O meia Gerson, do Flamengo, prestou depoimento nesta terça-feira, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI). Um inquérito da Polícia Civil apura as denúncias do jogador , que acusa o meia Ramírez, do Bahia, de injúria racial. Ao lado do vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee, o jogador comentou a ocasião, em vídeo divulgado pelo clube.
Pronunciamento do atleta Gerson e do vice-presidente Rodrigo Dunshee após depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI). #CRF pic.twitter.com/vFVrEUTSMk
— Flamengo (@Flamengo) December 22, 2020
— Estou aqui na delegacia, vim falar sobre o ocorrido. Quero deixar bem claro que não vim só para falar por mim. Vim para falar por minha filha, que é negra, meus sobrinhos, que são negros. Meu pai, minha mãe, amigos também, e por todos os negros do mundo sobre o fato que aconteceu. Hoje, graças a Deus, eu tenho um estado de jogador de futebol, onde eu tenho voz ativa para poder falar e dar força para que outras pessoas que sofrem racismo ou outros tipos de preconceito possam falar também — disse o jogador.
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O dirigente do Flamengo também comentou o caso, e o entregou às mãos da Justiça. Em seguimento ao inquérito, outras partes envolvidas no caso devem ser convocadas a depor nos próximos dias.
— O Flamengo está aqui, junto do Gerson, como está sempre junto de todos atletas, para apoiar nesse momento. O Gerson cumpriu seu papel de cidadão, apresentou a representação e agora a questão está entregeu à Justiça. A gente espera que a justiça seja feita.
Relembre o caso
O Flamengo venceu o Bahia por 4 a 3, no último domingo, pela 26ª rodada do Campeonato Brasileiro, mas as polêmicas aconteceram após Gerson deixar o gramado reclamando de uma injúria racial do atleta colombiano Juan Pablo Ramirez, do Bahia. O vice-presidente jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches, afirmou que o clube irá ao Superior Tribunal de Justiça (STJD) contra o atleta e ao técnico Mano Menezes .
"Além de apoiar o Gerson na esfera criminal, o Flamengo representará ao STJD contra o atleta que ofendeu racialmete o Gerson, assim como o fará contra o Mano Menezes, que apoiou a ofensa racial e chamou de malandragem. Temos que banir o racismo da nossa sociedade", escreveu Dunshee.
Após a partida, o volante Gerson deixou o gramado reclamando de uma injúria racial do atleta colombiano Ramirez, do Bahia.
— Quero falar uma coisa: tenho muitos jogos como profissional e nunca vim falar nada porque nunca sofri esse preconceito. Quando tomamos um gol, o Bruno Henrique ia chutar uma bola, o Ramirez reclamou e fui falar com ele, que disse: "Cala a boca, negro" — declarou Gerson.
O fato ocorreu aos 7 minutos do segundo tempo, quando o Flamengo vencia por 2 a 1. Nas imagens, é possível ver Gerson inconformado e tirando satisfação com o atleta colombiano. Na hora, o volante do Flamengo contestou os atletas do Bahia sobre a declaração afirmando que "foi chamado de negro".
— O Mano até falou "Ah, agora você é vítima, não é? O Daniel Alves te atropelou e você não falou nada. Claro, porque teve respeito entre eu e ele. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano tem que saber respeitar. Estou vindo falar aqui por mim e por todos os negros do Brasil — reclamou Gerson.
Ramírez nega
O Bahia divulgou um vídeo na noite da última segunda-feira no qual o meia Ramírez dá sua versão sobre o episódio envolvendo Gerson, do Flamengo. Acusado de racismo, o colombiano alegou que não falou "cala boca, negro" durante a partida no Maracanã.
- Em nenhum momento fui racista. Nem com Gerson e nem com outra pessoa. Quando fizemos o gol, levamos a bola para o meio para reiniciar o jogo rapidamente. Bruno Henrique segura. Eu começo a correr e digo a ele: "Jogue rápido, irmão. Joga sério". Ele joga a bola para trás. Gerson me diz algo, mas eu não entendo muito o português. Não entendi o que falou e disse: "Joga rápido, irmão". Não sei o que ele entendeu e ele começou a me perseguir. E eu sem saber o que tinha acontecido. Eu saí por trás porque não queria brigar com ninguém. Ele disse que eu falei "cala a boca, negro". Eu não falo português tão fluentemente. Estou há um mês no Brasil. Sobre o fato de ser racista, não estou de acordo. Não é bem visto em nenhuma parte do mundo. Em nenhum momento falei isso, uma palavra tão ruim - disse Ramírez.