Fla acusa nadadora de falta de ética em rompimento; pai defende a atleta

Jhnennifer Conceição Flamengo natação (Foto: Satiro Sodré / SSPress) Jhnennifer em ação pelo Flamengo na disputa do
José Finkel deste ano (Foto: Satiro Sodré / SSPress)

Uma das principais revelações recentes da natação feminina do Brasil, a jovem Jhennifer Conceição, de 18 anos, está de saída do Flamengo após quatro anos no clube carioca. Mas o rompimento não está sendo nada amigável. Nesta segunda-feira, o Rubro-Negro divulgou uma nota oficial em que questiona a maneira como a atleta e seu representante vêm conduzindo a rescisão, além de criticar o Pinheiros, de São Paulo, provável destino de Jhennifer.

A atleta se defende por meio do pai, Jair Antônio da Conceição, que também é o responsável por sua carreira. Segundo ele, Jhennifer já estava infeliz no Flamengo por uma série de motivos técnicos e pessoais. Além disso, a jovem nadadora recebeu uma proposta financeira bem mais vantajosa do clube paulista - quase o dobro do que recebe atualmente no Rubro-Negro, moradia em São Paulo e toda a assistência médica que precisar.

Medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos no revezamento 4x100m medley, Jhennifer é a principal nadadora do estilo peito atualmente no Brasil. Na primeira seletiva olímpica para os Jogos Rio 2016 - Torneio Brasileiro/Open, disputado em dezembro do ano passado -, ela não alcançou a marca exigida para as provas individuais, mas fez índice "B" nos 100m peito, que a colocaria na equipe brasileira do revezamento 4x100m medley, caso o país conquiste a vaga por meio do ranking da Fina. A segunda e última seletiva olímpica será o Troféu Maria Lenk, entre os dias 15 e 20 de abril, no Rio de Janeiro.

Etiene Medeiros, Jhennifer Conceição, Daynara de Paula e Larissa Martins comemoram o bronze nos 4x100m medley (Foto: Erich Schlegel-USA TODAY Sports) Segunda da esquerda para a direita, Jhennifer Conceição foi bronze no Pan de Toronto no revezamento 4x100m medley, ao lado de Etiene Medeiros, Daynara de Paula e Larissa Martins (Foto: Erich Schlegel-USA TODAY Sports)

Atleta do Flamengo desde os 14 anos, Jhennifer, que é natural de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, tinha contrato com o Rubro-Negro até o fim de 2016. Porém, segundo o pai da atleta, em dezembro do ano passado, logo após Torneio Brasileiro/Open, ela recebeu a proposta para se transferir para o Pinheiros.

Eles queriam ver o que poderia ser feito para a Jhennnifer continuar no Flamengo. Mas ela já não sentia mais atleta do clube e eles também não cobriram a proposta financeira. Eu, como representante e pai, disse também que já não tínhamos mais condições financeiras de ficar no Rio"
Jair Antônio da Conceição,
pai e representante de Jhennifer

- No dia 28 de dezembro (de 2014), nos reunimos com o Edson Terra, gerente de esportes aquáticos do Flamengo. Mostramos a proposta em valores financeiros do Pinheiros a eles. O próprio Edson disse que o Flamengo não ia cobrir e queria que valesse o contrato vigente. A Jhennifer também já estava um pouco infeliz em treinar no Flamengo. Lá, estava tendo problema porque não sentia muito aquele abraço de equipe. No dia 5 de janeiro, levamos então a notificação para ser protocolada no jurídico do Flamengo comunicando a saída e se comprometendo a pagar a multa prevista no contrato - explicou Jair da Conceição.

Ainda de acordo com o pai de Jhennifer, após a notificação, o Flamengo voltou a procurá-lo para uma nova reunião. Dessa vez, com a presença de representantes também do Pinheiros. No encontro, no dia 11 de janeiro, o Rubro-Negro chegou a oferecer um aumento, mas não cobriu a oferta dos paulistas e a decisão foi de que a atleta deixaria mesmo o clube carioca, mas a multa para a rescisão seria maior. A família aguarda agora a confirmação por escrito do valor dessa multa para romper definitivamente o contrato.

- Eles queriam ver o que poderia ser feito para a Jhennnifer continuar no Flamengo. Mas ela já não sentia mais atleta do clube e eles também não cobriram a proposta financeira. Eu, como representante e pai, disse também que já não tínhamos mais condições financeiras de ficar no Rio. O salário do Flamengo não cobria nem 50% das nossas despesas. Foi feito um acordo verbal e ali e foi determinado que a Jhennifer iria sair. E a gente ficou esperando a notificação do Flamengo com a multa rescisória, porque o Flamengo iria cobrar um valor maior, como clube formador, baseado na Lei Pelé. No dia 19 de janeiro, me informaram por telefone que a multa seria um valor mais de cinco vezes maior. Eu queria essa informação no papel (a notificação da multa), para poder correr atrás. No papel, porque tenho que ver com o jurídico. Até agora, não encaminharam nada - concluiu Jair.

Jhnennifer Conceição Flamengo natação (Foto: Satiro Sodré / SSPress) Jhnennifer com a bandeira do Flamengo no pódio do Troféu José Finkel deste ano (Foto: Satiro Sodré / SSPress)

Flamengo acusa nadadora e
o Pinheiros de falta de ética


Na nota oficial divulgada pelo Flamengo, o clube questiona a maneira "estranha" como Jhennifer decidiu pelo rompimento do contrato. Ainda segundo o Rubro-Negro, após as reuniões, ficou decidido que o jurídico estudaria os termos para a rescisão.

"Tivemos então uma reunião com a atleta e seu representante e, diante da intransigência da mesma em sua intenção de se transferir de clube, combinamos que apresentaríamos uma proposta financeira de um acordo de rescisão que permitiria sua saída. No entanto, se não fosse possível o entendimento, o C.R Flamengo não liberaria a atleta. Com enorme surpresa, dias depois, antes de qualquer fechamento de acordo, recebemos a notícia de que Jhennifer Conceição estava novamente treinando no E.C. Pinheiros", diz trecho do comunicado do Flamengo.

Na nota, o Fla afirma que Jhennifer passou a treinar no Pinheiros antes mesmo da definição da situação e acusa os representantes da atleta e o clube paulista de falta de ética na condução do caso.

"Com enorme surpresa, dias depois, antes de qualquer fechamento de acordo, recebemos a notícia de que Jhennifer Conceição estava novamente treinando no E.C. Pinheiros. O C.R. Flamengo já manifestou à atleta e ao E. C.Pinheiros sua indignação pela postura anti-ética e desrespeito aos valores básicos do esporte e da boa convivência entre clubes co-irmaos", diz outro trecho da nota do Flamengo.

O pai de Jhennifer negou que a atleta esteja treinando no Pinheiros. Segundo ele, ainda aguardam a rescisão contratual para firmar vínculo com o clube paulista. Para não ficar parada neste período, a nadadora segue treinando por conta própria em São Paulo, na piscina do clube Hebraica.

A reportagem do GloboEsporte.com entrou em contato com a assessoria de imprensa do Pinheiros, mas o clube ainda não se pronunciou sobre o caso.

Confira a íntegra da nota do Flamengo

"No ano de 2011, o C.R. Flamengo trouxe para a sua equipe a atleta Jhennifer Conceição, então com 14 anos, da Academia Aquarium, de Nova Friburgo. Cabe ressaltar então que o C.R. Flamengo constitui-se no primeiro clube de Jhennifer Conceição como atleta federada de natação.

Desde então, a atleta, através de seu esforço e talento e do suporte da comissão técnica rubro-negra e do clube, se tornou uma das melhores nadadoras do Brasil. Em dezembro último, para orgulho do C.R. Flamengo, Jhennifer Conceição alcançou o índice B na prova de 100 metros nado de peito, em busca de uma vaga para as Olimpíadas de 2016.

Em janeiro de 2015, a atleta assinou contrato de dois anos com o C.R. Flamengo, compromisso que se encerra em dezembro de 2016.

No começo de 2016, através de seu representante, a atleta, inesperada e estranhamente, comunicou ao clube "que estava de saída", em flagrante desrespeito a um contrato vigente. Em algumas entrevistas, o C.R. Flamengo apenas confirmou que a atleta estava sob contrato e que não entendia o rompimento unilateral repentino. Como resposta, em redes sociais, o representante da atleta inexplicavelmente atacou agressivamente a instituição C.R. Flamengo, em uma deplorável atitude de ingratidão e desrespeito ao clube que teve fundamental participação no crescimento esportivo de Jhennifer.

Para completar, no começo do mês de janeiro, fomos informados de que a atleta estava treinando no E.C. Pinheiros, sem a devida autorização do C.R. Flamengo.Tendo a convicção de que o E.C. Pinheiros não tinha conhecimento pleno da situação contratual da atleta entramos em contato com Arnaldo Pereira, diretor do referido clube, que nos afirmou taxativamente que iria tomar as devidas providências. A mais importante seria a de não permitir o treinamento da atleta no clube até que a situação com o C.R. Flamengo estivesse plenamente resolvida.

Tivemos então uma reunião com a atleta e seu representante e, diante da intransigência da mesma em sua intenção de se transferir de clube, combinamos que apresentaríamos uma proposta financeira de um acordo de rescisão que permitiria sua saída. No entanto, se não fosse possível o entendimento, o C.R Flamengo não liberaria a atleta.

Com enorme surpresa, dias depois, antes de qualquer fechamento de acordo, recebemos a notícia de que Jhennifer Conceição estava novamente treinando no E.C. Pinheiros.

O C.R. Flamengo já manifestou à atleta e ao E. C.Pinheiros sua indignação pela postura anti-ética e desrespeito aos valores básicos do esporte e da boa convivência entre clubes co-irmaos.

O C.R. Flamengo reafirma que continuará a seguir sua linha ética e reta na luta pela moralização do esporte brasileiro. Isso vale mais que qualquer participação ou medalha nas Olimpíadas de 2016, o que parece ser uma triste obsessão para alguns clubes, que abandonam regras morais básicas em troca dessa ambição desmedida.

Nada podemos fazer contra a ingratidão e falta de postura alheios, mas toda a comunidade esportiva e a Nação Rubro-Negra pode ter a certeza de que iremos até o fim na defesa dos nossos direitos nesse caso.

Muito além de qualquer lei, que está totalmente do nosso lado, temos a moral esportiva como principal aliada, até porque o mundo continuará dando as suas voltas, independente de atletas ou dirigentes esportivos específicos".

Fonte: Globo Esporte