Após a vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG no Maracanã, o técnico Filipe Luís abordou em coletiva a discussão que teve com Gabigol durante o jogo, que foi um dos personagens principais da partida com dois gols e uma assistência. O treinador elogiou a postura do atacante, relembrando que esse tipo de troca de ideias era comum entre eles desde os tempos em que jogavam juntos, e garantiu que tudo está resolvido.
— Você não consegue ensinar um jogador a ser decisivo. Você tem ou não tem. Existe um ditado de que o gol se compra, e concordo muito. O Gabriel tem gol, não à toa é um dos maiores artilheiros desse clube, um dos maiores em finais. hoje vimos uma das melhores versões dele no campo. Mérito dele. Trabalhou, acreditou, obedeceu e escutou em todos os treinamentos. Se dedicou, tratou, fez academia quando tinha que fazer, viu vídeo quando tinha que ver. Não existe sucesso sem trabalho. Trabalhou e hoje colheu os frutos. Acredito que ele ainda tem muito pela frente a oferecer, e não pode parar por aí — disse o técnico, que completou:
— Na minha primeira entrevista, falei que estou agora em um cargo em que ia tomar decisões que iam deixar alguns jogadores incomodados, bravos comigo. Foi isso com o Gabi agora. Uma correção tática no campo, os nervos à flor da pele, os dois querendo o máximo. E aí não tem conversinha, é grito. Era o que acontecia toda semana quando eu era jogador. Agora não vai ser diferente. Não é porque foi meu companheiro que vou tratá-lo diferente. Está resolvido, conversamos no intervalo. Fico feliz pela grande partida que ele fez.
A situação ocorreu após Gabigol retrucar instruções de Gerson sobre posicionamento. Filipe Luís interveio, e o camisa 99 respondeu ao técnico, que reagiu com uma bronca. Pouco depois, Gabigol marcou um belo gol ao driblar o goleiro Everson e, na comemoração, selou a paz ao abraçar Filipe Luís.
- Tu fala comigo só - disse Gabigol ao técnico.
- Você me respeita, seu moleque! Vem aqui - respondeu Filipe.
Em sua análise, Filipe Luís destacou a força do Atlético-MG, afirmando que a vantagem construída não garante o título:
- Foi um grande jogo. Muito difícil. Não é a toa que estamos enfrentando um finalista da Libertadores. Fiquei feliz com o que vi em campo. Para mim, o jogo de volta é como se estivesse 0 a 0. Falar da torcida já é chover no molhado. Eles são um a mais.
Outro destaque da partida, Arrascaeta revelou estar jogando no sacrifício. O uruguaio, autor do primeiro gol do Flamengo, deixou o campo no início do segundo tempo devido a dores no joelho esquerdo. A equipe médica do Flamengo monitorará o meia, que tem sido fundamental para o time, apesar das limitações físicas.
— Desde que cheguei, o Arrascaeta está jogando em pleno sacrifício. Suor e sangue pelo Flamengo, e admiro muito esse tipo de jogador que tolera a dor e vai pro sacrifício, coloca o Flamengo acima de tudo. Um jogador que precisa passar por uma cirurgia e tá aí, deixando o joelho dele em campo. Provavelmente vai pagar o preço em alguns anos, mas coloca o Flamengo acima de tudo. Para mim, é muito louvável.
— Acredito que esse elenco é extremamente qualificado, quanto mais o jogador joga melhor ele fica. Somos seres humanos que somos uma máquina que têm que se adaptar. Esse grupo vem aguentando bem e terminar o jogo exausto é normal. Os dois estão se recuperando e fazendo tudo que têm que fazer para jogar 90.
Confira outras respostas de Filipe Luís após a vitória no primeiro confronto da final da Copa do Brasil:
Recuperação de Gabigol em momento decisivo da temporada:
— Calma, ainda tem 90 minutos. Estamos muito longe do título ainda, posso te garantir isso. Tenho máximo respeito pelo futebol, temos que entender o momento e respeitá-lo. Vocês podem até falar que tá perto, para mim tá muito longe. O Gabi é 9, é o 9 disponível do time para essa final. Tem gol, sabe fazer. Claro que vou insistir na recuperação de um jogador, ninguém esquece como se joga futebol. E para que ele possa oferecer a equipe o que não estamos tendo com a lesão do Pedro, que são gols. O time tem que criar chances para que ele possa marcar, e aí ver a melhor versão do Gabi. Mas o mérito é todo dele. Foram muitos jogos em que ele não viu a recompensa, e isso frustra. Enquanto um jogador tá comigo, nunca vou desistir dele, seja ele quem for. Vaiado, cobrado, criticado, vou tentar recuperá-lo porque por algo ele está aqui. O mesmo que falo do Gabi, falo para os outros.
Erro de Léo Ortiz. Como o zagueiro ficou?
— Normal que um jogador fique abatido com o que aconteceu, mas ele tem que ficar tranquilo porque fez um grande jogo. Tem que ficar com o que fez de bem, isso eu aprendi do tênis. Você tem que se perdoar, esquecer o que aconteceu. Foi uma fatalidade, ele tentou tirar a bola e acabou prendendo ela no pé. Acabou que isso resultou em um gol do Atlético-MG. Mas repito o que falei do Evertton (Araújo) lá em Porto Alegre. Os erros acontecem, às vezes eles são punidos. Mas existem outros que não saíram em gol, como a jogada do Plata no primeiro tempo. Aí, a gente estaria agora crucificando o Plata. Eu não me guio muito por isso, me guio pelo que o jogador fez durante 90 minutos e não uma ação. A mesma tranquilidade que passei para o Evertton, já passei para ele (Léo). Acontece. Não queremos que se repita, é bom que ele fique assim e se cobre. Mas que ele se perdoe.
Sobre as jogadas dos gols, o que é treino e o que é individualidade dos jogadores?
— Temos um plano de jogo sobre o que imaginamos que vai acontecer. O Atlético tem uma defesa muito complicada de entrar, é um time que toma pouco gol. Sabíamos que não ia ser fácil, uma defesa praticamente homem a homem. Passamos algumas soluções e funções para os jogadores, mas quem executa e faz tudo são eles. São os protagonistas do jogo, acabaram aproveitando as chances que tiveram. Hoje fomos mais decisivos e determinantes na área do que o Atlético, mas eles são com certeza um dos times mais incômodos de jogar no Brasil, pela forma de defender homem a homem.
Sequência titular de Evertton Araújo e utilização da base:
— Eu conheço a base como ninguém, passei pelo sub-17, sub-20, comandei o Evertton Araújo no ano passado. Para mim, quando o jogador treina, ele não tem passado, idade, são todos iguais. Estão me demonstrando algo no treino, independente se tem 16 ou 38 anos. Se vejo disciplina tática, não me importa se ele veio da base, se ganha mais ou menos, se tem ou não história. Coloco quem eu acho que é melhor para a equipe. E o Evertton é um jogador extremamente disciplinado. Para essa posição, acho que o número 1 de que precisamos é a disciplina tática dos volantes. E ele tem isso, está onde tem que estar, cobre bem o campo, dá opção de passe quando tem que dar. Vem evoluindo muito no que eu peço.
Questão física do elenco:
— Acredito que esse elenco é extremamente qualificado, e que quanto mais o jogador joga, melhor ele fica. Acredito muito que nós, seres humanos, somos uma máquina de adaptação. E se você se adapta a jogar sempre, você joga sempre. Esse grupo vem evoluindo e aguentando bem o esforço, acabar o jogo exausto é normal. Os dois times com certeza estão fazendo recuperação, se preparando, banheira de gelo, tudo que está no alcance para jogar 90 (minutos). E 90, 90, 90. Se tiver 70 jogos, vão jogar. Não me importa, vai jogar quem está melhor. Penso no momento em tirar o melhor dos jogadores.
Atuação do Plata
— Foi uma escolha tática. Eu não olho nomes e idade, olho características e funções. Não vou acertar sempre, vocês estão aí para julgar, mas vou com as minhas convicções. Plata fez um bom jogo, entendeu perfeitamente o que eu queria dele. Se entendeu bem com o Wesley e o Gerson. Ele tem um 1x1 determinante. Jogador com ritmo do jogo vemos a melhor versão.
Como tem repassado os conhecimentos de lateral a Wesley?
— O Wesley tem características que oferecem muito para a equipe, tanto ofensiva quanto defensivamente, e diferentes do Ayrton Lucas, do Alex Sandro, do Varela. São características que temos que potencializar dependendo do jogo, e dando funções para que ele possa explorar cada vez mais. O Wesley é um descobrimento e uma aposta total do Sampaoli, que tem todo mérito e o fez evoluir muito. Pegou ele da base, deu toda confiança, e hoje o Wesley é o jogador todo que é. Vi o Sampaoli o ensinar, tem muito carinho por ele. Não vejo limites no crescimento do Wesley. Tem todo um nível para um dia jogar num time grande da Europa, estar na Seleção. O que vai depender dele é a cabeça, se vai querer continuar aprendendo e evoluindo. Acredito que ele não vai se acomodar.
Atacantes que atacam o espaço
— Eu não vejo outra forma de futebol que não seja com ataque ao espaço. É o diferencial. Se você tem jogadores assim, você incomoda muito. Para fazer gol, você tem que atacar o espaço. Movimentos de ruptura te deixam mais próximo do gol. O próprio Milito fala isso. Você tem que ter jogadores para atacarem bem o espaço.
Flamengo vai poupar contra o Cruzeiro?
— Não temos grupo para poupar. Temos um Brasileirão pela frente, temos que vencer o Cruzeiro. Já vamos começar a estudar amanhã, os jogadores vão começar a descansar. Uns vão precisar de mais tempo, outros menos. Vamos tentar fazer um grande jogo contra o Cruzeiro porque é o que temos.
Houve um trabalho específico para parar Hulk?
— Hulk e Paulinho são diferentes. A defesa, para mim, foi esplêndida. Com coragem para subir a linha. No segundo tempo, acabamos cedendo alguns metros e acabamos dando mais espaço para o Atlético. No final, acabamos tendo que defender o resultado. Estamos enfrentando uma grande equipe. Finalista da Libertadores, com grande técnico. Nunca vai ser fácil. Vamos tentar de tudo fazer um jogo da mesma forma em Belo Horizonte.
Sistemas
— Na minha opinião, o 3-4-3 do Atlético já tem uma vantagem posicional sobre o nosso 4-4-2. É muito complicado defender ou pressionar. No segundo tempo, ao baixar um pouco as linhas, demos essa vantagem posicional e esse tempo-espaço para os jogadores (do Atlético) poderem criar e causar problemas, tanto no entrelinhas quanto nas laterais. Eles geraram muita superioridade numérica em cima dos nossos jogadores de meio. Isso é muito difícil de você corrigir em cima da hora ou no meio do jogo. O que você pode fazer é colocar peças com mais força física ou igualar a marcação, só que é difícil fazer isso numa final, um sistema que a gente nunca utilizou ou treinou.
— Meu pensamento foi de que poderíamos ter feito, mas que teríamos ido mais para trás ainda, como foi quando o Fabrício entrou. A gente acaba cedendo os metros que o Atlético precisa e defendendo mais. Com melhores jogadores defensivamente, mas com dificuldade de sair dessa pressão. Todos nós assinaríamos um resultado de 3 a 1 antes do jogo. Nós não vamos lá para nos defender. Se for isso, vamos sofrer. Para nós, está 0 a 0. Vamos lá para ganhar o jogo.
Dinâmica ofensiva do time:
— Em função da altura dos jogadores, isso vai determinar muito como acaba a pressão. Como o Atlético individualiza jogadores como Arrascaeta, Gabi, Michael, a altura deles vai determinar também a altura da linha do Atlético. Acaba ficando um time mais espaçado. Como falei, é muito complicado entrar nessa defesa. Ainda mais com as trocas depois, foi um time que melhorou muito.
Gerson quebrando primeira pressão do Atlético:
— Como imaginei que o Atlético vinha defendendo mano a mano, pensei que o Gerson, que perde pouco a bola, nos tira da pressão por uma vantagem qualitativa. Imaginei que ele pudesse ajudar um pouco mais atrás. Não é um jogo tanto de toque de bola, mas de eliminação.