Foi em 2 de julho de 2017 que Rogério Ceni defendeu as cores do São Paulo pela última vez. Da beira do campo, o então técnico em início de carreira viu o Flamengo fazer 2 a 0 e colocar o seu Tricolor na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro . A demissão, inimaginável pelo que o ídolo representa no Morumbi , viria no dia seguinte.
Mas o futebol tem histórias que não sairiam assim nem se fossem ensaiadas. Após sucesso absoluto no Fortaleza , e também uma passagem sem brilho pelo Cruzeiro , Rogério Ceni assume o Flamengo, no seu maior desafio como treinador. O mesmo Rubro-Negro, que deu a pá de cal para sua saída do Morumbi, oferece ao ex-goleiro a chance de uma revanche.
Contra o São Paulo, nesta quarta-feira (11), no Maracanã, Rogério Ceni será rubro-negro pela primeira vez e enfrentará o time na qual aprendeu a ser torcedor, ídolo e figura para muitos incontestável. Só que a partida desta noite, pela abertura das quartas de final da Copa do Brasil , pode servir como ponto marcante nessa relação entre o M1TO e seu (ex-)clube, por motivos que vão de dentro a fora das quatro linhas.
Não é segredo para ninguém que Ceni era o nome preferido para assumir o São Paulo em 2021, independentemente do vencedor das eleições presidenciais, marcadas para o fim de dezembro, entre Júlio Casares e Roberto Natel. Nos bastidores, fala-se até que os candidatos teriam sinalizado, para o próprio Rogério, essa vontade de tê-lo. Ele preferiu não esperar o duvidoso e apostou em assumir o melhor elenco do Brasil , sonho de dez a cada dez treinadores por aqui.
Quem tem motivos para respirar aliviado é Fernando Diniz. Apesar de nunca ter assumido publicamente, o atual comandante tricolor sempre soube da sombra que Ceni era para uma possível continuidade em 2021. Agora, com o "maior rival" empregado, Diniz recebeu até algo que não está acostumado: apoio da torcida são-paulina, que nunca morreu de amores por ele, nas redes sociais, com o uso da hashtag #fechadocomDiniz. Uma trégua ao treinador, diante da impossibilidade de ter o preferido de volta.
Rogério deixa agora de ser um sonho/obsessão para a próxima temporada e vira um adversário super direto aos dois títulos que o São Paulo ainda tem condições de conquistar na temporada. O Flamengo é, além de rival nas quartas de final da Copa do Brasil, troféu nunca conquistado pelo time paulista, oponente também no G-4 do Brasileiro. Os dois estão separados por dois pontos (35 a 33 para os cariocas, que têm três jogos a mais).
Enfrentar Ceni já virou uma rotina para o São Paulo, que até agora fez do seu ex-camisa 01 um freguês. Foram cinco confrontos, todos contra o Fortaleza, com três vitórias paulistas e dois empates. Esses, aliás, aconteceram na fase anterior da Copa do Brasil: 3 a 3 no Castelão e 2 a 2 no Morumbi, com uma classificação emocionante nos pênaltis, por 10 a 9 , que mexeu bastante com Rogério.
Agora, o ex-goleiro tem pelo menos duas novas chances, nesta quarta e na próxima (18), na capital paulista, de vencer o São Paulo pela primeira vez como técnico. E com um elenco com maior qualidade e capacidade técnica do que o Fortaleza, apesar dos desfalques de Mauricio Isla, Everton Ribeiro e Pedro, convocados para defender as seleções chilena e brasileira nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, e outros no departamento médico, como Rodrigo Caio.
Vale lembrar que São Paulo e Flamengo também se enfrentam na última rodada do Brasileirão, em 21 de fevereiro. Uma partida que pode, por que não, ser até uma decisão de título entre dois dos principais times do campeonato no momento. Seria mais um embate entre Ceni e o Tricolor, mais uma chance dos dois lados mostrarem que podem, e neste momento devem, caminhar sozinhos.
Rogério é e sempre será parte fundamental da história tricolor. Mas o presente não pertence ao ídolo.