Goleadas de até 20 gols e WO marcam o Carioca Feminino Sub-20, que terá Fla-Flu na final

Domingo, a Coreia do Norte conquistou a Copa do Mundo Feminina Sub-20 em uma final contra o Japão, vencendo por 1 a 0. A competição apresentou jogos de alto nível, mas teve problemas que ainda são corriqueiros, com goleadas que chegaram a nove gols de diferença. No Rio de Janeiro, o Carioca Feminino Sub-20, que Flamengo e Fluminense decidem a partir deste sábado, foi além e chegou a dois placares de 20 a 0 e um WO por não comparecimento.

O Carioca Feminino Sub-20 iniciou em 25 de agosto com seis times na disputa, com jogos em turno único e a classificação dos dois primeiros para a final. Americano, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Heips e Serrano aceitaram o convite da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. O Vasco não possui time na categoria no momento. Foram sete goleadas por nove ou mais gols em 15 jogos nesta edição da competição.

O Serrano foi a maior vítima. O time perdeu por 20 a 0 para Flamengo e Fluminense e por 18 a 0 para o Botafogo. Foram 64 gols sofridos, sendo três na derrota por WO para o Heips e apenas um marcado no jogo que encerrou sua participação ao perder por 3 a 1 para o Americano.

- Na nossa visão, dar essa vivência de “jogos grandes” a atletas com pouca experiência em competições oficiais é de suma importância para o futebol feminino e, por que não, para a trajetória de vida dessas mulheres. Elas estão tendo visibilidade em um processo natural de aprendizado, em que os resultados a curto prazo não são o foco. Infelizmente, não temos o mesmo suporte de clubes de maior expressão, mas nem por isso deixamos de competir. Reforçar os placares adversos mais inibe o que realmente promove a modalidade e deixa de tocar no principal ponto, que é a falta de incentivo por parte das federações e de patrocínios de empresas, além do desenvolvimento ainda desnivelado da modalidade no país - afirmou Kleber Leite Filho, diretor de futebol do Serrano, que é filho de Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo ( veja a nota completa do Serrano no fim da reportagem ).

Além da goleada sobre o Serrano, o Flamengo ainda aplicou 11 a 0 sobre o Heips e 10 a 0 sobre o Americano. O time venceu ainda o Fluminense por 3 a 2 e o Botafogo por 3 a 1. Em nota oficial, Vitor Zanelli, vice-presidente de futebol base, futebol feminino e futsal, comentou a situação da competição e como o clube pode ajudar.

- Desde que montamos nossa primeira equipe de base em 2019, já participamos de diversas competições estaduais e nacionais, conquistamos títulos como a primeira edição da Copinha Feminina Sub-20 ano passado e já tivemos mais de 20 atletas convocadas para diversas categorias da seleção brasileira. Algumas delas conquistando títulos. Mas entendemos que podemos mais, podemos ajudar no fomento e vamos trabalhar para valorizar cada vez mais o calendário do futebol feminino de base. Precisamos que os calendários nacionais e regionais tenham maior relevância, apoio e incentivos - disse Zanelli ( veja a nota completa do Flamengo no fim da reportagem ).

Adversário do Flamengo, o Fluminense demonstrou confiança na evolução das competições femininas no Rio de Janeiro. Gerente de futebol feminino do clube, Amanda Storck também fez suas considerações:

- É claro que queríamos que não tivesse um desnível tão grande, mas isso acontece com tempo, consolidação das categorias de base femininas, com a manutenção dessas competições mesmo com esses placares elásticos, esse é o caminho do desenvolvimento. Eu espero e trabalhamos muito para chegarmos ao nível da Federação Paulista, que tem o campeonato mais nivelado do futebol feminino, mas ainda estamos no caminho ( veja a nota completa do Fluminense no fim da reportagem ).

Presidente do Heips, Orlando de Castro destrinchou algumas dificuldades sofridas pelo clube para a formação e investimento nos times femininos. As jogadoras não recebem salário e precisam se deslocar para o centro de treinamento em Guaratiba. A preocupação do dirigente é encontrar formas de melhorar essa situação e uma delas é com um projeto de incentivo fiscal já aprovado, mas que ainda não tem interessados.

- A diferença muito grande entre um clube grande e um de menor expressão faz com que os próprios grandes, na minha opinião, não consigam desenvolver como poderiam. A gente precisa ter esse tipo de incentivo. Nós temos projeto aprovado pela lei de incentivo do governo federal, que permite que os patrocinadores abatam o dinheiro investido no clube em impostos de renda, mas não conseguimos patrocinador. Essa mesma iniciativa o Flamengo tem, e os patrocinadores vão para ele, a Marinha do Brasil ajuda o Flamengo - comentou Orlando, lembrando que contra o Botafogo, por exemplo, o time precisou uma jogadora de linha (Kekel) no lugar da goleira Ranny, que não pode atuar ( veja a nota completa do Heips no fim da reportagem ).

A Federação explicou a formação da competição. Por nota oficial, a entidade informou que vive a expectativa de maiores investimentos para 2025. No ano passado, o Carioca Sub-20 não foi realizado e, em 2022, contou com 14 participantes. Em 2023, aconteceu a primeira edição da Copa Rio Feminina Sub-20, com sete equipes participantes.

- A disparidade só vai ser reduzida com incentivo, mais competições, mais meninas e mulheres com a possibilidade de treinar e jogar. A equação é simples: quanto mais se pratica, mais jogadoras surgem e aprimoram as valências. É importante também incremento comercial sobre as competições, o que está no radar da entidade, inclusive com negociações em andamento para 2025, capazes de dar suporte para que os clubes tenham capacidade de investir e serem constantes - disse em nota oficial a entidade, que tem programado para o dia 5 de outubro o início do Carioca Feminino Adulto, com 11 times ( veja a nota completa da Ferj no fim da reportagem ).

A decisão do Carioca Feminino Sub-20 será em dois jogos. Neste sábado, às 15h (de Brasília), o Fluminense recebe o Flamengo nas Laranjeiras. Dia 5 de outubro, na Gávea, novo encontro no mesmo horário. Não há vantagem. Se houver empate na soma dos resultados, o campeão será decidido nas cobranças de pênaltis.

Serrano

"O Serrano Football Club lidera iniciativas importantes referentes ao futebol feminino na Região Serrana, como a criação da equipe de futsal campeã carioca em 2024.

Contudo, devido aos movimentos ainda recentes de fomento à modalidade em Petrópolis e adjacências, o clube se depara constantemente com dificuldades em relação a patrocinadores e potenciais investidores que viabilizem um calendário robusto de competições oficiais.

Ademais, a obrigatoriedade por parte da Ferj para a criação do time feminino de campo nos impõe investimentos sem contrapartidas por parte da entidade, o que é mais um fator a ser considerado no orçamento do clube, que honra integralmente com todos os compromissos firmados em diversas modalidades.

Atualmente na divisão B1 do Carioca, o clube se planeja minuciosamente para dispor de mínima saúde financeira, algo complexo no cenário atual do futebol estadual, em que agremiações tradicionais pedem inclusive licença de competições oficiais - caso do Macaé, por exemplo.

Mesmo neste contexto adverso, o Serrano arca integralmente com a manutenção do plantel feminino e sua respectiva estrutura, no que tange à alimentação, hospedagem e afins de atletas e equipe técnica, além de taxas e demais responsabilidades exigidas a cada partida disputada.

A montagem do elenco, inclusive, contou com o aproveitamento de jogadoras oriundas do time de futsal, valorizando o belo trabalho realizado pelo Leão da Serra nas quadras, além de atletas escolhidas em seletivas realizadas no início de agosto no Estádio Atílio Marotti, em ação que abriu espaço para o surgimento de novos talentos para a modalidade.

- Na nossa visão, dar essa vivência de “jogos grandes” a atletas com pouca experiência em competições oficiais é de suma importância para o futebol feminino e, por que não, para a trajetória de vida dessas mulheres. Elas estão tendo visibilidade em um processo natural de aprendizado, em que os resultados a curto prazo não são o foco. Infelizmente, não temos o mesmo suporte de clubes de maior expressão, mas nem por isso deixamos de competir. Reforçar os placares adversos mais inibe do que realmente promove a modalidade, e deixa de tocar no principal ponto, que é a falta de incentivo por parte das federações e de patrocínios de empresas, além do desenvolvimento ainda desnivelado da modalidade no país - afirma Kleber Leite Filho, diretor de futebol do Serrano.

A título de esclarecimento, vale registrar que o W.O. contra a equipe do Heips em 9 de setembro ocorreu devido à mudança inesperada no dia da realização da partida, que seria originalmente no sábado (7/9). Mesmo diante da impossibilidade - por questões logísticas - das atletas do Serrano se fazerem presentes na segunda-feira, tanto a federação como o time mandante foram irredutíveis na alteração."

Time feminino sub-20 do Serrano — Foto: Serrano/Instagram

Ferj

"Todos os clubes profissionais filiados à Federação de Futebol do Rio de Janeiro foram convidados, através de email, a participarem da competição. No documento, constavam as informações fundamentais, como datas, prazos, obrigações, custos. Após confirmação dos interessados, houve debates com os clubes e, então, realizamos o Conselho Técnico do Campeonato Carioca Sub 20."

"A prática traz o desenvolvimento. A Federação de Futebol do Rio de Janeiro entende que a geração de oportunidades, a abertura de portas, incentiva a modalidade e propicia o surgimento de talentos. Estamos buscando parceiros para, no curto espaço de tempo, darmos passos de aperfeiçoamento."

"Apesar da diferença técnica, acreditamos no equilíbrio em médio prazo de tempo. Quanto mais jogadoras surgirem, a tendência é que se equilibrem as forças, assim como os clubes grandes podem se alimentar das atletas que despontem no futuro próximo. Especificamente sobre o Carioca Sub 20, já temos a informação do interesse de um clube grande em uma atleta de clube formador. Vale destacar também que há processos para organizar uma competição. No estágio de análise, que se realiza ao término, estarão à mesa os resultados, a organização, as atuações, as dificuldades, mas também os aspectos que, intangíveis, são positivos: o espírito esportivo, a geração de talentos. E teremos os feedbacks dos clubes."

"A disparidade só vai ser reduzida com incentivo, mais competições, mais meninas e mulheres com a possibilidade de treinar e jogar. A equação é simples: quanto mais se pratica, mais jogadoras surgem e aprimoram as valências. É importante também incremento comercial sobre as competições – o que está no radar da entidade, inclusive com negociações em andamento para 2025 -, capazes de dar suporte para que os clubes tenham capacidade de investir e serem constantes."

"No processo de organização da competição, as informações são compartilhadas e, no Conselho Técnico, debatidas pelos clubes, alteradas, aprovadas e colocadas em regulamento. Além disso, é sorteada a tabela. Todas as providências para evitar WO foram adotadas, inclusive com o próprio Serrano que, para a primeira rodada, foi auxiliado no processo de inscrição de atletas. As normativas da competição precisam ser seguidas, não cabendo decisões monocráticas em benefício de determinada associação para atendimento de condição específica. Reforçamos que as informações sobre a competição são comunicadas com antecedência."

Flamengo (Vitor Zanelli)

"Hoje o Flamengo já é um dos maiores investidores do país na modalidade. Nos últimos seis anos, transformamos a modalidade desde que assumimos a gestão, com investimentos em estrutura, comissão técnica, atletas e parcerias de sucesso tanto na área comercial com patrocinadores, quanto na área social onde desenvolvemos e apoiamos projetos sociais para o fomento da modalidade. Conquistamos vários títulos no profissional e na base, mas sempre queremos mais. Temos o grande objetivo de conquistar a Libertadores e vamos trabalhar muito para trazer esse título para o clube.

O Flamengo tem um lema: “Craque o Flamengo faz em casa”. Desde que montamos nossa primeira equipe de base em 2019, já participamos de diversas competições estaduais e nacionais, conquistamos títulos como a primeira edição da Copinha Feminina Sub-20 ano passado e já tivemos mais de 20 atletas convocadas para diversas categorias da seleção brasileira. Algumas delas conquistando títulos pela seleção.

Mas entendemos que podemos mais, podemos ajudar no fomento e vamos trabalhar para valorizar cada vez mais o calendário do futebol feminino de base. Precisamos que os calendários nacionais e regionais tenham maior relevância, apoio e incentivos.

É importante mencionar que, com a ajuda de nossos parceiros, apoiamos muitos projetos sociais de futebol feminino, e tem sido um grande sucesso para o fomento da modalidade no clube, onde selecionamos inúmeros atletas para nossa base. Deste projeto já saíram atletas que foram convocadas e ganharam medalhas de ouro em competições com as seleções brasileiras sub-17 e sub-20.

Desde 2019, quando assumimos, buscamos trabalhar a imagem do futebol feminino do Flamengo e buscar as melhores formas de aproximar cada vez mais a modalidade da nação rubro negra. Do nosso torcedor. Nenhum time no Brasil da modalidade teve uma evolução nos canais de comunicação como o Flamengo.

Queremos sempre fazer mais e fazer diferente. E estamos trabalhando para isso."

Flamengo tem a melhor campanha da fase de classificação do Carioca Feminino Sub-20 — Foto: Adriano Fontes/CRF

Fluminense (Amanda Storck)

"Na verdade, essa competição já estava no calendário da Ferj. A federação promove campeonatos femininos de base há muito tempo, com mais regularidade desde 2018 com o sub-18, seguindo o padrão CBF, que a partir de 2022 virou o sub-20. Há mudanças de um ano para o outro, como, por exemplo, o Fluminense em 22, que foi vice-campeão. A competição contava com 14 equipes, já no ano passado tivemos sete equipes no sub-20 ( NR : na verdade, foi disputada a primeira edição da Copa Rio Feminina Sub-20 em 2023, mas não houve Carioca Feminino Sub-20 ). Esperamos que a cada ano mais equipes se interessem em manter essa categoria e participar da competição."

"É importante entender que, no Rio de Janeiro, o futebol de base feminino ainda está em desenvolvimento. Enquanto os grandes disputam outras competições, como o Brasileirão, treinam todos os dias, os outros têm mais dificuldade nesse sentido. A forma que o Fluminense pode ajudar nesse desenvolvimento é exatamente com o trabalho que já fazemos, que é participar em bom nível da competição. Muitas atletas que abastecem os grandes clubes vêm dessas equipes menores que disputam a competição com a gente, então ajuda a revelar muitas jogadoras. É claro que queríamos que não tivesse um desnível tão grande, mas isso acontece com tempo, consolidação das categorias de base femininas, com a manutenção dessas competições mesmo com esses placares elásticos, esse é o caminho do desenvolvimento. Eu espero e trabalhamos muito para chegarmos no nível da Federação Paulista, que tem o campeonato mais nivelado do futebol feminino, mas ainda estamos no caminho. E é importante frisar que a Ferj tem apoiado, investido e tem dado condições de termos esse campeonato e melhorado a cada ano."

"O elenco feminino sub-20 do Fluminense atualmente conta com cerca de 30 atletas, que treinam todos os dias pela manhã no CTVL, com todos os recursos da base masculina à disposição da categoria. Hoje, o sub-20 disputa três competições no ano, o Brasileirão, o Estadual e a Copinha Feminina, que estamos disputando pela segunda vez."

Fluminense se classifica para a final do Carioca Feminino Sub-20 — Foto: Marina Garcia/FFC

Heips (Orlando de Castro)

"Nós somos um centro esportivo sem fim lucrativo, um clube amador, e a gente tem campos de futebol que a gente aluga, e tem restaurante no local, tem lanchonete nos dias dos jogos que a gente aluga, a gente tem alguma receita, e basicamente o clube vive disso, sem lucro nenhum, e às vezes a gente põe do nosso também, quando é necessário, mas assim, em relação ao sub-20 do futebol feminino, elas tiveram uma estrutura dentro da realidade bem razoável, e mais desse jeito, sobrevivendo com o dinheiro do clube mesmo, que é um clube amador."

"O nosso objetivo seria passar a dar uma ajuda de custo para auxiliar no transporte e na alimentação mais isso só seria possível se conseguirmos patrocinadores. Estamos de portas abertas para algum patrocinador que queira nos apoiar no desenvolvimento da base do futebol feminino no RJ. Porque já temos aprovado o Projeto do Governo Federal da lei do Incentivo ao esporte, só falta os patrocinadores."

"A diferença muito grande entre um clube grande e um de menor expressão faz com que os próprios grandes, na minha opinião, não consigam desenvolver como poderiam. A gente precisa ter esse tipo de incentivo. Nós temos projeto aprovado pela lei de incentivo do governo federal, que permite que os patrocinadores abatam o dinheiro investido no clube em impostos de renda, mas não conseguimos nenhum patrocinador. Essa mesma iniciativa por exemplo o Flamengo tem, e os patrocinadores vão para ele, a Marinha do Brasil ajuda o Flamengo"

Time feminino sub-20 do Heips — Foto: Heips/Instagram

"Em relação aos resultados dos jogos, realmente, a disparidade é muito grande, nós sofremos duas goleadas grandes, que foi contra o Flamengo, que é o 11 a 0 na Gávea, contra o Fluminense, 10 a 0 nas Laranjeiras e contra o Botafogo, 6 a 0, onde nós consideramos ter feito até um bom jogo e estávamos sem a nossa goleira. Em relação a parte emocional das meninas, nós preparamos muito elas, a gente tem uma equipe multidisciplinar, a gente procurou dar o máximo de condições a elas, e já sabiam da dificuldade que poderiam enfrentar. Mas são determinadas e têm objetivos, e a gente sabe que várias delas têm potencial muito grande, até de jogar em times de maior expressão."

Fonte: Globo Esporte