Paulo Victor, goleiro do Grêmio , está calmo para o jogo desta quarta-feira, contra o Flamengo , às 21h30 (de Brasília), pela semifinal da Copa Libertadores , com acompanhamento em tempo real do ESPN.com.br .

"Ele está tranquilão, confiante".

Já seu pai, Gesue Vidotti, 59, ex-jogador de Corinthians , Portuguesa, Francana e Comercial-MS, entre outros clubes, nem tanto.

"É mais difícil ser pai de jogador do que ser jogador", garantiu, ao ESPN.com.br.

"É possível até que eu nem assista ao jogo. Eu só vejo se estou sozinho em casa. Não gosto de ver com mais ninguém. Depois é que vou ver, alguém grava para mim. O Paulo sabe que eu sou assim", diz ele, entre risos.

"A mãe dele (Solange), não. Ela vê tudo, fica nervosa", conta.

O CORINTHIANS DA DEMOCRACIA

Aos 59 anos, aposentado desde 1998 (pelo Garça-SP), Vidotti, como era conhecido quando jogava, estima ter feito cerca de 300 gols como jogador profissional. Um deles foi o histórico décimo tento do Corinthians, contra o Tiradentes-PI, pelo Campeonato Brasileiro de 1983.

Era a época da Democracia Corintiana e do bicampeonato paulista. As conquistas consecutivas daquele time talvez sejam o momento de maior emoção da carreira do ex-centroavante.

"Teve também o campeonato mato-grossense, em que joguei um turno só e fui artilheiro", relembra-se o também maior artilheiro da história da Francana, onde jogou por quatro anos.

Nos tempos de Alvinegro, Vidotti tinha como companheiro de quarto nas concentrações do Corinthians um dos líderes do elenco, o volante Biro-Biro.

"Era um cara sensacional. Foi uma experiência muito positiva. Aprendi bastante naquela época. Foi uma mudança total", diz.

Vidotti lembra-se de várias histórias. Naquele grupo, as opiniões dos jogadores tinham o mesmo peso que a do treinador - quando não mais.

"Teve um jogo que o Sócrates não ia jogar, porque estava na seleção, e eu estava escalado", relembra-se Vidotti.

O técnico Jorge Vieira já tinha até dado a preleção quando, de repente, aparece o Sócrates, querendo jogar.

"O Sr. Vieira veio meio sem jeito, mas falou, 'olha, o Sócrates está querendo jogar...'", conta Vidotti. "Eu entendi, né? Era o Sócrates", diz ele.

Da Democracia, Vidotti levou também a amizade de Emerson Leão.

"Para mim, ele foi sensacional. Um dos caras mais brilhantes que eu conheci no futebol", afirma ele, sobre o ex-goleiro, hoje técnico.

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'DENER ERA DO MESMO NÍVEL DO NEYMAR'

De colega no Parque São Jorge, Leão tornou-se chefe de Vidotti no Canindé.

"Quando ele foi treinar a Portuguesa, pediu minha contratação. E eu vim emprestado do Botafogo-SP, que tinha meu passe", conta.

O time de Vidotti na Lusa era um esquadrão. Tinha no gol o uruguaio Rodolfo Rodrigues. Na ponta-direita, o atacante Maurício, ex-Botafogo. E. com a camisa 10, um menino vindo das categorias de base chamado Dener.

"Eu falo para os meus amigos: ele era do mesmo nível do Neymar", garante. "Jogava muito, era impressionante", diz, sobre o jogador morto em 1994, quando atuava pelo Vasco da Gama , emprestado pelo clube paulista.

"Eu me lembro de quando ele morreu. Foi um baque para quem conhecia".

Vidotti também se lembra de um jogador de sua época. Renato Gaúcho, técnico de seu filho no Grêmio, foi seu contemporâneo. "Joguei contra", diz.

DOIS FILHOS GOLEIROS

Vidotti se lembra de quando Paulo Victor decidiu ser goleiro. Afinal, foi ele que teve de convencer o treinador do seu garoto a aceitar a troca de posição.

"Ele tinha uns 11 anos e, até então, só tinha jogado na linha", conta o pai do arqueiro gremista.

O treinador na escolinha de futebol que Paulo Victor frequentava em Assis não queria deixá-lo trocar de posição. "Aí, ele pediu para que eu falasse com o técnico. E eu fui lá", relembra-se.

Com o pedido do pai, o treinador aceitou a troca. E a cidade de Assis ganhou mais um goleiro profissional.

Jefferson, ex- Botafogo e seleção brasileira, é conterrâneo de Paulo Victor. E também de Marcelo Vidotti, irmão de Paulo, filho de Gesué e também goleiro.

Sim, o artilheiro Vidotti teve dois filhos jogadores de futebol. E os dois decidiram ser goleiros.

"Ele (Marcello) também jogou no Flamengo, nas categorias de base, e treinou com os profissionais. Foi contemporâneo de Ronaldinho Gaúcho, ficou amigo dele", diz Vidotti.

Mas, ao contrário de Paulo, Marcello não seguiu na profissão. Hoje, ele é dentista e tem um consultório em Assis.

BOLA DO SCARPA ERA DEFENSÁVEL

"Eu converso com o Paulo todos os dias", diz Vidotti. "Ele é um menino muito humilde, escuta o que eu digo", afirma.

Vidotti, por exemplo, disse ao filho que a bola de Gustavo Scarpa, no gol do Palmeiras , pelas quartas da Libertadores, era defensável.

"Ele concordou. Mas ressaltou que, na hora do chute, um companheiro passa na sua frente, que o atrapalha", conta o pai.

A maior emoção de Vidotti com feitos do filho foi no Campeonato Gaúcho deste ano, quando Paulo defendeu os pênaltis de Camilo, Cuesta e Nico López, e ajudou o Grêmio a ser campeão em cima do Internacional .

"Como de costume, eu não estava vendo, não. Mas eu sabia, mais ou menos, que hora ia acabar, e liguei para o meu filho, para perguntar. Quando ele me disse que tinha ido para os pênaltis, eu decidi ver", conta.

Dos três filhos, apenas Victor Hugo, o mais velho, não quis ser jogador.

PROJETO SOCIAL

Hoje, Gesue Vidotti é o supervisor do projeto PV48/SEMEA, da cidade de Assis. Em parceria com a prefeitura, Paulo Victor e sua família oferecem treinamento de futebol para cerca de 2 mil crianças da região.

"São cinco campos e quatro quadras", conta ele.

"O Paulo sempre teve essa vontade de fazer algo pela cidade de Assis", conta o orgulhoso ex-centroavante e pai.