Se os encontros pela Copa do Brasil foram marcados pelo enorme domínio dos mandantes, o terceiro da trilogia Flamengo x Palmeiras em dez dias apresentou o mais equilibrado dos jogos: as melhores oportunidades de gol estiveram nos pés rubro-negros, e o domínio tático ficou nas mãos dos paulistas por mais tempo. Do Maracanã, o Flamengo levou algo mais do que um ponto. O jogo reacendeu debates táticos e, principalmente, a discussão sobre a capacidade do elenco de enfrentar a temporada da forma como o clube parece ter decidido lidar com ela. O Flamengo pisou o campo como candidato a líder. Saiu dele com a sensação de urgência.
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Não é justo dizer que o Flamengo tenha enfrentado mal a partida. Teve momentos para decidir o confronto contra um dos rivais mais fortes do campeonato. No entanto, voltou a ver sua capacidade de pressionar no ataque oscilar muito, algo que pode ser resultado do período insano do calendário.
Além disso, o gol de Arrascaeta surge num momento um tanto fora do roteiro àquela altura. A bola chutada pelo uruguaio resulta de uma das raras passagens na etapa final em que os rubro-negros se instalaram no campo ofensivo. Até ali, o segundo tempo era marcado pela dificuldade em se livrar da boa pressão ofensiva do time de Abel Ferreira. Era mais um jogo em que, marcado em sua saída de bola, o Flamengo se via forçado a passes longos e pouco controle.
Mas o pior dos efeitos colaterais foi o agravamento da sensação de que o clube vai precisar correr ao mercado. Nenhum clube brasileiro jamais resistiu à maratona do calendário nacional a ponto de vencer Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores. Falhar ao estabelecer prioridades tem sido, mais do que sinal de ambição, uma armadilha. E, na lógica de um clube com orçamento bilionário, seria natural colocar o mata-mata nacional no último lugar da fila.
Os rubro-negros foram com força total nos dois jogos com o Palmeiras da Copa do Brasil, sentiram fisicamente a partida de domingo na segunda etapa e, pior, viram ficar ainda mais curto um elenco que já parecia insuficiente para correr em três frentes. Uma percepção agravada pela impressão de que, dos integrantes atuais do grupo, nenhum dos jovens revelados na base deu à comissão técnica a segurança de que pode ser usado com frequência e em ocasiões importantes.
A falta de outro meia criativo é problema desde janeiro. Lorran, que chegou a substituir Arrascaeta com bom desempenho, pareceu distante dos planos nas últimas semanas. Houve momentos em que De La Cruz foi usado como alternativa, mas a substituição do uruguaio na função de “camisa 8” tampouco é simples. Allan tem características muito diferentes, e a única opção é tirar Gérson da ponta e trazê-lo para o meio-campo. O resultado é uma escassez nas pontas. Se o clube só tinha três especialistas, a lesão de Cebolinha faz de Luiz Araújo e Bruno Henrique as peças restantes. E este último tem sofrido com questões médicas.
Nas laterais, o elenco tinha a conta certa com dois jogadores para cada lado da defesa. Sem Viña, a lacuna é clara. E ainda não foi descartada a venda de Wesley. Para completar, com Gabigol longe da forma e numa contagem regressiva em sua relação com o clube, tem ficado claro que o único substituto de Pedro é Carlinhos, que tecnicamente tem se mostrado abaixo do padrão que requer um clube com tantas ambições.
O Flamengo tem grandes jogadores, alguns deles os melhores do país em suas posições. Mas o futebol brasileiro exige quantidade quando se quer brigar por tudo. Vivo em todos os torneios, o rubro-negro terá dias em que as ações fora de campo serão tão decisivas quanto as jogadas feitas no gramado.
A prata
Um ano depois de uma Copa do Mundo decepcionante, a seleção feminina deixa um torneio de primeira linha novamente sem o primeiro lugar, mas com sensações muito diferentes. A forma como atuou nos mata-matas olímpicos aproximou a equipe das grandes potências e apontou um caminho de evolução com Arthur Elias . Tudo isso com uma média de idade que permite chegar à Copa de 2027, em casa, com uma estrutura de time mantida.
Debate sequestrado
A cada rodada, treinadores, dirigentes e jogadores fazem das arbitragens o tema central. No domingo, Abel Ferreira optou por descredibilizar a tecnologia que, com sua margem de erro, é o método pactuado para analisar possíveis impedimentos em todos os jogos do campeonato. Disse que “não acredita” nela. Comum no Brasil, a difamação é um método. O caos é útil, porque dá a todos uma bengala para se apoiar quando resultados não satisfazem.
O clássico
Na média de suas atuações, o Vasco melhorou com Rafael Paiva no comando . No sábado, fez um de seus jogos mais consistentes neste período de evolução. Com o bônus de ter conseguido adaptar Payet ao time sem perder a capacidade de competir, algo que parecia desafiador. O Fluminense, forçado a buscar o resultado desde o início, se viu em dificuldades para criar. A situação tricolor melhorou, mas ainda há um percurso rumo à calmaria.