Um dos destaques do CSA-AL, vice líder da Série B do Campeonato Brasileiro, Juan foi o dono da lateral esquerda do Flamengo por seis temporadas. Durante o período, ele colecionou títulos e grandes recordações dos tempos em que jogou pelo clube carioca.

Em entrevista ao ESPN.com.br, o jogador de 36 anos contou como sua história com o time rubro-negro começou há mais de 12 anos.

Depois de atuar na base do São Paulo e passar por Arsenal e Millwall, Juan voltou ao Brasil para jogar pelo Fluminense, em 2005. Depois de apenas uma temporada nas Laranjeiras, ele acertou com o time da Gávea.

"Quando acabou meu contrato com Flu recebi a proposta e optei por ir para o Flamengo. O começo foi difícil por causa da adaptação ao um novo time e por ter vindo de um rival a pressão era ainda maior", disse.

A desconfiança acabou quando Juan marcou o gol do título da final da Copa do Brasil de 2006 sobre o arquirrival Vasco por 1 a 0 no Maracanã.

"Foi algo diferente, todo jogador sonha em fazer um gol de título. E aconteceu comigo! Era um lateral, uma posição mais defensiva e isso é difícil de acontecer. Foi marcante e virou um divisor de águas na minha carreira. Depois disso, a torcida abraçou mais o time e confiou mais no meu trabalho. Foi aí que começou essa subida de patamar do Flamengo", afirmou.

Entre 2005 e 2010, ele formou uma parceria nas laterais com Léo Moura que marcou época no clube da Gávea.

"Ele é um grande amigo que fiz no futebol. É uma pessoa fora de série e me recebeu muito bem desde a chegada ao Fluminense. Fiquei uns dias na casa dele e fui super bem recebido pela família dele. Sou eternamente grato à todos eles. Tínhamos um esquema tático que nos favorecia muito, tínhamos liberdade para atacar. Conseguimos explorar o que tínhamos de melhor na parte ofensiva. O Léo é um dos maiores laterais da história do clube", elogiou.

No ano seguinte, ele venceu o Campeonato Carioca. Pelo Campeonato Brasileiro, foi um dos destaques do Flamengo na arrancada que terminou com a terceira colocação da competição. Comandado por Joel Santana, o time da Gávea saiu da zona de rebaixamento e chegou à Libertadores.

"O Joel é uma lenda do futebol. Um cara muito fácil de se trabalhar, o dia a dia com ele é muito bom. É naturalmente muito engraçado, na preleção antes do jogo, gerlamente aquela coisa séria, ele fazia todo mundo dar risada. Ele fez um grande trabalho. Por termos alguns jogos adiados ficamos muito tempo brigando contra a zona de rebaixamento", contou.

"Ele gostava de passar em todos os quartos na concentração e dizer: Agora é hora de dormir, o 'papai' tá aqui (risos). Era um paizão mesmo e um cara sensacional. Tenho grandes lembranças dele", recordou.

Em 2008, o lateral viveu provavelmente seu melhor ano na carreira. Foi campeão carioca outra vez, deu 29 assistências e fez oito gols. Com as boas atuações foi chamado ppor Dunga para a seleção brasileira que jogou contra o Chile e a Bolívia pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010.

Nas quartas de final da Libertadores, porém, veio a maior decepção. Apó vencer o América do México por 4 a 2 em pleno estádio Azteca, o Flamengo foi surpreendido. Em um Maracanã lotado para festejar a classificação e se despedir do técnico Joel Santana, acertado com a seleção da África do Sul, veio o desastre. O time mexicano venceu por 3 a 0 com dois gols do paraguaio Cabañas e avançou de fase.

"É aquele tipo de coisa que tinha que acontecer. Se você ver o jogo, nós fomos muito melhores e criamos inúmeras chances. Eles em três contra-ataques fizeram três gols. Até hoje não tenho explicação para o que o que aconteceu naquele dia", explicou.

Apesar da tristeza, Juan foi eleito no final da temporada o melhor lateral esquerdo do Campeonato Brasileiro pelo prêmio Bola de Prata.

Campeão brasileiro pelo Fla

Em 2009, Juan faturou o tricampeonato carioca. Em junho, sofreu com lesões e voltou na reta decisiva do Campeonato Brasileiro. Depois de ficar um longo período longe dos lideres, o time rubro-negro deu uma arrancada espetacular e conquistou a competição.

"Nosso começo não foi tão bom. No Flamengo a pressão é muito grande, mas por outo lado quando o time demonstra um bom desempenho e conquista a torcida, ela faz toda diferença. Foi o que aconteceu naquele ano. Ela passou a acreditar no título e criou uma atmosfera muito forte para gente ser campeão. Essa magia que o Flamengo tem conquistou todo mundo e empurrou todo elenco", afirmou.

Após conquistar o título na última rodada com uma vitória sobre o Grêmio, Juan desabou em lágrimas no gramado no Maracanã.

"Foi um ano bem difícil pra mim porque tive duas contusões, tive que fazer uma cirurgia no joelho. Foi muito emocionante conquistar esse título por tudo que passei neste ano. Foi uma tonelada que saiu das costas e foi especial terminar com o título brasileiro pelo Fla", recordou.

"Eu fiquei muito tempo no Flamengo e foi o ponto alto da minha carreira, vivi o auge lá e fui chamado para seleção brasileira. É um clube que tenho maior identificação e um carinho imenso", garantiu.

O ano seguinte à conquista seria bastante conturbado. Com a prisão do goleiro Bruno, acusado pelo assassinato de Eliza Samúdio, aliado aos maus resultados da equipe rubro-negra dentro de campo, veio um grande desgaste para boa parte do elenco.

Após cinco anos no time rubro-negro, cinco títulos, 62 assistências e 32 gols marcados, Juan resolveu voltar ao São Paulo.

"Não foi fácil, mas naquele momento era necessário. Tivemos um ano de 2010 muito complicado. Não conquistamos nenhum título e brigamos contra o rebaixamento no Brasileiro. Tinha um desgaste grande ambas as partes. Naquele momento era importante que eu seguisse meu caminho, claro que sinto saudades daqueles momentos do Flamengo, mas foi importante traçar novos objetivos", garantiu.

Passados quase oito anos de sua saída da Gávea, Juan ainda recebe muito carinho por parte dos torcedores rubro-negros.

"É surpreendente, mas até hoje as pessoas falam e lembram de mim. O quanto fiquei marcado por ser o Juan do Flamengo. Isso é uma coisa que a gente só consegue ter uma noção depois que sai do clube. Você vê a repercussão que fez e esse carinho até hoje faz com que tudo que abri mão para viver e conquistar. Todo trabalho valeu a pena por causa desse carinho e lembrança do torcedor", agradeceu.

Sonho do acesso no CSA

Depois de voltar ao São Paulo, Juan ainda passou por Santos, Vitória, Coritiba Goiás e Avaí. Após ficar sem clube no começo deste ano, ele acertou com o CSA no final de maio. o jogador estreou na vitória alagoana sobre o Sampaio Corrêa, por 1 a 0, em casa, em jogo válido pela 15ª rodada da Série B.

"Foi tudo fácil e rápido. Eu estava sem clube e abriu essa porta para mim. O time estava fazendo uma boa campanha e tínhamos o primeiro objetivo de não cairmos. Agora que já atingimos a pontuação, nossa meta é o acesso e brigar pelo título", explicou.

"Tem sido muito bom morar aqui. O CSA subiu esse ano para Série B e estava um pouco sumido do cenário nacional. Fiquei impressionado com o tamanho da torcida e do sentimento deles pelo clube. É a maior torcida de Alagoas, é bem forte a paixão. A cidade é super fácil de morar, bem estruturada e gostosa. Aqui tem praias bem bonitas e isso ajuda na adaptação", elogiou.

Ele já disputou 10 jogos pelo CSA e anotou um gol. Nessas partidas o time conquistou cinco vitórias, três empates e duas derrotas. Empolgado com o momento, ele procura viver um dia de cada vez e não planeja aposentar-se tão cedo.

"Eu joguei com meia mais ofensiva, mas cheguei a atuar como segundo volante, mas se precisar jogo também de lateral. Isso fica a critério do professor Marcelo Cabo. Não procuro colocar um limite para o fim da carreira, vou vendo a cada ano como o corpo e a cabeça reagem. Temos toda a pressão e o desgaste pela profissão. Mas acredito que [aposentadoria] não passa de mais uns dois anos", analisou.

O próximo desafio do CSA-AL será contra o Guarani no estádio Brinco de Ouro da Pincesa, neste sábado, às 19h (de Brasília). O time alagoano tem 46 pontos e está na segunda posição da Série B do Campeonato Brasileiro, apenas um ponto atrás do líder Fortaleza.