O anúncio dizia que seria uma entrevista rápida, mas Marcos Braz acabou atendendo a imprensa por aproximadamente uma hora nesta sexta-feira (14), falando diretamente do hotel onde o time está concentrado em Goiânia, para esclarecer pontos polêmicos do Flamengo nos últimos dias. E, com duas derrotas consecutivas e protesto de torcedores, não foram poucos.
O vice-presidente de futebol esclareceu desde as cláusulas que possibilitaram a saída de Rafinha e Jorge Jesus para a Europa, respondendo sobre a forma física dos jogadores, o início de trabalho do técnico Domènec Torrent, contratações e um possível incomodo de Rodrigo Caio, que não teria gostado de ser escalado como lateral na derrota para o Atlético-GO por 3 a 0 .
O assunto predominante foi a saída de Rafinha para o Olympiacos, da Grécia, confirmada pelo dirigente logo no início da entrevista . Ele até declarou que a partir das 15h30 (de Brasília) o lateral direito está oficialmente desligado do clube.
Braz explicou que a saída foi facilitada por causa de uma cláusula contratual que dava liberdade para Rafinha decidir o próprio futuro, sem multa rescisória, se tivesse proposta de clubes da Europa. Foi o que aconteceu.
“Quando o Flamengo foi buscar o Rafinha, foi buscar um jogador que jogava no Bayern de Munique há oito anos, há 14 anos na Alemanha. Não era só jogar no Flamengo. Era mudar de vida. Foi maravilhoso enquanto durou. Ele se apega agora a uma cláusula que foi imposta por ele, foi colocada por ele, e se não tivesse esse ponto lá atrás ele não viria”, disse Braz.
Diante do volume de perguntas sobre o tema, o dirigente disse que a existência da cláusula era a única forma de fazer com que Rafinha aceitasse deixar de morar na Europa e voltasse ao Brasil.
O dirigente usou a mesma afirmação para relembrar que foi somente assim que Jorge Jesus aceitou a assumir o comando técnico do Flamengo em junho do ano passado e renovar o contrato neste ano. Pouco menos de um mês depois da assinatura, aceitou uma proposta do Benfica . O clube português teve de pagar apenas um milhão de euros ao Flamengo (cerca de R$ 6 milhões).
Braz explicou que o clube vinha analisando o mercado da bola sem pretensões de contratar por causa do impacto financeiro causado pela COVID-19, mas agora a diretoria vai ao mercado. A busca é por um lateral direito e só, disse ele.
Em um outro momento da coletiva, ele foi indagado pela reportagem da ESPN Brasil sobre a informação de que os jogadores estariam fora de forma e acima do peso neste início de Campeonato Brasileiro . E respondeu.
“Eu confio nos atletas e nos profissionais da área. Até pedi algo que não faço. Pedi os dados pra ver. E os dados não correspondem com falta de condicionamento", disse. "Posso garantir que não tem nenhuma anormalidade”, completou.
Sobre o tema Rodrigo Caio na lateral, Braz disse até que viu o vídeo de uma entrevista dada pelo zagueiro em 2018, quando ele estava no São Paulo e manifestou não se sentir à vontade na posição. Mas minimizou o episódio de quarta.
“É injusto com o técnico, é injusto com o Rodrigo Caio. Perdemos [para o Atlético-GO]. Isso acontece. Times que foram campeão também jogam mal. Quero voltar um pouco no tempo, na final do Estadual, com outro técnico, talvez o Flamengo não estava no melhor seu nível técnico", disse. "Da nossa parte temos de ter calma porque temos um norte para seguir”.
Diante de tantas perguntas sobre o ambiente, o trabalho do novo técnico, a saída de Rafinha, entre outros temas, Braz disse em tom de desabafo em um determinado momento: “Estamos longe de ser terra arrasada, mas muito longe”.
Veja abaixo outros pontos da entrevista de Marcos Braz :
Saída de Rafinha
Como já foi falado na maioria dos lugares, ele recebeu uma proposta de um time grego. Já comunicou a gente que vai aceitar a proposta. O Flamengo lamenta. Não gostaria de perder o atleta. Estou muito à vontade para falar dele. Se custou bastante tempo para colocar na cabeça dele que ele podia fazer um trabalho na América do Sul. E ele veio. Os resultados não são questionáveis. Ele ajudou muito a gente. É um jogador de 34 anos que faz aniversário, acho que amanhã, e com 35 anos ele recebeu uma proposta para ficar dois anos, até os 37, jogando em alta performance.
Proposta do Olympiacos
A proposta foi passada para gente e são números que são grandes. O atleta fez a opção de sair do Flamengo porque há aí esse novo contrato. Existe uma cláusula no contrato do Rafinha de que se ele quisesse voltar para a Europa, ele poderia voltar quando ele quisesse. Quando o Flamengo foi buscar o Rafinha, foi buscar um jogador que jogava no Bayern de Munique há oito anos, há 14 anos na Alemanha. Não era só jogar no Flamengo. Era mudar de vida. Era acreditar no projeto e mudar de vida. Foi maravilhoso enquanto durou. Ele se apega a uma cláusula que foi imposta por ele, foi colocada por ele, e se não tivesse esse ponto lá atrás ele não viria.
Contratações
O Flamengo sempre tenta contratações, tenta dar mais musculatura ao time. [A lateral-direita] É uma posição que há bastante tempo a gente vinha estudando. A gente sabe que é difícil. É um contexto de pandemia. O Flamengo tem de se adequar a várias questões financeiras. A gente não iria fazer contratação. A partir da saída do Rafinha vai ter que fazer.
Duas derrotas em dois jogos com Dome
Jorge Jesus teve 15 dias para trabalhar. O atual técnico teve quatro. Mas Flamengo confia no técnico que contratou. Confia nos profissionais que vieram com ele. Os resultados, é evidente, não são os esperados, mas a gente confia no treinador e no trabalho dele. Temos de entender que tem um tempo para ser maturado.
Risco de mudança de comando?
A gente confia no profissional que contratou, nas pessoas que chegaram com ele. O trabalho será continuado normalmente. Ele quer dizer que o técnico vai cair? Não, não é por aí. Não é assim que a gente trabalha.
Jogadores fora de forma, acima do peso?
Essa situação, essa pergunta em relação ao peso, é de estranhar. O departamento de análise e fisiologia do Flamengo é reconhecido mundialmente. São profissionais que tem uma metodologia de trabalho. A grande imprensa, os grandes sites, a mídia alternativa, fazem matérias elogiando esse departamento e de uma hora para outra tem problema de peso? Olha… quero voltar um ano atrás. Quando Jesus chegou, falaram que tinha muito treinamento e os jogadores estavam se machucando. E depois fomos campeões. Agora o que posso falar: temos um elenco maravilhoso, super-responsável e profissional. Várias partidas o Flamengo virou no final, correu até o final. O maior título que tivemos foi nos acréscimos. Esse departamento sempre funcionou bem. Essa pergunta em relação ao peso, eu confio nos atletas e nos profissionais da área. Até pedi algo que não faço. Pedi os dados pra ver. E os dados não correspondem com falta de condicionamento. Evidente que o Flamengo não pode e nem deve estar no melhor condicionamento do ano. É um ano atípico, com várias competições. Esse ápice deve ser um pouco mais à frente, com a Libertadores e a Copa do Brasil, mata-matas entre o Brasileiro. Posso garantir que não tem nenhuma anormalidade.
Rodrigo Caio na lateral direita
Eu até vi essa entrevista há dois anos. Ele fala que se sente desconfortável. Mas foi opção do técnico [na quarta]. Ele entendeu que deveria ter feito naquele momento. Mas não foi isso que implicou no resultado. É injusto com o técnico, é injusto com o Rodrigo Caio. Perdemos. Isso acontece. Times que foram campeão também jogam mal. Quero voltar um pouco no tempo. Na final do Estadual, com outro técnico, talvez o Flamengo não estava no melhor nível técnico. Se puxar 14 de março, último jogo antes da pandemia, já sem público, o Flamengo teve dificuldade enorme de ganhar o jogo contra a Portuguesa. Virou nos minutos finais. Isso acontece, acontece com time campeão. Não é o que a torcida quer. A gente respeita a análise dos jornalistas, o xingo da torcida, mas nós temos de ter calma porque temos um norte para seguir.
É impossível competir com a Europa?
Eu acho que é o contrário. O Flamengo está numa posição que nunca teve. Flamengo nunca ousou trazer um jogador que foi do Bayern. O Flamengo procurou outros caminhos quando trouxe Jesus. Quando pensa em vir da Europa pra cá, a análise não é só o Flamengo. É o país, a segurança, a parte monetária. São 30 itens que se olha ao mudar de um país. O Rafinha tem 14 anos na Alemanha e oito de Bayern. Ao trazer ele, não era só trazer um jogador. Dou como exemplo o Filipe Luís, que morava dez anos em Madri. A analise não é trocar o Atlético pelo Flamengo. A analise é Madri pelo Rio. Espanha pelo Brasil. Não tem um item ou dois. É uma gama de itens.
Duas derrotas consecutivas
Acho que a torcida do Flamengo comeu peixe mais espinhoso já. A diretoria também já passou por outras situações. Nos três títulos que disputamos este ano, nós ganhamos. Um nacional, Supercopa, um internacional, a Recopa, e um regional, o Estadual. Eu sei que a parada prejudicou a todos, não só o Flamengo. O jogo contra o Atlético-MG foi duro, jogamos o que podíamos, o Atlético bem armado, com jogadores qualificados. O Flamengo não aproveitou as oportunidades e não conseguiu os resultados. [Contra o Atlético-GO] O Flamengo voltou a não jogar bem. No segundo tempo começou a melhorar e aí veio o terceiro gol, que praticamente definiu o resultado do jogo. Não é o resultado que queríamos, mas não falta vontade dos jogadores, concentração, absolutamente nada. É um momento de transição, que não foi opção da diretoria. Agora administramos a questão.
Renovação
Diego Alves Flamengo parou de jogar em 14 de março e veio a pandemia. O Flamengo teve que se posicionar em situações da parte financeira. Muitas incertezas. Empresas patrocinadoras que tinham questões a se dirimir. O Flamengo se posicionou na parte financeira estrutural. Funcionários tiveram redução de salário, jogadores também. Não nos sentíamos a vontade de fazer nenhuma contratação ou renovação. Diego Alves quando a diretoria atual chegou, estava três meses afastado. Tinha goleiro vindo do México que estava aqui e teve que pegar a ponte aérea para São Paulo. O Flamengo não vai fazer loucura. Ninguém quer mais o Diego Alves que eu aqui. Diego Ribas conversamos também, já entendeu. Está tudo tranquilo. O que não está tranquilo são os resultados. Respeito a posição da torcida e dos jornalistas, mas fazemos um trabalho tranquilo.
Mudanças no time com Domènec
Eu não posso chegar e analisar o trabalho dele com sete dias úteis de trabalho. Foi opção dele essa parte tática. Ele, como todos os profissionais, viu o que se passou lá. Ele tem toda a liberdade e segurança da torcida para que sigamos com ele, com resultado melhor e com êxito. Não teve conversa com ele após o jogo. O que houve foi uma conversa, pedida pelo treinador. Ele pediu para os jogadores para ter uma conversa para falar de todas as questões que serão impostas no trabalho. Diferente do que saiu na imprensa, quem pediu a reunião foi o Domènec.
Perda de foco?
Entendo que os jogadores estão focados. São os mesmos jogadores [de um ano atrás]. A maioria das pessoas que trabalham aqui são os mesmos que trabalhavam antes. O que notamos foi a falta das vitórias nos jogos. Não tem falta de apetite de jogador, falta de concentração. Temos um dos melhores departamentos de fisiologia do Brasil. Dr. Tannure ajudou muito em alguns protocolos para o retorno do futebol.
Projeto Domènec?
O projeto não é do Domènec. É do Flamengo. Ele está atrelado ao nosso projeto. É projeto vencedor, de futebol de comando, de muita cobrança no futebol. O projeto é da instituição. O Flamengo ganhou muita coisa em 2019. O que podia em 2020. Agora é a gente se posicionar, estar bem nas competições, para que possamos ser campeões em 2021. Eu espero e muito que estejamos bem posicionados para que em 2021 tenhamos os mesmos resultados de 2019 e 2020.