Ferrugens, placar retrô e pipa: à antiga, Edson Passos passa longe do desastre

Em um início de 2016 sem estádios modernos, com Maracanã e Engenhão emprestados ao comitê olímpico, o futebol carioca larga com certo romantismo. A pipa que caiu no campo no primeiro tempo da partida entre Flamengo e Boavista, no último sábado, é um resumo da simplicidade de Edson Passos, estádio do América, em Mesquita, casa do Rubro-Negro no início da temporada. Lá as estruturas são enferrujadas, o placar eletrônico é “retrô” - foi retirado do Maracanã e colocado no Giulitte Coutinho após a reforma de 2007 para o Pan -, o alto falante tem chiado, e a arquibancada é tão próxima do gramado que a torcida se sente como assistisse a uma pelada de amigos. Nesse clima, o "risco de desastre" alegado pela prefeitura local para interditar o palco da estreia rubro-negra na sexta-feira foi reduzido a zero.

Flamengo x Boavista, Edson Passos (Foto: André Durão/GloboEsporte.com) A estrutura de Edson Passos é inegavelmente antiga, mas suportou bem (Foto: André Durão/GloboEsporte.com)

Quando Paulo Victor tentava, sem sucesso, chamar a atenção do técnico Muricy Ramalho, no começo do jogo, quem alertou o treinador foram os torcedores próximos do banco de reservas.

- Olha lá o "PV" te chamando. Tá ficando velho e surdo! – brincou um deles.

O goleiro se queixava da iluminação do estádio, que até o momento não tinha acendido. Segundos depois, os refletores foram ligados. O que incomodava antes era o alto falante. Quem reclamava, no entanto, era a própria torcida, que não conseguia ouvir as escalações.

Flanelinhas dificultam acesso à Rua Cosmorama, onde ficam os portões 3 e 4 do estádio (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com) Flanelinhas dificultam acesso à Rua Cosmorama, onde ficam os portões 3 e 4 do estádio (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com)

A localização do estádio também não é das melhores. Dá para chegar em Mesquita por Dutra e Via Light, mas o caminho até o estádio, dentro do município, é cheio de ruas estreitas. O engarrafamento é inevitável. Quem agradece são os muitos flanelinhas, que têm tempo de ir bem perto de cada automóvel para explicar que “mais na frente não tem vaga”. A estação de trem, em contrapartida, perto do estádio facilita para quem faz opção por transporte público.

Apesar disso tudo, o Edson Passos não aparentou estar “à beira de um desastre”. A estrutura lembra a de outros estádios do Rio, como Cláudio Moacyr (Macaé) e Raulino de Oliveira (Volta Redonda), este um pouco mais moderno. Em relatório divulgado na última semana pelo Ministério do Esporte, a classificação é boa.

O estilo à moda antiga dá tom nostálgico aos experientes torcedores. E gera estranhamento nos mais jovens. Um garoto debochava com os amigos, logo após o gol do Flamengo, marcado por Guerrero, da animação antiquada no placar eletrônico.

Alguns torcedores aproveitavam a configuração diferente do Edson Passos para assistir ao jogo de lugares estratégicos. Enquanto famílias hasteavam a bandeira rubro-negra nas varandas do prédio em frente ao campo, outros flamenguistas fincavam pé na escadaria de acesso à arquibancada.

A sombra e o copo à mão aliviaram o calor de um rubro-negro (Foto: GloboEsporte.com) A sombra e o copo à mão aliviaram o calor de um rubro-negro (Foto: GloboEsporte.com)

- Calma, aqui tá bom. Sombra, cerveja perto... Vou entrar para que? – argumentou um deles ao filho que estava com pressa.

GRAMADO RUIM

Muricy Ramalho reclamou muito do gramado na coletiva de imprensa, após o empate em 1 a 1 com o Boavista. O técnico rubro-negro acredita que o futebol da equipe foi prejudicado pelas más condições.

- A bola agarrava demais, o futebol era muito lento, o que não combina com o jogo atual. Tinha muita areia, também. Vamos tentar diminuir a grama um pouco mais para o dia 27 (próximo jogo do Flamengo no estádio, contra o Resende). Não quero falar muito, porque fica muito como desculpa, mas deixou um pouco a desejar.

Willian Arão também não quis dar desculpas, mas também se queixou da grama:

- Nós jogamos as últimas três partidas em campos bons. E, como fomos a campo na quarta, não conseguimos treinar nesse gramado aqui, que é muito pesado.

*Estagiário, sob supervisão de Fred Gomes


Fonte: Globo Esporte