o sorriso no rosto. Em 2009, quando ingressei nos juniores, tivemos a oportunidade de trabalhar juntos. O meu relacionamento com ele sempre foi de muito respeito. Sempre admirei a postura e a atenção que ele tinha nas suas tarefas. Sempre que eu podia, pedia uma massagem. Era atencioso em todos os momentos", disse, ao UOL Esporte .
Curumim, por sua vez, hoje com 50 anos, já era um veterano no clube de São Januário. Ele havia chegado à base do Vasco no final de 1997 e, após estágio nas categorias infantil, juvenil e juniores, foi efetivado em 1999. Chegou ao profissional em 2001 e, no ano passado, recebeu o convite do Flamengo, estando prestes a completar uma temporada na nova casa.
"Começamos a trabalhar juntos no sub-20 do Vasco e ficamos por quase três anos. Sempre tivemos relacionamento cordial, respeitoso. Laniyan era, e ainda é, um menino acima da média, muito inteligente, esforçado e dedicado. Tratava todos muito bem. Era comunicativo, bom de papo. Menino maneiro mesmo! Culturalmente bem avançado e maduro para a idade dele. A gente comentava isso, porque era nítido. E na base a gente trata os jogadores como filhos, não tem jeito. E com ele não era diferente", recorda.
Lateral-direito, Laniyan defendeu o Cruz-Maltino por oito anos e fez parte de uma geração que contou com nomes como Phillipe Coutinho, Alex Teixeira, Allan e Souza. Ele, inclusive, chegou a ser convocado para a seleção sub-18. Deixou São Januário cedo e se jogou no mundo, tendo passagens pelo pelo Jorge Wilstermann, da Bolívia, e Spartak Trnava, da Eslováquia. Mas acabou não engrenando e retornou em 2011.
Na volta ao Brasil, chegou a parar por alguns meses e começou a estudar jornalismo, mas uma nova oportunidade dentro das quatro linhas apareceu. Trancou os estudos e passou por alguns clubes de menor expressão até chegar ao Duque de Caxias, em 2013, quando encerrou a carreira. Na ocasião, já havia iniciado a faculdade de fisioterapia.
Na função, chegou a voltar ao Vasco antes de aparecer a chance no Flamengo, quando reencontrou Curumim.
"O futebol nos proporciona viver isso. Meu primeiro estágio como fisioterapeuta foi no Vasco, em 2015, e cheguei a reencontrá-lo, mas logo depois fui convidado para participar de um processo seletivo e acabei vindo para o Flamengo. Muito legal poder reencontrá-lo aqui, tantos anos depois, e saber que ele é a mesma pessoa, simples, trabalhador incansável e simpático, além de muito competente, o que é uma unanimidade", apontou o ex-jogador.
"Legal poder estar do mesmo lado e fazer com que nossos trabalhos se complementem. Com certeza é mais um profissional entre muitos outros aqui no clube que me inspiram e me ensinam diariamente", completou.
O carinho entre eles, inclusive, parece recíproco e Curumim também celebra as voltas que a vida deu para que pudessem vivenciar o atual momento.
"Reencontrá-lo no Flamengo foi muito bacana, pois estivemos juntos em uma parte das nossas trajetórias antes daqui. Trabalhar com ele está sendo incrível. Bom reencontrar as pessoas que temos carinho, apreço. Muito legal mesmo. Carregamos um entrosamento e uma amizade muito grande. E fico extremamente feliz de ver que ele se tornou um excelente profissional. Espetacular, meu Deus do céu!".
"Estar aqui é um privilégio"
Aos 30 anos, Laniyan celebra o fato de ter passado por diversas etapas dentro do Flamengo até chegar ao futebol profissional. Ele considera estar no clube "um privilégio" e garante se sentir realizado por viver de futebol, mesmo que não mais como um dos protagonistas dentro de campo.
"O Flamengo é o clube de maior expressão no Brasil, tem a maior torcida e uma das melhores estruturas do continente. Sua história recente é mais um indício de sua grandeza. Estar aqui é um privilégio. Carrego muita gratidão por esse clube e pelas pessoas que aqui estão. Cheguei como estagiário, fui efetivado e tive a oportunidade de trabalhar nas categorias de base, onde cheguei à Coordenação de Fisioterapia, até ser escolhido para estar aqui no futebol profissional", afirmou.
"Hoje me sinto realizado por viver do futebol, trabalhar com o que gosto, servir a esse clube e poder aprender com os grandes profissionais que me cercam. E, por uma boa coincidência da vida, ao lado do meu amigo Curumim", completou.
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Imagem: Arquivo Pessoal