No primeiro dia após o fim das férias dos jogadores, o Flamengo dá mais um passo na tentativa de promover a volta das atividades no departamento de futebol, mesmo em meio à pandemia do coronavírus. Nesta sexta-feira, funcionários e parte da comissão técnica têm como dever comparecer ao Ninho do Urubu para realizar testes de COVID-19.

Os familiares residentes das mesmas casas deste grupo também deverão comparecer ao CT para participar da testagem. A partir de sábado, outro grupo terá vez: jogadores, o técnico Jorge Jesus e membros da comissão técnica que estavam em Portugal e retornam ao Brasil nesta sexta-feira após um mês fora do país. Mas com uma diferença: ninguém sairá de casa e os exames serão realizados neles e nos familiares diretamente nas residências.

A diretoria comprou cerca de 500 testes ao custo de aproximadamente R$ 100 mil. É o primeiro passo do protocolo de segurança para retomar as atividades.

A atitude não gera conforto tanto em grande parte de funcionários quanto de jogadores. Há temor de que o momento não seja adequado diante da ascendência da curva de contaminação da doença no Brasil neste momento. Nos bastidores, o Flamengo tenta argumentar com autoridades públicas de que é capaz de promover um retorno em ambiente seguro por meio de seu protocolo de segurança.

O parecer favorável ao retorno das atividades no futebol brasileiro, embora com ressalvas, enviado à CBF pelo Ministério da Saúde na noite de quinta-feira animou entusiastas do retorno imediato, possivelmente já na próxima semana. Mas o clima é de insegurança não apenas por conta dos cuidados essenciais com a COVID-19, como também devido ao início de demissões nesta quinta-feira. No total elas devem chegar a 62 funcionários dispensados entre sede social, Ninho do Urubu, departamentos de futebol e esportes olímpicos.

Houve uma meta de redução dos departamentos enviada pela cúpula do clube para apertar os cintos no momento de dificuldade financeira. Internamente, há uma avaliação de que a pandemia acelerou o processo, mas alguns cortes eram vistos como "necessários" sob a visão de que havia excesso de profissionais em algumas áreas.

A decisão não foi bem avaliada por conselheiros e gerou grande debate interno, mesmo em meio à pandemia. A dúvida, em geral, abordava uma mesma linha: o porquê de iniciar medidas drásticas com funcionários mais simples antes de firmar uma redução salarial com o elenco profissional de futebol, responsável pela parte parruda da folha mensal de cerca de R$ 25 milhões.

A argumentação é de que o clube necessita atuar em diversas áreas para estancar o sangramento e passar sem maiores sequelas no período de epidemia. Em suma, tanto as demissões quanto o enquadramento de funcionários na MP 936, com redução de jornada e dos vencimentos, como o corte salarial dos atletas são necessários. A redução dos jogadores está em debate, e o percentual proposto deve girar em torno de 25% durante a crise, patamar praticado por outras agremiações do futebol brasileiro. Alguns atletas, oficialmente, não foram informados, mas tomaram conhecimento da intenção nos bastidores.

O clube indicava a necessidade de uma renegociação geral caso os jogos não voltassem, ainda que com portões fechados, no início de junho. Mas o quadro da pandemia se agravou e antecipou a ideia.

Em um teste de stress apresentado no balanço da temporada 2019, a diretoria afirmou que três meses sem jogos e bilheteria seriam "absorvíveis" sem grande impacto. O cenário, no entanto, não considerava a ausência de receitas certas, como a primeira de duas parcelas anuais de cerca de R$ 9 milhões da Adidas, atrasada desde o início de abril, e a proposta da TV Globo de reduzir em cerca de 70% as cotas dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro referentes a abril, maio e junho.

Os clubes, sem outra opção de negócio, se viram obrigados a aceitar o novo cronograma de pagamento da emissora, com fluxo alterado para quitar a maior parte da cota fixa de cerca de R$ 22 milhões apenas no segundo semestre.