Filipe Luís doa ao Flamengo chuteira que esticou sua carreira e brinca: "Ela dava para jogar mais um aninho"

A chuteira que permitiu que Filipe Luís desfilasse por mais tempo pelos gramados foi escolhida a dedo para homenagear o Flamengo , time do coração. O lateral, que se aposenta em definitivo nesta quarta-feira após o jogo contra o São Paulo, deixou a peça no museu do clube, na Gávea, pouco antes de iniciar a visitação para mergulhar na história rubro-negra.

São 20 anos de carreira, 15 de Europa e quatro e meio realizando o sonho do avô Ivo e daquele menino que nasceu em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. Os primeiros seis meses foram os mais especiais e marcaram a conquista do primeiro título: a Libertadores, em 2019. Quis o destino que o último troféu fosse também o da Libertadores, em 2022, competição que conseguiu disputar graças à chuteira que agora será eternizada no museu do clube.

Filipe Luís entrega a última chuteira para o Flamengo — Foto: Letícia Marques / ge

A idade começou a dar sinais, e os últimos anos de Filipe Luís foram marcados por algumas lesões, principalmente na panturrilha. Foi então que o lateral entrou em sinal de alerta e entendeu que não havia se adaptado aos novos modelos de chuteira. Supersticioso que só, não abriu mão de usar a "antiga" chuteira e admitiu até romper o contrato com a marca esportiva.

- Eu tenho uma longa história com essa chuteira. E meu contrato com uma marca esportiva, que durou muitos anos. Só que eu acabei tendo uns problemas na panturrilha. E eu precisei falar para eles que eu ia jogar com a minha chuteira velha e que, se fosse incomodá-los, eu poderia romper o contrato. Eu jogo com essa chuteira porque me sinto bem com ela. As travas são mais redondas. E eles me falaram que eu não precisava romper o contrato, que era uma prazer para eles e me trataram super bem. A partir daí eu comecei a usar essa chuteira e não tive mais lesões de panturrilha. Acredito que muito pelas travas - disse com exclusividade ao ge e completou:

- Eu resolvi doar a chuteira por isso. É muito especial para mim. A chuteira me acompanhou praticamente nos meus últimos dois anos. Ela nunca rasgou. Eu só usava ela para jogar. Ela ficava bem guardadinha, especial, descansando, sem calor, sem frio, sem nada. Ela só ia para o jogo. Ela participou da final da Libertadores do ano passado, todos os jogos do Brasileirão. Foram para lá de 50 jogos com ela, com certeza. Ela está intacta e é a última chuteira que eu vou usar em um campo profissional. Eu gostaria de deixar no Museu porque ela tem muito valor para mim, mas vai ter mais valor ainda se ela ficar no Museu do Flamengo . A partir de agora vai ser tudo chuteira de treinador (risos). Eu espero que as pessoas não só passem (pela chuteira). Eu gostaria muito que elas parassem, olhassem e falassem "pô, legal, essa chuteira aí o Filipe Luís usou'. Seria muito especial para mim - antes de continuar:

- Essa chuteira durou. Ela ainda é com o formato do meu pé, foi feita sob medida. Só tem um pontinho aqui e outro ali, mas nada demais. Ela durou. Ela dava para jogar mais um aninho aí ainda, ein? (risos) Dava para jogar ein. As travas são redondinhas, as novas são triangulares - encerrou.

Filipe presenteou o Museu do Flamengo não somente com a chuteira. A camisa utilizada no jogo contra o Cuiabá, que marcou a despedida do Maracanã, também ficará exposta no local. As homenagens no último domingo trouxeram à tona a raiz rubro-negra do lateral: o avó Ivo, que estampou o bandeirão erguido no Setor Norte. Se o amor já estava implantado pelo avô, uma carteira dada pelo tio Pedro foi o que intensificou a paixão.

Filipe Luís exibe camisa doada para o Museu Flamengo — Foto: Letícia Marques / ge

- A verdade é que meu tio me deu uma carteira com o escudo do Flamengo . Eu achei o escudo tão lindo, aquela cor vermelha e tal. Meu pai é santista e fã número um do Pelé. A vida dele foi atrás do futebol e do Pelé, mas aquele escudo me cativou. E eu não pude mais resistir aquilo. E foi assim que eu me tornei flamenguista, basicamente por isso - revelou o lateral.

O amor pelo clube foi sendo nutrido de longe enquanto se consolidava na Europa. Foram quase oito temporada no Atlético de Madrid, uma temporada no Chelsea, além das passagens pelo Ajax, Real Madrid Castilla e La Coruña. A Espanha se tornou casa até Marcos Braz (vice-presidente de futebol) e Bruno Spindel (diretor executivo) irem buscá-lo.

- O Atlético foi aonde eu vi que fazer história num lugar é muito melhor que pingar de galho em galho, do que ganhar um título aqui e outro ali. Melhor criar raízes no lugar e fazer história. E foi onde eu decidir vir para o Flamengo . Não foi fácil voltar para o Brasil, foi uma decisão muito difícil também pelo Flamengo ser meu clube do coração. Voltar é um risco muito grande até mesmo de você perder o carinho pelo clube que você ama, né? Se você chega aqui e dá tudo errado? Você é criticado e acaba perdendo o carinho. Mas eu acho que foi aqui que vivi os anos mais felizes da minha vida. Não dá para dizer que não valeu a pena os últimos quatro anos. Se eu tivesse jogado só os últimos quatro anos e meio da minha carreira já teria sido uma carreira fantástica.

Filipe Luís e a família visitam Museu Flamengo na Gávea — Foto: Letícia Marques / ge

A chegada ao Flamengo, em julho de 2019 , já o deu a credencial como titular, tirando a vaga de Renê, quem viria a se tornar um dos melhores amigos de Filipe. O número 16 foi escolhido ao acaso depois de uma brincadeira com Renê e acabou sendo o número que o lateral escreveu o nome na história rubro-negra.

- Eu nunca liguei muito para número. Assim, eu tenho muitas manias, mas número nunca foi uma delas. O Renê era o número 6, e os caras começaram a brincar com ele "O Filipe vai querer a 6" e ele respondia "Ou a 6 ou a titularidade, as duas coisas eu não vou dar. Ele escolhe". (risos). O Renê virou um dos meus melhores amigos aqui, senão o melhor. Ele é um cara sensacional.

- Ele vinha de ser o melhor lateral do campeonato em 2018 e perdeu a vaga para mim, talvez até de forma injusta. Porque eu simplesmente cheguei e ganhei um lugar no time. E ele nunca deixou de me apoiar em cada momento, ele me falava como cada um jogava para eu poder marcar. Ele foi um dos melhores companheiros que eu tive na carreira. Peguei a 16 porque tinha a 16, a 21, me ofereceram também a 33 por causa do Atlético. Mas eu escolhi a 16.

Filipe Luís em entrevista ao ge no Museu Flamengo — Foto: Letícia Marques / ge

O número ficou marcado, o futebol apresentado será lembrado e as conquistas jamais serão esquecidas, assim como uma atitude de Filipe que mudou o dia a dia do clube. Por ter sido flagrado afirmando "que não se pisa no escudo do Flamengo ", o clube resolveu tirar o emblema do chão do vestiário rubro-negro do Maracanã.

- Eu não gosto de pisar no escudo até mesmo lá no CT, que tem alguns tapetes assim. Nos outros clubes eu tinha cuidado com os símbolos e eu fui desenvolvendo isso. Não era muito comum ter o escudo no chão em nenhum lugar. Eu não me lembro. Na Europa eles dão muito valor a isso. Ninguém pisa, eles até protegem. Então, para mim, foi natural. Eu cuidei muito do escudo do Atlético. Foi natural com o escudo do Flamengo . Todo mundo pisando me incomodou muito no começo.

A despedida do Maracanã foi contra o Cuiabá, mas o último jogo que Filipe Luís será relacionado como jogador será contra o São Paulo, na quarta-feira, no Morumbi. O duelo é válido pela última rodada do Brasileirão e o Rubro-Negro ainda precisa se classificar diretamente para Libertadores.

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Fonte: Globo Esporte