Volante do Flamengo, Gerson não compareceu para prestar depoimento na manhã desta quarta-feira na sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Centro do Rio de Janeiro. Dessa forma, o tribunal informou que vai dar prosseguimento ao inquérito que apura a acusação de injúria racial por parte de Juan Pablo Ramírez, do Bahia, sem ouvir os jogadores do Flamengo.
O Flamengo encaminhou na noite de terça-feira ao STJD o pedido de adiamento dos depoimentos de Gerson, Bruno Henrique e Natan, os dois últimos convocados como testemunhas. Relator do caso, Maurício Neves Fonseca vai despachar nesta quarta a negativa ao pedido. Essa é a segunda vez que o clube tenta remarcar a audiência. Na primeira tentativa indeferida, o tribunal sugeriu que a audiência fosse online, mas o clube propôs que fosse mantida presencialmente.
O prazo para conclusão do inquérito termina no dia 11 de fevereiro.
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Gerson acusa Ramirez de racismo em duelo entre Flamengo e Bahia no Maracanã — Foto: Jorge Rodrigues / Agência Estado
O tribunal havia marcado a audiência presencial dos jogadores para 10h30 (de Brasília) desta quarta. O clube informou que os atletas não compareceram porque estão concentrados para a partida de quinta, contra o Vasco, pelo Brasileirão.
A investigação foi aberta no dia 14 de janeiro a pedido da Procuradoria do STJD. No último dia 25 de janeiro, segunda-feira retrasada, o tribunal tomou os depoimentos do trio de arbitragem da partida e do delegado Marcelo Vianna. A Procuradoria do STJD informou que, concluído o inquérito, vai analisar uma possível infração por parte do Flamengo pelo não comparecimento dos jogadores à audiência.
Nos bastidores, os auditores estranharam a ausência dos jogadores pelo fato de a denúncia ter partido do próprio Flamengo. O clube pôde escolher as datas dos depoimentos e concordou em marcá-los para esta quarta, dia 3.
O relator explicou que, ao indeferir a tentativa de adiamento, seguiu o critério de também ter negado os pedidos de Ramírez e Mano Menezes, ex-treinador do Bahia. Os dois vão depor numa audiência online na tarde desta quarta, horas antes da partida contra o Fluminense.
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STJD informou que vai prosseguir com a investigação sem ouvir jogadores do Flamengo — Foto: Caíque Andrade
O caso
Gerson acusa Ramírez de ter cometido injúria racial na vitória do Flamengo por 4 a 3 sobre o Bahia no dia 20 de dezembro do ano passado, pela 26ª rodada do Brasileirão. Depois do fim do jogo, o volante afirmou em entrevista que ouviu "cala boca, negro!" do jogador colombiano.
- Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito - disse Gerson, que em seguida publicou um manifesto nas redes sociais.
No dia seguinte, Ramírez se defendeu das acusações em um vídeo divulgado pelo próprio Bahia.
- Em nenhum fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. Acontece que quando fizemos o segundo gol botamos a bola no meio do campo para sair rapidamente e o Bruno Henrique finge e eu arranco a correr e eu digo a Bruno que” jogue rápido, por favor”, "vamos irmão, jogar sério”. Aí ele joga a bola para trás e Gerson, não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei "joga rápido, irmão". Aí passo por ele e sigo a bola. Não sei o que ele entendeu, o que ouviu. Ele jogou a bola e passou a me perseguir sem eu entender o que passava. Dei a volta por trás porque não queria entrar em briga com ninguém e depois ele sai falando que o tratei com “cale a boca, negro” falando português quando eu realmente não falo português. Estou apenas alguns meses no Brasil e sobre isso de ser racista não estou de acordo, porque isso não é bem visto em nenhuma parte do mundo e sabemos que todos somos iguais e em nenhum momento falei isso e menos ainda usei essa palavra - disse o colombiano.
Só depois de ouvir as partes é que a Procuradoria do STJD concluirá a investigação para decidir se fará a denúncia sobre o caso ou não. O caso pode ser enquadrado no Art. 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
A pena prevê suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de 120 a 360 dias, se praticada por qualquer outra pessoa, além de multa, de R$ 100 a R$ 100 mil.
Na comunicação feita pelo Flamengo, Gerson afirmou que a injúria foi ouvida pelo zagueiro Natan. Bruno Henrique também foi citado como tendo tido uma discussão com Ramírez. O jogador do Bahia negou a acusação.
Além da esfera esportiva, o caso é também investigado na esfera criminal pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.