Por tradição, a Copa do Brasil é um título que brinca com a improbabilidade. Das maiores zebras a derrotas de gigantes, o torneio representa bem a democratização do futebol brasileiro. E neste universo de variedades, a competição também conta com heróis improváveis.
Pelo Flamengo , curiosamente, as três conquistas do clube tiveram como protagonistas jogadores considerados coadjuvantes na época. Em 1990, o zagueiro Fernando contra o Goiás, em 2006, o atacante Obina contra o Vasco e no título mais recente, em 2013, o volante Amaral contra o Athletico-PR. O ge conversou com os três personagens para relembrarem os gols históricos nas decisões.
— Foto: Agência O Globo
+ Calor no Ninho: jogadores do Flamengo dão carinho a torcedores antes de treino sob forte sol
+ Intocável de Dorival, Santos fará 32º jogo seguido pelo Flamengo na decisão da Copa do Brasil
+ Capitão sem faixa, David Luiz assume papel de protagonismo nos bastidores do Flamengo
Fernando e o gol solitário de 1990
Zagueiro de boa qualidade técnica, Fernando teve uma carreira consolidada passando por Vasco, Santos, Atlético-MG e Guarani. Porém, foi no Flamengo que o jogador vivenciou a maior conquista da carreira. Em pouco mais de um ano pelo clube, o atleta comemorou o inédito título da Copa do Brasil.
Ex-zagueiro Fernando pelo Flamengo — Foto: Arquivo pessoal
O time rubro-negro de 1990 contava com uma mescla de experiência e juventude no elenco. Além de Júnior, Renato Gaúcho e Gaúcho, os jovens Marcelinho Carioca, Djalminha e Piá também tinham destaque na equipe. Mas, o único gol da decisão contra o Goiás foi marcado por Fernando, de cabeça, em Juiz de Fora - o primeiro jogo com mando do Flamengo não foi disputado no Maracanã por conta de obras no estádio.
- Nós fizemos dois jogos contra o Goiás, que tinha uma equipe fortíssima. Eu tive a felicidade de fazer o gol do título ainda no primeiro jogo. Foi uma jogada que começou com uma falta no Piá, e o Djalminha sempre com sua precisão, fez essa cobrança. A jogada aérea era uma característica que eu tinha na minha carreira, do meu ótimo tempo de bola. Eu me antecipei à zaga do Goiás e o Batata, que estava me marcando, vai ao meu encontro e cai, ele até tentou alegar que houve falta, mas eu já estava no alto e com o equilíbrio suficiente para fazer o gol. E um gol marcante, né?
Ser campeão pelo Flamengo é indescritível, não dá para mensurar a grandeza, digo isso porque passados 32 anos eu sou muito respeitado pela torcida do Flamengo - completou Fernando.
Curiosamente, minutos após o gol que daria a vitória no primeiro jogo, Fernando foi expulso em um lance com o atacante Cacau. Com isso, o zagueiro teve que acompanhar na torcida o 0 a 0 no Serra Dourada que deu o primeiro título de Copa do Brasil ao Flamengo . Veja abaixo o "Baú do Esporte" sobre as duas finais contra o Goiás.
A afirmação de Obina em 2006
De todos os heróis improváveis, Obina talvez seja o com mais prestígio pela torcida. Identificado com o clube, o atacante foi um dos ícones rubro-negros nos anos 2000. Após salvar o Flamengo do rebaixamento em 2005 , no ano seguinte os gols do centroavante fizeram o Maracanã ecoar o famoso canto de "Obina é melhor que o Eto'o".
obina flamengo — Foto: Reprodução / Twitter
Em 175 jogos pelo clube, Obina marcou 47 vezes. Um destes gols ficou marcado para sempre no imaginário rubro-negro: o que abriu o placar na decisão da Copa do Brasil de 2006, contra o Vasco. Mas, pouca gente lembra que o atacante não vinha sendo titular naquela temporada - o que torna ainda mais curioso o protagonismo nos momentos importantes.
Na primeiro jogo da final, por exemplo, Obina entrou aos 11 do segundo tempo, e logo aos 14, abriu o placar com um bonito chute de primeira.
- A verdade é que naquela temporada eu vinha jogando pouco, entrava em alguns jogos, não tinha muita sequência, mas mesmo assim consegui fazer alguns gols importantes (...) Os jogadores queriam muito chegar em uma final, e a gente chegar nessa decisão contra o Vasco, que era nossa maior rivalidade no momento, não precisava de mais incentivo do que aquilo. O Flamengo já estava a muito tempo sem um campeonato nacional, então, era a hora, e graças a Deus fui iluminado no primeiro jogo, no segundo jogo também, teve o gol do Juan ainda no final.
- Foi um tempo muito feliz na minha vida, passei por todos os processos, e fico muito feliz de ver o Flamengo em alta.
Após o gol de Obina, o jogo ficou a feição para o Flamengo . Apenas três minutos depois, Luizão fez valer a lei do ex e ampliou o placar. No jogo da volta, Juan marcou aos 27 da etapa inicial e garantiu o 3 a 0 no agregado do segundo título rubro-negro na Copa do Brasil.
Amaral: o "pitbull" de 2013
Contratado pelo Flamengo em 2012 após bom carioca pelo Nova Iguaçu, Amaral se tornou titular no ano seguinte. A importância era tamanha, que nas últimas 21 partidas de 2013, o volante só foi substituído em três delas - na Copa do Brasil, não esteve em campo apenas nas oitavas de final contra o Cruzeiro.
Em contato com o ge , o jogador disse que a efetivação de Jayme de Almeida como comandante da equipe foi fundamental na conquista do tricampeonato. Membro da comissão técnica permanente do clube, o treinador assumiu o cargo após a demissão de Mano Menezes.
- A gente tinha um elenco muito unido, em todos os aspectos, a união fez a nossa equipe subir de produção, principalmente depois da entrada do professor Jayme de Almeida. Ele tinha o grupo na mão, ele sabia tudo, foi atleta, então acho que ele juntou todos, desde as faxineiras até ele como treinador. E isso nos uniu, porque ele sabia que a gente não tinha um elenco igual o de hoje, embora tivéssemos jogadores rodados como o Chicão, Elias e André Santos.
Amaral comemora gol do Flamengo contra o Atlético-PR — Foto: Giuliano Gomes / Agência Estado
Mas o que explica o golaço na decisão contra o Athletico-PR? Afinal, nada é mais improvável do que aquele ter sido o único gol do volante em 79 jogos pelo Flamengo . Para Amaral, o lance que empatou a partida após Marcelo Cirino abrir o placar para o Furacão foi resultado de muitos treinos. Porém, o jogador diz não se considerar um dos heróis do título.
- Eu não me considero herói, não vou tirar o meu mérito, claro, porque eu acertei um belo chute, e eu sempre treinei muito isso, desde as categorias de base, sempre tive um bom chute.
- Esse gol rodou o mundo todo praticamente. Eu acho que o reconhecimento para mim é o mais importante, tenho isso até hoje da torcida do Flamengo - completou.
A atuação do volante foi importantíssima para o Flamengo levar o empate ao Maracanã. No jogo da volta, Elias e Hernane fizeram os gols da vitória por 2 a 0, para mais uma conquista da Copa do Brasil .
Segundo time a chegar em mais finais da Copa do Brasil , o Flamengo agora busca sua quarta conquista. O Cruzeiro tem seis títulos, Grêmio tem cinco e Palmeiras, quatro. Após o empate sem gols em São Paulo , a grande final será nesta quarta-feira, às 21h45, no Maracanã.
Assista: tudo sobre o Flamengo no ge, na Globo e no sportv