A crença de que o Vasco conseguiria uma virada sobre o Flamengo para ir à final do Carioca estava mais apegada à alegria efêmera com o gol de Nuno Moreira, ou à mística que anda em falta na história recente do clássico, do que à realidade. De anos para cá, esse confronto é recheado de padrões, ainda mais no que diz respeito ao lado vencedor e aos gols de Bruno Henrique. O ídolo rubro-negro clareou os caminhos para a vitória por 2 a 1, completada por Luiz Araújo, que carimbou a classificação com um 3 a 1 no placar agregado.
Agora dono de 100 gols com a camisa rubro-negra, BH se reinventa com o avançar da idade para manter a fama de nome decisivo que acostumou mal a torcida. Ou de rei dos clássicos. Contra o Vasco, sua principal vítima, anotou pela 11ª vez.
O confronto nunca deixa de exigir respeito, por maior que seja a discrepância dos elencos. Mesmo clara nos números — o cruz-maltino tem apenas duas vitórias nos últimos 32 encontros —, ela poderia ter se esvaído assim que Nuno aproveitou lacuna de marcação após falta cobrada na área e vazou a meta de Rossi, aos 21 minutos. Recém-chegado, ele disse que o Fla não era bicho-papão e parece ter motivado seu grupo, que precisava de uma vitória por dois gols e nada tinha a perder.
Se a partida de ida, vencida pelo Flamengo por 1 a 0, foi muito mais um duelo físico, o primeiro tempo de ontem se mostrou elétrico, com equipes se respondendo à altura na busca pelo gol. O resto do clássico, no entanto, fez prevalecer a realidade. Colecionando boas chances, o Flamengo poderia ter inundado o Maracanã de festa mais cedo, a começar pelo milagre feito por Léo Jardim em finalização de Varela ainda no 0 a 0.
Outro protagonista do rubro-negro, Arrascaeta foi decisivo em seu 301º jogo pelo Fla ao tabelar com De La Cruz na frente da área e encontrar Bruno Henrique sem querer, após errar um chute. No limite do impedimento, o atacante tirou Léo Jardim e empatou. O lance gerou reclamações no lado vascaíno. Após o jogo, o presidente Pedrinho criticou a atuação do VAR e disse não ter ficado convencido da correção da aplicação da tecnologia no lance.
Um dos padrões mais importantes seguidos por este Flamengo é a boa utilização da posse de bola, com toques para frente. Além disso, os combates precisos da defesa a tornaram quase intransponível. Essas características aliadas ao esgotamento do Vasco minaram a competitividade.
De toda forma, o cruz-maltino fez o que estava ao alcance diante de uma missão dura. Após levar a virada, a equipe foi valente, tentou uma ou duas estocadas, mas foi atingida em outros momentos, como quando Coutinho saiu lesionado.
O placar, porém, poderia ter sido maior para traduzir a superioridade de chances do Flamengo, como quando Gerson roubou bola na grande área e optou por passar, ou quando Plata saiu de cara para Léo Jardim, mas finalizou em cima. Desfecho diferente teve um belo lance protagonizado pelo reserva Luiz Araújo, que, na sequência da trama do equatoriano, driblou a defesa com calma, colocou a bola no cantinho e começou a mandar a torcida cruz-maltina para casa mais cedo.
Além de mais uma derrota, o Vasco se aproxima de dez anos sem saber o que é eliminar o maior rival em um mata-mata. Agora, resta focar na estreia do Brasileiro, contra o Santos, no dia 30. Para o Flamengo, a busca pelo 39º título começa na quarta-feira, numa final que deve ser com o Fluminense.