Campeão com apenas nove jogos no Flamengo , Filipe Luís dividiu os méritos da quinta conquista da Copa do Brasil - com duas vitórias na final contra o Atlético-MG, a segunda, por 1 a 0 - gol de Plata -, neste domingo, na Arena MRV, em Belo Horizonte.
Ex-lateral do clube, o jovem treinador de 39 anos agradeceu o trabalho de Tite, demitido após eliminação na Libertadores para o Peñarol nas semifinais, citou o incêndio no Ninho do Urubu em 2019 que matou dez meninos e elogiou o poder do Flamengo . O treinador agradeceu a confiança da diretoria e disse que "tem uma máquina na mão".
- Queria mencionar o Tite que me deixou na semifinal da Copa do Brasil, que fez um trabalho, ao meu ver, excelente, porque eu trabalhei com ele, eu sei o bom treinador que ele é e queria agradecer a ele. Depois, quero fazer uma menção especial a uma sensação que eu tenho dentro de mim e eu preciso falar que são os Garotos do Ninho, porque eu não estava aqui quando aconteceu tudo. Mas queria mandar um abraço para a família de todos eles, porque eu tenho uma conexão muito forte com eles, eu não sei porquê, mas existe um memorial lá no Ninho, no CT, e não foi por acaso. Eu comecei no sub-17, no sub-20. Parece que eu tenho eles muito presentes comigo, mesmo eu não estando aqui na época e não conhecendo nenhum deles, conheço alguns familiares. Então eu queria só deixar isso registrado porque eu sinto que eles são parte de mim - disse Filope Luís.
Campeão da Copa Rio sub-17 e do Intercontinental sub-20 neste ano, o ex-lateral aproveitou para agradecer a confiança da diretoria do Flamengo .
- A sensação é maravilhosa. Até agradeço ao Braz, porque, como eu falei, ao presidente, porque me deram uma máquina na minha mão. Um time que é uma máquina. Melhor elenco da América do Sul. Um elenco que pode bater de frente com alguns times da Europa. E eu estou liderando esse grupo de jogadores que são fantásticos.
- Um grupo que não tem vaidade, um grupo que não tem ego. O pessoal que saiu do banco foi o que melhorou o time, o que resolveu. E só se faz um time campeão com um elenco altamente qualificado. E isso falando de todas os desfalques também que temos. Mas como o grupo e as contratações foram tão boas, e a janela de contratação foi tão excelente, o grupo não perde o nível. Então eu tô muito feliz por toda essa trajetória. E feliz de ser campeão do lado dos jogadores que foram meus companheiros.
O Flamengo conquistou, pela quinta vez, a Copa do Brasil - antes, venceu em 1990, 2006, 2013 e 2022. O clube carioca se igualou ao Grêmio na lista de equipes que mais vezes venceram a competição - o Cruzeiro tem seis títulos e é o maior campeão.
O time carioca venceu a primeira partida por 3 a 1 e tinha boa vantagem na Arena MRV, saindo com outra vitória no jogo de volta neste domingo, em Belo Horizonte. Filipe Luís comentou também a precocidade de levantar taça com tão poucas partidas no comando do Flamengo :
- Ser campeão com nove jogos, né (risos). Isso quer dizer que alguém me deixou com essa possibilidade de quatro jogos da Copa do Brasil para ser campeão. E que quatro jogos! E também antes, foi o Palmeiras, um jogo superdifícil com o Tite. Então esse grupo, com esses jogadores, foi que levou o time até esse troféu muito bonito e muito especial para o clube.
- Eu não tiro o meu mérito também, porque a eliminatória contra o Corinthians foi muito dura, foi muito difícil. E quando eu parei para analisar o Corinthians, eu achei que a gente fosse sofrer muito, porque tem grandes jogadores. É um time que está com muita fome de vitória, você vê que o grupo está muito fechado, muito qualificado, chegaram jogadores novos, sangue novo, e é muito difícil. E foi, todos vocês viram o quanto foi difícil eliminar o Corinthians nessa eliminatória. E o Atlético, quando você para, pega a análise do Atlético e você analisa esse time, e as variações táticas que tem, as soluções que tem, jogadores, você entende quão difícil foi essa final. Essa final foi super complicada, muito difícil. Isso valoriza ainda mais a nossa vitória, a vitória dos jogadores, o esforço que eles fizeram. Tivemos que correr muito para conseguir esse troféu tão importante para a gente. Então, assim, eu estou feliz porque aconteceu exatamente quase tudo que a gente tinha planejado. E esse é o trabalho do treinador, mas na final das contas, dentro do campo, os protagonistas são os jogadores que realmente fizeram a diferença hoje.
- Eu tenho um objetivo claro na minha vida, na minha carreira, eu sei onde eu quero chegar e sei o processo que eu tenho que fazer para chegar até lá. E aí é muito trabalho, são muitas horas. Falei para os jogadores, eu e o Milito a gente pode ter empatado em hora de trabalho, mas, mais (do que eu), com certeza não. Porque esse lado aqui é um lugar que eu tenho que ir para o próximo jogo. É um sacrifício muito grande, todos os treinadores que estão me ouvindo vão saber o que eu estou falando. Eu não sabia que eram tantas horas, mas é o caminho que eu escolhi, a paixão que eu tenho, eu sou apaixonado para o futebol. Hoje vocês falam de Filipe campeão, mas na verdade eu vou crescer e vou evoluir muito ainda porque eu tenho muito aprendizado. E essa semana de preparo com esse jogo tão complexo me fez evoluir e crescer.
- Eu esperava que ele (Milito, técnico do Atlético-MG) viesse com um 3-4-3, mas ele veio com um 3-5-2, e ficou mais difícil de pressionar. Para mim, é mais difícil pressionar o 3-4-3, quando ele veio com o 3-5-2, na teoria, eu achei que fosse ser melhor pra gente, mas resultou que a saída de bola que ele teve e as soluções táticas que o Milito colocou dentro do Atlético causaram muitas dificuldades pra gente. Confundiu muito tanto o Gerson e o Wesley desse lado, porqu o Arana descia muito, ficava longe pro Wesley saltar. Ele estava com um jogador nas costas e dois atacantes, com os dois zagueiros, então foi muito complicado pra gente balançar e o campo ficou muito grande pros laterais. Porque o Milito dá muita amplitude no time dele, então realmente, não conseguimos tirar a bola. E eles tiveram volume. E confesso que eu gostaria de ter o volume que eles tiveram. Eu preparei tudo para ter o volume que o Atlético teve. O Atlético correu riscos enormes na fase defensiva porque eles pressionaram mano a mano. Esse risco eu não quis correr. Foi uma escolha minha. Primeiro pelo resultado. Sabendo da velocidade do Paulinho, da qualidade do Hulk e do Zaracho, principalmente, do Scarpa e do Arana. Então eu preferi não pressionar também mano a mano para poder ter uma sobra mais atrás. Isso dificultou mais a pressão nossa e acabou que nos empurraram. Mas ainda assim, os jogadores, como são fisicamente tão fortes, conseguiram solucionar muitas vezes os problemas que tivemos no primeiro tempo. E depois no segundo tempo, colocando o Fabrício, o time já teve mais amplitude. Os laterais conseguiram soltar com mais facilidade e a gente conseguiu ter mais controle. Não conseguimos ter a bola, porque como eu falei, o Atlético pressiona mano a mano e o risco é deles, não era nosso porque a gente tinha o resultado a favor. É uma escolha também dentro do campo, ela acaba acontecendo, o jogador sente e o que não compensa o risco, acaba fazendo o jogo mais direto. E foi assim, tivemos muitas chances para fazer gol, perdemos muitos gols, mas conseguimos vencer o jogo e, principalmente, ser campeão, que é o que realmente importa tanto ele como eu, tanto o Milito como eu. Nós queríamos o troféu e não queríamos ser o campeão da posse de bola. A gente queria ganhar o título que acabou vindo pra gente e eu fico fico muito feliz.
- Sinceramente, não sei se o Gabigol vai sair, como ele falou, ele afirmou que ele vai sair, que merece sair por cima, sendo o verdadeiro protagonista dessa grande decisão,participou do primeiro gol, depois fez outro dois gols e nos deu a vantagem de chegar nesse estádio tão difícil com um resultado confortável. Como eu falei, é um jogador grande, é um jogador da história, uma lenda do clube, é um ídolo eterno do clube e por mais que aconteceram algumas coisas durante essa trajetória, não vão apagar a história, tudo o que ele fez pelo clube. É um cara decisivo, é um cara que foi muito importante para a gente, primeiro como companheiro agora como jogador, e que ele possa sair por cima e com uma despedida fabulosa. Ele merece. É um menino que cresceu, evoluiu como jogador, evoluiu como pessoa e sai daqui um homem, um homem, um ídolo, e está eternizado no Museu do Flamengo pra conferir a eternidade. Então, é um privilégio.
- A minha dúvida essa semana não foi o Michael, a minha dúvida essa semana foi o Fabrício (Bruno). Porque eu não sabia o sistema que o Milito ia utilizar, 3-4-3 ou 3-5-2, que ele vinha jogando e que ele jogou algumas vezes no começo do ano, e a minha dúvida era o Fabrício. Acabei optando por ter um 4-4-2 para atacar, para ser ofensivo e para ir ganhar o jogo. Porque a minha mensagem é de que a gente não vinha aqui defender o resultado. Então talvez não sei se eu tivesse começado com os três, a gente teria sofrido menos, não sei. Futebol é muito fácil falar depois, mas era minha única dúvida. O Michael fez um jogo incrível no primeiro jogo da final, o Bruno Henrique também vinha muito bem, o Bruno tem a possibilidade de jogar de nove, então eu optei pelo Michael e optei pela opção do Bruno para o segundo tempo, porque eu imaginei justamente um jogo onde a gente conseguisse fazer um gol, aguentar. A entrada do Bruno ia potencializar mais o time, e sempre que o Bruno começa de titular e tem que tirar o Bruno, eu acho que o time ia cair o nível. Então eu pensei um pouco no segundo tempo, por isso que eu não comecei com o Bruno. Mas, não precisa nem falar que o Bruno é o Bruno, e que é um cara que tenho um carinho tremendo e que não tem a dúvida que é um jogador gigante e vai jogar muitas vezes comigo.
- Vou tentar explicar tudo com calma. Hoje o Milito demonstrou para o Brasil que três zagueiros não é um sistema defensivo. Ao contrário, é um sistema muito ofensivo. Eu quebrei muito a cabeça durante a semana para saber como pressionar esse sistema para não deixar eles jogarem, para a gente tentar ficar com a bola. Mas é uma combinação muito difícil. Ainda por cima ele veio num 3-5-2, eu esperava que ele viesse num 3-4-3. Isso confundiu mais ainda os jogadores, não conseguimos nos adaptar no primeiro tempo a essa pressão. Não encaixou. Eu sabia qual era a solução do banco, porém requeria uma troca muito forte para fazer no primeiro tempo, então eu segurei para fazer no segundo tempo. Como falei, foi uma aula de jogo posicional, de como se sai de pressão. O time do Atlético é um time muito forte, não é à toa que é finalista da Libertadores. Mas o time aguentou bem, os jogadores fizeram um esforço extraordinário, correram mais do que podiam. Estavam do meu lado, eu vi a exaustão do Gerson, do Arrasca, do Michael, dos volantes. Todos eles correram muito. E conseguimos aguentar bem o primeiro tempo. Depois da entrada do Bruno e principalmente do Fabrício, o time teve estabilidade e conseguiu se manter firme. Não conseguimos tirar a bola do Atlético até pelo fato de jogar fora de casa, pelo resultado a favor. Mas, sim, fomos mais letais e mais seguro defensivamente. Essa foi a estratégia pré e pós-partida, mas obviamente enfrentei um treinador que me deu muita dor de cabeça.
- Todo mundo sabe a grandeza que ele tem. Falei na outra entrevista sobre ele, ele é um jogador que faz com que o jogador seja melhor. Porque às vezes você prepara cinco soluções para a saída de bola, e o David acha a que nenhum treinador tem, que é a solução individual dele. É um jogador supertalentoso e que está no mesmo processo que eu estava no ano passado. Não dizendo que ele vai parar, mas ele está num final de carreira. Não sei se são um, dois, três, cinco anos, mas você tem que se reinventar. E o David, o principal dele, é que ele quer ajudar o treinador, os jogadores jovens. Ele quer ajudar de alguma forma. Seja dentro de campo, seja fora, como hoje. Do banco, ele me deu alguns toques que foram importantes para entender o sentimento. O David é outro ídolo histórico desse clube, campeão de tudo. E que tem todo nosso carinho. Vou fazer de tudo para ele e para todos os jogadores para que, até o momento que ele ficar, eu dar a minha vida por ele da mesma maneira que ele dá pelo Flamengo .
- Eu posso me denominar um treinador sem memória. Não tenho museu em casa, não tenho lugar para memórias. Gosto de apagar e ir para o próximo. E os jogadores que quiserem vir comigo vão entender que eu sou agradecido, gratidão pelo que aconteceu até agora, mas ficou para trás. Eu sou um treinador de momento, eu vejo o que está acontecendo no momento e as minhas escolhas são todas pelo que eu estou vendo no momento. Eu repito: não importa se tem 16 anos ou se tem 42. Vão jogar os que estão melhores. Isso cria uma concorrência interna muito grande, eleva o nível deles e consequentemente da equipe. Eu não negocio o esforço, não negocio a competitividade. Vai depender dos jogadores que queiram continuar competindo e continuar crescendo ou se vão perder a ambição. Esse grupo de jogadores que eu conheço tenho certeza que não vão perder a ambição. Vão jogar da mesma forma competitiva com que jogaram até agora.
- Não sei. Eu só penso em quarta-feira agora, no próximo jogo (risos). Eu tenho um objetivo claro na minha vida, na minha carreira. Eu sei onde eu quero chegar e sei o processo que eu tenho que fazer para chegar lá. É muito trabalho, são muitas horas. Falei para os jogadores: eu e o Milito podemos ter empatado em hora de trabalho. A mais, não. Com certeza, não. Esse lado aqui é um sacrifício muito grande. Todos os treinadores que estão me ouvindo vão saber o que eu estou falando. Eu não sabia que eram tantas horas, mas é o caminho que eu escolhi, é a paixão que eu tenho. Sou apaixonado pelo futebol. Hoje vocês falam de Filipe campeão, mas na verdade eu ainda vou crescer e evoluir muito ainda porque eu tenho muito a aprender. Essa semana de preparo para o jogo que foi tão complexa me fez evoluir, me fez crescer e me fez aprender. E eu vou cada vez me tornando um treinador melhor. Então esse é o meu objetivo.
- A primeira mensagem que eu respondi (depois do título) foi do Simeone. Foi muito especial para mim porque ele foi o cara que me fez ter esse sonho. Me despertou esse interesse em ser treinador porque ele, como eu já falei, em muitas outras entrevistas, mudou minha vida. Mas, sobre a repercussão internacional e nacional, repito o que eu falei na outra coletiva. Eu amo a pressão. Eu me sinto bem em pressão. É incômodo, você não dorme direito, mas eu gosto. Eu fico incomodado quando eu não tenho essa pressão. Vai ser só títulos? Claro que não. Claro que a gente não vai ganhar sempre. A gente vai perder. Eu vou estar aqui nessa coletiva triste, abatido e enfrentando perguntas duras e críticas de vocês para o meu trabalho. Mas é o caminho que eu escolhi e eu estou preparado pra isso. Eu quero isso. Continuar tentando ter esses elogios, essa repercussão, eu tenho que continuar trabalhando e meu próximo objetivo agora é ganhar quarta-feira, então não tem outro caminho se não trabalho, trabalho, ganhar, ganhar, ganhar e é o único jeito, então é isso.
- Para ser sincero, sim. Porque quando eu aceitei vir para o Flamengo , foi porque me ofereceram a oportunidade de ganhar títulos. Se o Flamengo não me desse essa oportunidade de conquistar títulos, por mais que eu seja flamenguista, eu com certeza não teria vindo. Eles me deram essa possibilidade: um elenco altamente qualificado, com possibilidades de lutar por título todos os anos. Eu fiz parte desse processo, da reconstrução do clube, dessa conquista. E agora como técnico foi também porque o clube, o Bruno (Spindel, diretor) e o Braz (vice de futebol) quando foram lá para Madri, a gente apertou a mão e eles falaram: "A gente vai te ajudar nesse sonho, que é ser técnico". Eles me ajudaram, abriram as portas do clube da base, do sub-17, do sub-20. Não tiveram dúvidas em me chamar para o profissional. Mas como falei antes, ficou para trás. Agora quero mais, vamos para o próximo.
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