Flamengo x Cruzeiro: Dedicação, estratégia e um pouco de brilho individual explicam vitória e liderança; leia a análise

É de se enaltecer o que o Flamengo consegue fazer no Campeonato Brasileiro até o momento. Não que tenha atuações de encher os olhos. Seu mérito é num sentido mais prático: de entregar resultados além do esperado num contexto de adversidade. A ausência de cinco titulares por causa da Copa América levantou o temor de que seu elenco não fosse tão encorpado como muitos acreditavam. Mas o rubro-negro, cada vez mais sólido, se mantém líder — posição garantida por ao menos mais uma rodada após a vitória sobre o Cruzeiro, por 2 a 1 .

Se o time segue competitivo no torneio é graças aos talentos individuais não pinçados pelas convocações (como Pedro, Gerson e Cebolinha, este último agora lesionado) e pela dedicação tática do time. Principalmente em sua fase defensiva.

Há também, claro, do bom aproveitamento do fator casa. O rubro-negro é o terceiro melhor mandante, atrás apenas de Bahia e do próprio Cruzeiro. O Flamengo é ainda o segundo melhor visitante. Mas seis de seus 12 pontos conquistados nesta condição foram no próprio Maracanã (diante de Vasco e Fluminense), o que só reforça sua força diante da torcida.

Apesar dos desfalques, o Flamengo conseguiu sobreviver ao período da fase de grupos da Copa América com saldo mais que positivo. Com 27 pontos, tem três a mais que Botafogo e Bahia. E quatro em relação ao Palmeiras, que fecha o G4 e ainda joga hoje (faz o clássico contra o Corinthians).

Agora, o rubro-negro vai receber seu primeiro “reforço”: o chileno Pulgar, eliminado precocemente com sua seleção do torneio continental. O volante estará à disposição de Tite já para o duelo contra o Atlético-MG, nesta quarta-feira, em Belo Horizonte.

Um misto de todos os méritos do Flamengo pesaram para a vitória sobre o Cruzeiro neste domingo. Pedro, em sua fase iluminada, não desperdiçou grande passe de Gerson e marcou seu sexto gol no campeonato, isolando-se como artilheiro.

Já o de Fabrício Bruno, que selou a vitória, serviu para jogar os holofotes para a importância da defesa na campanha do time. O zagueiro, por sinal, também participou do primeiro, já que seu desarme municiou Gerson no começo do lance.

Após um início de cerca de dez minutos com pouca produção dos dois lados, o Flamengo entrou no jogo, criando principalmente pelo lado direito. Atrás, a defesa bem postada não deu espaços para o Cruzeiro. O time se saiu muito bem nas disputas individuais, levando a melhor na maioria delas. Destaque para Wesley, preciso nos desarmes, e para David Luiz na bola aérea.

Neste cenário tão favorável, o gol não demorou a sair. Logo aos 16, o desarme de Fabrício Bruno deu início à jogada que terminou com a conclusão de Pedro na saída do goleiro Anderson. Na comemoração, saudação à torcida e beijo no escudo estendido na grama.

A lua de mel do atacante com a arquibancada segue com tudo. Neste domingo, a torcida exibiu pela primeira vez um bandeirão em homenagem ao atacante, semelhante aos que já existem para celebrar ídolos. Na verdade, foram dois: um com seu rosto e outro com a famosa reverência usada nas comemorações.

Por um capricho do destino, a homenagem ao camisa 9 ocorreu justamente no primeiro jogo após Gabigol recusar uma oferta de renovação, o que indicou para breve o fim de seu ciclo no Flamengo. Mas foi apenas coincidência. A confecção e a estreia das bandeiras já vinham sendo planejadas nas últimas semanas.

O gol de Pedro, contudo, não teve efeito positivo para os rubro-negros. Aos poucos, o Cruzeiro mudou de postura, apertou a marcação e passou a agredir mais a área rival. E os problemas do Flamengo começaram a aparecer, trazendo à tona a realidade de um grupo limitado pelos muitos desfalques.

O time passou a ter dificuldade para sair com a bola. Errou mais (principalmente Lorran, em noite menos inspirada) e, consequentemente, criou menos.

Defensivamente, até seguiu levando a melhor sobre os cruzeirenses. Só que, numa bobeada da marcação, os rubro-negros deixaram Matheus Pereira solto. Logo o melhor jogador do adversário. Aos 37, ele teve toda liberdade para chutar colocado da entrada da área e tirar a bola do alcance de Rossi.

As finalizações de fora da área foram um grande trunfo cruzeirense, dando trabalho a Rossi. Se os mineiros não desceram para o intervalo já com a virada, foi graças ao goleiro argentino.

Com o Flamengo um pouco mais intenso na etapa final, a disputa ficou equilibrada. E a partida acabou sendo decidida na bola parada. Gabriel Veron cochilou na marcação a Fabrício Bruno, e o zagueiro não perdoou. Sua cabeçada certeira após cobrança de falta de Luiz Araújo pôs o rubro-negro na frente, aos 19, e garantiu a vitória. Um triunfo com a cara do momento atual da equipe: sem brilho, mas estratégica.

Fonte: O Globo