Um movimento simples, repetido centenas de vezes em treinos e jogos e uma lesão improvável. Por alguns segundos, o mundo de Ricardo Fischer parou. Da dor
pela ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho direito
ao drama de ficar fora do restante da temporada e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o armador teve que aprender a conviver com sentimentos distintos e algumas perguntas que ficaram sem respostas nos últimos três meses. Primeiro veio a fase do choro, depois da incerteza e por fim da aceitação. Conformado ou não, o fato é que o armador do Bauru não tinha outra opção senão esperar. Seis meses foi a previsão dada pelos médicos. Era tempo demais longe das quadras para um dos líderes da equipe paulista. Ansioso para voltar a vestir o mesmo uniforme que o fez ganhar muito mais do que perder nas últimas quatro temporadas, Fischer trocou a recuperação em São Paulo perto da família para se tratar ao lado de seus companheiros e continuar sendo útil de alguma forma. Desta vez, fora de quadra, numa posição incomum para ele: no banco de reservas, ao lado da comissão técnico liderada por Demétrius Ferraciú.

Para quem se acostumou a decidir os jogos em quadra com a bola nas mãos, até que o jogador tem se saído bem sem ela. À vontade na nova função, o armador mostra a mesma liderança no banco de reservas. Inquieto, ele fala, gesticula, orienta e às vezes até grita. Mas tudo com a melhor das intenções. Entre uma dica e outra, Fischer não só se sente mais útil como dá um chega para lá na frustração de não poder ajudar seus companheiros em quadra.
- De alguma maneira me sinto útil, efetivo, porque sei que poderia muito bem estar em casa assistindo tudo pela tv, mas aqui eu sinto o clima do jogo e a adrenalina que envolve uma decisão. Às vezes acho que levanto mais que o próprio Demétrius. Vibro muito e estar no banco de reservas ao lado deles me faz muito bem. A ansiedade é tão grande que no sábado eu quase coloquei o uniforme e falei que ia jogar (risos). Sei que não posso entrar em quadra ainda, mas como um dos líderes dessa equipe é sensacional poder estar ali com eles e ajudar de alguma maneira. Acredito que tudo tem um porquê na vida e naquele momento eu tinha que parar e me recuperar para lá na frente colher os frutos. Estou na fase da aceitação e focando para tratar e voltar do mesmo nível ou melhor - afirmou o jogador.
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No comando da equipe paulista desde o início do NBB 8, Demétrius não esconde sua admiração pelo camisa 5 do Bauru e da seleção. Seis vezes campeão brasileiro por Franca, Vasco e o extinto Telemar, o ex-armador já sentiu na pele o drama vivido por Fischer e sabe o quanto é difícil essa caminhada para voltar a jogar em alto nível. Apesar de triste pela ausência de seu titular, o comandante do vice-campeão da Liga das Américas elogia o profissionalismo do jogador e reconhece que sua ajuda tem sido extremamente importante para o grupo.
- Isso mostra um comprometimento muito grande dele em relação à equipe mesmo não podendo atuar. O fato dele estar participando, querendo estar junto com o time e estar curtindo esse momento decisivo mostra um desprendimento muito grande e serve para nos motivar ainda mais. Ele está sempre querendo ajudar dando opiniões para a comissão técnica e conversando com os jogadores. É muito importante ter ele do nosso lado nos ajudando nesse momento decisivo da competição.

O retorno às quadras só deve acontecer em agosto, nas finais do Campeonato Paulista, e até lá o jogador terá de se contentar em continuar vestindo o uniforme da comissão técnica. Apesar de contar os dias para voltar a jogar, ele espera que a nova experiência se estenda pelo menos até o dia 11 de junho, data da quinta e última partida da série melhor de cinco das finais do NBB 8. Mas para chegar lá, Bauru terá que vencer pelo menos um dos dois confrontos na Arena Carioca 2, nesta quinta-feira, às 17h, e no próximo sábado, às 14h10, ambos com transmissão do SporTV e cobertura em tempo real do GloboEsporte.com.
Qualquer vitória no Rio de Janeiro será mais do que bem-vinda, mas o experiente armador mostra personalidade e reconhece que uma derrota quinta-feira pode deixar o time paulista numa situação dramática.
- Sabemos que o jogo chave será o segundo. É muito complicado enfrentar o Flamengo com uma desvantagem de 2 a 0, fora de casa e com a torcida contra. Por isso temos que concentrar nosso foco na partida de quinta-feira - prevê o armador, que lamentou o apagão no último quarto na
derrota de sábado por 83 a 77
.
- O jogo de sábado foi muito bom, um dos melhores do NBB e decidido nos detalhes. Na hora que demos uma cochilada e deixamos de fazer o que estava programado, eles abriram 10 e não conseguimos correr atrás. Então temos que ter disciplina os 40 minutos, porque o Flamengo é um time que roda muito, totalmente disciplinado, e que dificilmente erra. Eles vão fazendo aquilo que o jogo pede, por isso não podemos errar também, será um jogo de xadrez. São pequenos detalhes que precisamos acertar, como o nosso rebote defensivo, já que eles tiveram muitas segundas chances, e no ataque temos que saber o que o jogo está pedindo. Tiveram duas ou três vezes no últimos quarto que não fizemos isso, levamos o contra-ataque e pagamos caro.
