Flamengo é o clube mais rico de seu país, assim como o Bayern, mas poderio financeiro dos alemães é mais discrepante; entenda

Clubes mais ricos de seus países, Flamengo e Bayern de Munique, que se enfrentam neste domingo às 17h, ostentam capacidade de investimentos em reforços e estrutura acima de seus concorrentes no Brasil e na Alemanha. Mas, apesar de ambos figurarem entre as 30 maiores receitas do futebol no mundo, as 25 posições que os separam — Bayern é o 5º e o rubronegro o 30º da lista organizada pela consultora Delloite — evidenciam uma distância financeira relevante entre os dois.

Ainda que tenha o maior orçamento do campeonato brasileiro nessa década, o Flamengo não é o mesmo “papa-títulos” que é o clube bávaro. Entre outros fatores, isso mostra como o Bayern consegue se descolar mais de seus rivais, muito pelo poderio financeiro, do que o time carioca.

Em 2024, o Flamento teve um orçamento superior a R$1bilhão pelo quarto ano seguido. A receita bruta, em balanço publicado em abril, foi um recorde na história do clube: R$1,3 bilhão. Apesar do aumento de 581% na dívida líquida operacional e de déficit de R$ 734 mil — o que se explica principalmente pelos altos investimentos em compra de jogadores e do terreno do Gasômetro para o projeto do seu futuro estádio — o rubronegro continua no topo dos maios ricos do Brasil, à frente de Palmeiras e Corinthians em orçamento.

As principais fontes de receitas do Flamengo são a venda dos direitos de transmissão, os patrocínios e a torcida, via renda dos jogos ou com sócios. As cotas de TV somaram R$595,5 milhões e a publicidade R$322,5 milhões no ano passado. Com bilheteria, o rubronegro arrecadou R$118 milhões, além de R$78 milhões com seu programa de sócio-torcedor. As vendas de jogadores geraram R$107 milhões.

Segundo comunicado da própria diretoria, na publicação do balanço financeiro, o resultado de 2024 “foi impulsionado pelo crescimento nas receitas comerciais e com premiações por títulos”, enquanto a receita de bilheteria e sócio-torcedor “ficou aquém do esperado”.

Já o Bayern teve sua segunda melhor receita da história, na temporada 2023/24: 951.5 milhões de euros, cerca de R$5,3 bilhões. Ou seja, quase cinco vezes a arrecadação do Flamengo, além de 43 milhões de euros de lucro líquido. Incluindo os times feminino e de basquete, o faturamento chega a 1 bilhão de euros.

Especialistas explicam diferenças

Assim como no caso brasileiro, as três principais fontes do Bayern são os direitos de transmissão, os patrocínios e a bilheteria. No entanto, os patrocínios superam as cotas de TV como a maior contribuição. Segundo relatório da UEFA, o clube dobrou suas receitas com “matchday” nos últimos 15 anos, a partir de reformas e mellhorias no seu estádio, o Allianz Arena.

— A comparação entre os clubes só se dá por conta do ranking de receitas locais, onde ambos são os primeiros. A partir daí as realidades são diferentes — explica Cesar Grafietti economista, especialista em finanças do esporte e sócio da consultoria Convocados. — O Bayern é muito mais dominante financeiramente na Alemanha que o Flamengo no Brasil, porque o Bayern possui receitas comerciais enormes vindas dos seus parceiros-acionistas. Então, as receitas são perto de 50% maiores que as do segundo. No Brasil, o Flamengo mantém distância de 20% sobre o Palmeiras e o Corinthians.

Thales Rangel Mafia, gerente de marketing da Multimarcas Consórcios, também bate na tecla da diversificação de receitas do Bayern como uma vantagem sobre os cariocas.

— Enquanto o clube alemão tem receitas diversificadas, com forte peso de patrocínios corporativos (como Allianz) e sólido desempenho em competições europeias, o Flamengo depende mais de audiência massiva (bilheteria, sócio-torcedor e direitos de TV), refletindo o consumo de futebol no Brasil. A disparidade na venda de jogadores também é notável, o Bayern prioriza retenção de estrelas, enquanto o Flamengo usa o mercado de transferências como receita estratégica. Ambos são potências nacionais e continentais, mas o modelo alemão é mais sustentável e sólido em nível global.

Alexandre Vasconcellos, gerente regional da Flashscore no Brasil, com experiência em marketing esportivo, comunicação, inovação e ESG no mundo dos esportes, explica que a combinação entre um forte programa de sócio-torcedor e grandes parcerias comerciais faz com que o Bayern consiga competir com os demais gigantes europeus, mesmo sem ter as receitas de TV no nível da Premier League e La Liga;

— O melhor paralelo entre os dois clubes (Bayern e Flamengo) é o fato de que são os que melhor exploram comercialmente sua grandeza em seus países, talvez até em seus continentes. É um duelo de titãs dos negócios do sportainment.

Além disso, Cesar Grafietti destaca que não há grande mobilidade de receitas na Alemanha, onde os clubes já parecem ter atingido seus volumes máximos possíveis. Enquanto isso, no Brasil a indústria ainda está em transformação, o que permitirá que mais clubes cresçam suas receitas e reduzam a distância em relação ao Flamengo.

— Possivelmente ninguém ultrapassará o rubro-negro, mas podem encurtar a distância. Na Alemanha o 4º ou 5º maior clube em receitas seguirá assim e não diminuirá a distância — afirma o economista.

Fonte: O Globo
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