Há 25 anos, Pelé começou a esboçar aquele que seria o plano mais elaborado e mais próximo para trazer Diego Armando Maradona para o futebol brasileiro. A ousada ideia incluía dar a camisa 10 do Santos , a mesma honrada pelo Rei durante décadas, para o craque argentino.
A história acima aconteceu entre abril e maio de 1995, ganhou ampla cobertura da “Folha de S.Paulo”, o primeiro jornal a noticiar o caso, e foi uma das tentas tentativas frustradas de ver Maradona no Brasil. Além de uma em que ele foi simplesmente recusado (leia abaixo) .
Começando pela história de duas décadas atrás, Pelé ofereceu ao então presidente do Santos, o advogado Samir Abdul-Hak, uma parceria para fazer o time mais forte. O clube vivia um jejum de títulos desde a conquista do Campeonato Paulista de 1984.
A primeira ideia era trazer Raí, que estava no Paris Saint-Germain , mas ele não aceitou. Retornaria ao Brasil somente em 1998.
Pelé então pensou em Maradona, que na época estava como treinador do Racing, uma vez que cumpria suspensão por uso de cocaína na Copa do Mundo de 1994. A suspensão terminaria em setembro daquele ano. O Rei do Futebol achou que era uma boa oportunidade para ambos.
A estratégia foi montada da seguinte forma: o argentino seria contratado pela Pelé Sports & Marketing, empresa do Rei do Futebol, que seria detentora do passe e respónsavel pelos salários de Maradona por dois anos.
O valor total a ser pago correspondia a 4 milhões de dólares, bancados em conjunto pela empresa de Pelé, a Unicor, então principal patrocinadora do Santos, e uma uma terceira empresa, que seria sondada no mercado.
Pelé acreditava que o retorno em receita seria obtido com a transmissão dos jogos para fora do Brasil, patrocinadores e títulos.
No final de abril houve o primeiro contato. Maradona ficou empolgado. Tinha interesse em voltar a jogar, acreditava poder vivenciar seus melhores momentos novamente, quem sabe chegar a Copa do Mundo de 1998, e o Brasil o interessava.
Conforme as semanas foram passando, a contratação começou a se mostrar mais difícil.
Maradona queria receber mais do que fora acordado, tentava rediscutir cláusulas e adiava cada vez mais os encontros. A situação ficou mais difícil quando o Boca Juniors anunciou que tinha interesse em contar com o craque.
Maradona chegou a falar com Pelé que gostaria de defender o Boca pelo menos até o final de 1995 e depois passar para o Santos. E também aumentou a pedida salarial. Queria mais de 18 milhões de dólares por um tempo inferior de acordo, segundo a “Folha de S.Paulo”.
Pelé desistiu da negociação em junho de 1995, decepcionado.
Maradona voltou a jogar pelo Boca Juniors em setembro daquele ano. Ficou no clube até 1997, quando passou a sofrer com problemas físicos, peso e novamente foi suspenso por uso de cocaína. Acabou se aposentando.
A recusa
Muitos clubes brasileiros já pensaram em contar com Maradona, mas nenhuma história se aproxima da experiência que teve a Portuguesa. O clube do Canindé recusou o argentino.
Aqui é importante explicar que existem duas versões para o mesmo fato. Ambas foram contadas pelo empresário uruguaio Juan Figger para veículos diferentes e em anos diferentes.
Em 1990, relatou para a “Folha de S.Paulo” que, em 1975, havia procurado Manuel Mendes Gregório, diretor de futebol da Portuguesa, para oferecer Maradona, então uma promessa do futebol argentino.
Figger disse que queria colocar o jovem no mercado brasileiro para valorizá-lo e enviá-lo para a Europa depois. A Portuguesa era o time ideal para isso. Mas Gregório não aceitou comprar Maradona por 300 mil dólares.
A outra versão foi dada por Figger ao “Bola da Vez” da ESPN Brasil no ano passado.
Segundo o empresário, o primeiro da carreira de Maradona, ele procurou a Portuguesa em 1982. Novamente citou Gregório (nesse período ele já o presidente do clube lusitano) e o valor de 300 mil dólares.
A diferença foi a justificativa para a negociação.
Figger afirmou que o Argentino Juniors precisava resolver a situação financeira e por isso considerava negociar seu maior craque para fazer o caixa necessário. Gregório achou caro e recusou. O valor equivaleria hoje a R$ 2,5 milhões.
A segunda versão de Figger tem imprecisões. Vale lembrar que em 1982 Maradona já era conhecido. Tinha sido campeão da Copa do Mundo de juniores três anos antes e fazia parte da seleção principal da Argentina . Foi ao Mundial da Espanha como titular.
Os grandes querem Maradona
Depois que o argentino explodiu, muitos clubes do futebol mundial passaram a cobiçá-lo. A revista “Placar” fez uma reportagem afirmando que o Flamengo pensou em comprá-lo do Napoli em 1991.
Naquele ano, o craque estava enfrentando problema de sobrepeso e vivia sob a mira das agências antidoping.
Em 1992, foi a vez do Palmeiras fazer um plano para tentar contratar o craque, que tinha sido suspenso por um ano e meio após um exame acusar o uso de doping em uma partida do Napoli, em 17 de março de 1991.
Impulsionado pela parceria com a Parmalat, o Palmeiras chegou a manter conversas com Maradona entre agosto e setembro daquele ano, quando ele encontrava-se ainda vinculado ao Napoli. José Carlos Brunoro foi quem conduziu as conversas.
Ele chegou a ser bem-sucedido com os napolitanos.
Falava-se em uma proposta de 5 milhões de dólares, cifras altas, embora o Milan tenha gasto naquela janela 53 milhões de dólares na vinda de Gianluigi Lentini, do Torino , apenas uma promessa. Durante décadas, essa foi a negociação mais cara do mundo do futebol.
O fato é que Maradona não fechou com o Palmeiras. Culpou o Napoli, culpou a Parmalat e até Brunoro, alegando que não levaram em conta seus desejos. No fim, conseguiu uma transferência para o Sevilla , da Espanha, o que muitos interpretaram ser o verdadeiro desejo dele.
Em 1993, quando estava de férias no Uruguai, até mesmo para cuidar da forma física visando a Copa do Mundo de 1994, Maradona concedeu uma entrevista ao jornalista Eli Coimbra para o “Show do Esporte”, da TV Band, dizendo que poderia ir ao Corinthians .
Brincadeira? Ninguém sabe, mas a torcida alvinegra chegou a sonhar que o clube pudesse buscar o argentino. Muito porque o técnico Mario Sérgio o conhecia --inclusive, foi o que motivou Eli Coimbra a perguntar sobre o Corinthians ao craque argentino.
Mas a diretoria alvinegra jamais tentou negociar com o Maradona.
Aí veio a tentativa do Santos, que ficou muito próxima de ser bem-sucedida. O que poucos torcedores sabem é que Pelé chegou a cogitar na mesma época colocar Maradona no São Paulo . Tudo para viabilizar o negócio.
Naquela época, ainda vigorava a lei do passe e os jogadores ficavam presos aos clubes ou aos donos de seus passes. A empresa de Pelé ficaria com o de Maradona. Ssegundo a “Folha de S.Paulo”, o clube tricolor era uma possibilidade para arrecadar com os jogos na capital paulista.
Como mencionado no início do texto, não houve sucesso.
A última possibilidade de um clube brasileiro ter Maradona foi novamente o Santos, em 1998. Mas é preciso ser realista e admitir que não passou de um sonho, uma especulação. Tudo porque o jogador --novamente suspenso-- visitou a Vila Belmiro.
Ele chegou ao local acompanhado de José Paulo Fernandes, vice-presidente. Elogiou o campo onde Pelé fez história e disse ter carinho pelo clube. No mesmo dia o Santos, por meio da presidência, declarou que seria impossível contratar o argentino.
Carinho como torcedor?
Depois de tantas décadas, o mais próximo que se viu de Maradona com o uniforme de algum clube brasileiro foi em 2014, ocasião em que ele fez fotos segurando a camisa do Atlético-MG durante a Copa do Mundo no Brasil.
Naquele ano, ele fez uma visita à delegação da seleção argentina, que estava concentrada em Belo Horizonte.
E, em 2016, embora sem fotos, ele usou as redes sociais para dizer que virou torcedor da Chapecoense em solidariedade ao clube após a tragédia aérea que tirou a vida de 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes, em 28 de novembro.