Garçom em campo, Renato Abreu abre pizzaria e revela gratidão ao Fla

Renato Abreu pizzaria (Foto: Divulgação) Renato e o chef Paulinho Pecora, responsável pelo cardápio (Foto: Divulgação)

Afastado dos gramados desde que deixou o Santos em 2013, Renato Abreu está prestes a começar uma nova fase de sua vida. Acostumado a ser garçom dos companheiros com belas jogadas dentro de campo, ele agora irá servir também fora dele. É que o meia virou empresário e inaugura a pizzaria Elleven em breve. Declaradamente amante de massas, ele escolheu junho, mês de seu aniversário (dia 9) para a inauguração do local. O dia 11 de junho - mesmo número de sua camisa e também nome da casa (em inglês e com um L a mais) - é o preferido para a festa. Animado com os últimos ajustes para começar a atender os clientes, ele conta que até consegue enxergar algumas semelhanças entre o futebol e o novo ofício.

- Bati o martelo de concretizar a pizzaria logo após a saída do Flamengo. Sabia que seria outra vida, chegando ao fim da carreira, pensei em abrir um negócio próprio também para dar prosseguimento às minhas coisas. Para mim (a adrenalina), é como se fosse o futebol. É diferente do que eu estou acostumado a fazer, mas eu gosto de desafios. Estou ansioso (para a inauguração) por ser totalmente diferente do que eu vinha fazendo. Mas também vou trabalhar com o público, com as críticas e vou ter o pessoal próximo como no futebol – analisa.

Renato Abreu e camisas pizzaria (Foto: Patricia Esteves) Amante de pizzas e de futebol, Renato uniu as duas paixões (Foto: Patricia Esteves)



Além dos pitacos no cardápio, Renato fez questão também de dar a sua cara para o local. No restaurante, camisas dos quatro grandes times cariocas – incluindo a que Romário usou no dia em que marcou o gol 998 da carreira - estão expostas. Uma delas, no entanto, está marcada na história do meia e ele exibe com orgulho.

- É a camisa que usei na final do Campeonato Carioca de 2007, quando fomos campeões em cima do Botafogo. Deu até pena de tirar do meu armário – revela.

Mas o tema futebol na casa não se limita só a isso. Segundo ele, a ideia é tornar o local agradável para assistir aos mais diversos esportes. Brincadeiras onde os frequentadores poderão apostar qual time sairá vencedor serão feitas nos dias de jogos, por exemplo. Além disso, Renato pretende também fazer uma coisa diferente: incluir as cores do times que estão jogando nos ingredientes das pizzas do dia.

Renato Abreu pizzaria (Foto: Divulgação) Pizzaria fica na Barra da Tijuca e será aberta ao público ainda em junho Foto: Divulgação)



Apesar de já estar tocando a vida fora das quatro linhas, o meia diz que ainda não aposentou as chuteiras. Aos 37 anos, o ex-jogador do Fla conta que continua mantendo a forma – pesa hoje 87 kg, somente dois acima da época em que saiu do time da Gávea – e que gostaria de viver um pouco mais do futebol.

- Encerrar a carreira a gente nunca quer. Sei que uma hora vai ter que chegar e me preparei muito bem para isso. O que tinha que fazer em relação ao campo, fiz. Mas se puder fazer um pouquinho mais... (risos). Não me arrependo de nada. Tudo que fiz foi com o maior carrinho, dedicação e, principalmente, comprometimento. Vejo que ainda tenho condições de jogar, mas não estou alucinado como um menino iniciando a carreira – explica.

Flamengo: saída turbulenta, papo com a diretoria, gratidão e jogo de despedida

Renato Abreu, Flamengo x Olaria (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem) Renato Abreu, em 2013, em jogo contra o Olaria (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)

Em 2013, quando rescindiu contrato com o Fla, a relação entre o atleta e o clube ficaram estremecidas. Isso porque o camisa 11 foi desligado através de um comunicado no site oficial. Na época, a nota foi emitida antes mesmo do atleta tomar conhecimento e até do distrato ser homologado. Após a saída, Renato moveu processo contra o clube, pedindo indenização por danos morais por “sentir-se humilhado”. O Fla, em contrapartida, respondeu na mesma moeda.

Em junho do ano passado, porém, a briga teve fim. Ambas as partes abriram mão do dano moral e o Fla pagou o que devia ao jogador . Hoje, Renato diz que a história está no passado. “Apaixonado pelo Flamengo”, ele faz questão de deixar claro o quanto é grato ao Rubro-Negro e acredita que o recente comando da diretoria naquele ano pode ter atrapalhado na condução de seu desligamento.

- Não tenho mágoa nenhuma. Tenho é uma gratidão imensa por tudo que o Flamengo me proporcionou. Desde as vitórias até as derrotas, porque são nelas que a gente acaba crescendo. A torcida do Flamengo sempre reconhece aquele jogador que, nas dificuldades, dá o sangue. Em todas as vezes que o clube passou por dificuldades, eu sempre tive esse respaldo da torcida. Minha saída do clube foi realmente uma coisa assustadora. Não só para mim. Mas acredito que acabou acontecendo pelo fato de serem pessoas que, na época, talvez não tivessem todo o conhecimento que têm hoje. Acredito e li algumas vezes que houve arrependimento, principalmente, por eu ter sido o que eu fui para o clube. Mas vida que segue, a gente já se resolveu. Já conversei algumas vezes com o presidente, com o Caetano - que hoje trabalha lá -, então não tenho porque ficar com mágoa. Semana passada mesmo estive no Ninho – analisa.

Renato também não rechaça a possibilidade de fazer um jogo de despedida com a camisa rubro-negra, mas acredita que um evento como este deve ser feito a partir de um convite do clube.

- Acho que jogo de despedida fica mais por parte do clube, né? Acho mais elegante e bonito que eles chamem. O atleta se dispõe, se coloca pelo futebol e pelo clube, a vida toda. Nada mais justo que em um final de carreira ou em um encerramento de contrato, o jogador ser presenteado por tudo que fez. Mas isso não cabe a mim. Se um dia eu for gestor de um clube que tenha um jogador que é identificado, com certeza faria a cabeça do meu presidente para uma despedida.

Confira outros trechos da entrevista:

Você está afastado dos gramados desde 2013. Do que sente mais falta?

Do convívio. De estar naquele ambiente que fez parte da minha vida por 16 anos. De trocar ideia, de estar motivando os jogadores que estão desmotivados, passar a experiência que eu vivi para os mais jovens, de bater na bola, de bater falta...

Você ainda não decretou o fim da carreira, mas o que pensa em fazer depois que isso acontecer?

Gostaria muito de estar no meu ambiente de trabalho. É o que gosto e sei fazer melhor. Desde a época que eu saí do Santos, venho me preparando para o momento de encerrar a carreira. Fiz alguns cursos na área administrativa, que julgo a mais complicada. Depois a gente passa a entender como é o lado fora. Ser técnico acho que não passa pela cabeça nesse momento. Gostaria talvez de ser um supervisor ou superintendente. Ou mesmo trabalhar como auxiliar fazendo a ligação da base com o profissional. Estou tentando juntar as duas coisas quando encerrar a carreira. Quero ser um ex-atleta, que entende essa parte do jogador, e que pode trabalhar também nessa parte de gestão.

Você fala muito em trabalhar com a base. Tem algum motivo especial?

Eu tive muita dificuldade quando mais novo. Minha dificuldade foi mais em ter base para atuar, do que propriamente jogar. Pulei de um lado para o outro, nas bases dos clubes, sem poder crescer. Vejo muito garoto despreparado, com uma ilusão enorme sobre o futebol. Eles acabam mudando todo o conceito quando vão para o profissional, mas tem que ser justamente o contrário. Tudo que ele viveu na base, todo o processo de crescimento, foi graças ao trabalho. Então, não pode chegar de uma maneira diferente no profissional. Foi uma coisa que eu fiz com alguns jogadores que subiram na minha época de Fla. Falei com Negueba, Luiz Antônio, Diego Maurício, Galhardo, Tomas... foi uma coisa que tentei passar para eles. Acho que os ajudei até o momento em que eles estavam no clube. O jogador fica muito perdido quando faz essa transição.

Recentemente o Flamengo passou por um momento complicado, com saída de técnico e resultados negativos. Você tem muitos anos de Flamengo. Como faz para superar um momento como esse?

Acho que não adianta a pessoa entrar no Flamengo achando que a pressão é grande só para ganhar título. A pressão é constante no Flamengo. Tanto do lado da torcida, quanto da imprensa. É uma camisa diferenciada, que grandes jogadores não conseguiram se identificar exatamente por essa pressão. O que fazer nesse momento? Tem que mostrar para o torcedor que você está disposto a mudar. O que o torcedor mais quer é isso. A mensagem que eles passam lá de cima é de ter garra, vontade e não desistir nunca. É claro que é difícil. O futebol hoje está cada vez mais competitivo, mais corrido, mais dinâmico. Mas quem está vestindo a camisa do Flamengo tem que saber o que o clube representa para o Brasil e o mundo. Eu, por exemplo, deixava de ouvir o preparador físico, mesmo sabendo do risco que estava correndo, e treinava exaustivamente aquilo que eu tinha de melhor: passe, lançamento, faltas e cobranças de pênalti. O Flamengo viveu uma turbulência, mas são fases. A partir do momento que ganha e implanta um ritmo vencedor, todo mundo com o mesmo pensamento, as coisas mudam.

Ainda falando em Flamengo, quais são suas melhores lembranças?

Foram vários momentos de alegria e também alguns de tristeza. O que fica mais na memória é o jogo contra o Defensor. Eu estava com 39 de febre e o que talvez tenha me tirado esse mal-estar foi olhar a torcida. Foi um jogo que, mesmo a gente tendo perdido no primeiro confronto, conseguimos no segundo ganhar por 2 a 0. Fiz os dois gols e saímos aplaudidos pela torcida. Mesmo eliminado, a gente foi reconhecido. Ser campeão carioca invicto também foi legal, ter levado o Flamengo à Libertadores, ter livrar o Fla do rebaixamento em 2005... Esse, inclusive, foi o meu momento pessoal mais marcante. Foi na minha chegada ao clube. Acho que não dá para escolher um só (risos).

No Brasileiro, quais são as suas apostas ao título?

Vejo poucos clubes realmente preparados para ganhar o título. O Grêmio vem forte, pelo fato de ser um time aguerrido, que briga constantemente pela bola e que tem muito entrosamento.  Vejo também o Atlético-MG, que nesses últimos anos conseguiu chegar à Libertadores, foi campeão, e tem uma torcida que empurra o tempo todo. O Corinthians, que é normal de se pensar, também é candidato. Mesmo com a saída de muitos jogadores, acho que a principal arma do time está no banco. É o Tite, um treinador com quem trabalhei e que conheço a maneira de motivar os jogadores. Qualquer um que entrar no Corinthians hoje vai ter essa filosofia de vencedor. E o Flamengo, que é um clube extremamente popular e grandioso. É aquela coisa mesmo de "se deixar o Flamengo chegar é difícil de tirar". Mesmo com algumas peças que não se identificaram com o clube ainda, o time tem grande chance de chegar ao topo e ser campeão. Lógico que também existem as surpresas do campeonato, como o Santa Cruz, por exemplo. Mas esses são meus candidatos. Se não o titulo, acho que ao menos a Libertadores algum deles garante.

Fonte: Globo Esporte