Flamengo: os 5 recados de Filipe Luís em sua apresentação como técnico

Começou a era Filipe Luís como treinador do Flamengo . Se ela irá durar dois meses ou mais (seu contrato vai até o fim de 2025 ), é cedo para saber. No entanto, sua primeira entrevista no cargo trouxe algumas pistas do que se pode esperar dele com a prancheta na mão. Gabigol, relação com os jogadores, estilo de jogo, priorizar competições e aproveitamento da base foram temas em que o ex-lateral procurou passar seus recados. Saiba, abaixo, o que ele disse sobre cada um deles.

Gabigol

Que Filipe Luís e Gabigol possuem forte ligação não é novidade. Os dois atuaram juntos nas principais conquistas recentes do Flamengo, o que faz com que o agora treinador conheça bem as características de jogo do camisa 99. É amparada nisso que a torcida deposita a esperança de ver o atacante recuperar seu bom futebol sob o comando do ex-companheiro.

O técnico, contudo, já procurou separar a amizade da relação profissional. Deixou claro que vai, sim, usar seu conhecimento para tentar extrair o melhor de Gabi, em má fase desde a temporada passada. Mas que essa intenção vale para todos os ex-colegas de time. Ou seja: não haverá nenhuma espécie de "carinho especial" com o ídolo da torcida.

- Eu sei da capacidade que tem o Gabriel. Não importa o tempo de contrato, se são um, dois meses, dois anos ou cinco anos. Eu vou dar a vida por ele e por todos os jogadores para melhorarem individualmente para que joguem de uma forma coletiva organizada. Que eles sejam peças dessa engrenagem, que façam a equipe funcionar - disse Filipe, continuando:

- E eu vou fazer de tudo que está ao meu alcance para recuperar o melhor nível dele, o alto nível dele e o alto rendimento que ele tem e que já teve. E, assim que ele começar a falar no campo e começar a ser o Gabriel que eu conheci, com certeza ele irá recuperar os minutos de que ele precisa para poder ter uma sequência e desempenhar o melhor futebol dele. Eu vou estar para ajudar o Gabriel, mas não só para melhorar o Gabriel. Estou aqui para melhorar a equipe. E não só ele, mas vou tentar melhorar o Gabriel, o Bruno Henrique, o Carlinhos e quem estiver no ataque em determinado jogo. Vou dar todas as instruções, que é a única forma que tenho de respeitar a todos.

Relação com o elenco

A proximidade com parte do elenco, inclusive, foi um tema do qual Filipe não se esquivou. Reconheceu que há o lado negativo de ter que escalar e barrar amigos. Mas destacou que isso não irá influenciar suas decisões.

- O pró é que eu conheço esse grupo como ninguém. Eu sei das lideranças, sei o que acontece. Eu estava presente durante 5 anos nesse mesmo grupo. Acho que chegaram só três ou quatro jogadores depois que eu me aposentei. E eu sei que vou tomar decisões que vão incomodar alguns jogadores, e que alguns deles vão ficar bravos comigo. Mas não é com o Filipe Luís pessoa. É com o treinador. Então é importante separar isso aí, porque a maior forma de respeitar todos esses jogadores é treinando e deixando eles preparados para o jogo. As minhas decisões vão agradar a alguns e a outros não. Mas o importante é que a cobrança e o elogio vão existir para todos quando for necessário.

Estilo de jogo

Assumindo o posto pouco mais de 24h após a demissão de Tite, Filipe Luís procurou enaltecer o trabalho feito até então. Mostrou gratidão pelo técnico que o comandou, inclusive, numa Copa do Mundo com a seleção e afirmou que ele não deixou "terra arrasada" ao sair do Flamengo. Ainda assim, o novo técnico deixou claro que a página foi virada.

Filipe falou em implementar seu próprio estilo de jogo. Na verdade, nem tão próprio assim. O lateral prometeu a busca por um Flamengo que pressiona e ataca. Ou seja: muito semelhante ao futebol praticado pelo time em 2019 e que até hoje a torcida pede de volta.

- São realmente dois treinos (para o jogo contra o Corinthians). Pouco tempo. Mas é fazer alguns ajustes necessários nessa equipe e, pouco a pouco, ir implementando esse meu modelo de jogo. Quero que seja um time muito pressionante, que seja muito incômodo para o adversário. Que saiba competir muito bem em todas as fases do jogo e que seja compacto. Então espero poder ver isso nesse jogo. Mas a gente sabe que joga contra um adversário que está numa crescente e que obviamente vem para incomodar - explicou Filipe, que voltou a tocar no assunto em outra resposta:

- O futebol vem se reinventando constantemente, se pode ganhar de muitas formas. O Flamengo quer ganhar de uma concreta, que é sempre pressionando e atacando o adversário. Sempre. Então isso é inegociável. E, muitas vezes, vamos correr riscos exagerados para jogar do jeito que a torcida do Flamengo quer. E eu vou correr esse risco - afirmou.

O novo técnico deu a entender que não irá se apegar a uma formação tática única. Ao contrário de Tite, que não abria mão de um time bem espaçado horizontalmente e sempre atacava com dois jogadores de lado e um centroavante, o Flamengo de Filipe Luís pode se adaptar taticamente de acordo com o adversário.

- O 4-4-2 do Jorge (Jesus) não é nunca o mesmo 4-4-2 do Filipe Luís, nem do Guardiola, nem de ninguém. Ninguém consegue fazer um 4-4-2 igual um ao outro. Cada um tem seus detalhes. Porque o futebol para mim está nos detalhes que fazem ele ser diferente. Então o 4-3-3 do Tite e do Guardiola não vão ser iguais. Por isso falo que daqui para frente é uma nova história. É o 4-4-2 do Filipe Luís, ou o 4-3-3 do Filipe Luís. Ou o 3-4-3. O sistema que a gente for jogar vai muito também em função de como vem o adversário, para dar aos nossos jogadores vantagem de espaço e tempo para eles poderem jogar. Isso aí eu vou fazer e analisar segundo cada adversário que venha pela frente.

Aproveitamento da base

Talvez uma das maiores expectativas da torcida em relação a Filipe Luís seja no que diz respeito ao aproveitamento da base. Tite deixou a impressão de que recorreu à prata da casa menos do que poderia. Vindo de alguns meses de experiência no sub-17 e no sub-20, o novo treinador sabe o material que o Ninho do Urubu tem a oferecer. E, sem grandes promessas, falou em utilizar este conhecimento.

- A base do Flamengo é um espetáculo. Foi um privilégio, um prazer imenso trabalhar na base. Tem muitos jogadores bons. E eu gosto muito do momento. Então se o momento é de um jogador ou de outro, para mim não tem idade, não tem cor, não tem nada. É o melhor. E se o melhor tiver 16, 17 anos, vai estar aqui e vai jogar. Se tiver 40, vai jogar. A vantagem é que eu conheço desde os sub-15 até os sub-20, todos os jogadores. Então se em algum momento subir um jogador é porque eu já trabalhei com ele, eu já o conheço.

Priorizar competições

Tema que dominou as discussões do clube neste ano, a administração do elenco num calendário tão apertado será um desafio para Filipe Luís. O técnico abraçou o discurso da diretoria de não priorizar competições e chegou a afirmar que não gosta de poupar jogadores.

O que torna o cenário menos ingrato para ele do que foi para Tite é que, sem a Libertadores, o time terá mais espaço para descanso até o fim do ano. Ainda assim, são 11 partidas pelo Brasileiro e pelo menos mais duas (podendo chegar a quatro) de Copa do Brasil até o fim da temporada. Tudo isso em pouco mais de dois meses.

- Meu planejamento é sempre o jogo de amanhã primeiro. Mas posso dizer que não gosto muito de poupar, não. Claro que, na minha, a gente tem que ir com as melhores peças no momento. E muitas vezes vão ser outros jogadores. Pelo momento que eles vivem, pelo físico, pelo mental, pela parte técnica, por alguma coisa. Por isso existem trocas. Mas eu gosto de tratar todas as competições como importantes, sabendo da dificuldade que é. Mas acho que ter bastante jogo na temporada é um privilégio. Isso quer dizer que esse elenco vai mostrar a força dele, porque temos um elenco altamente qualificado que nos permite repor as peças se um se machuca. Quando o calendário está apertado a gente pode ver mais ainda a força desse elenco aqui.

Fonte: O Globo